domingo, 27 de fevereiro de 2011

A falta que ama (Drummond)


Entre areia, sol e grama
o que se esquiva se dá,
enquanto a falta que ama
procura alguém que não há.

Está coberto de terra,
forrado de esquecimento.
Onde a vista mais se aferra,
a dália é toda cimento.

A transparência da hora
corrói ângulos obscuros:
cantiga que não implora
nem ri, patinando muros.

Já nem se escuta a poeira
que o gesto espalha no chão.
A vida conta-se inteira,
em letras de conclusão.

Por que é que revoa à toa
o pensamento, na luz?
E por que nunca se escoa
o tempo, chaga sem pus?

O inseto petrificado
na concha ardente do dia
une o tédio do passado
a uma futura energia.

No solo vira semente?
Vai tudo recomeçar?
É falta ou ele que sente
o sonho do verbo amar?


(Carlos Drummond de Andrade)

5 comentários:

  1. perfeito Carlos Drummond...
    belo post..
    amei amei.

    bom domingo pra ti

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  2. Vanessa,
    Que falta faz amar! Amo Drummond, amo vir aqui, moça do sul que brilha seu oiro pelo Rio...

    Abraço sudeste,
    Pedro Ramúcio.

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  3. Adoro ver poesia aqui, mana.


    enquanto a saudade procura alguém que não chega.

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  4. Bah, Drummond é show!
    [É falta ou ele que sente o sonho do verbo amar?]2

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  5. É falta que ele sente para poder amar...

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