terça-feira, 30 de novembro de 2010

o que fica


"E a vida é sempre mais importante do que a arte. Mas a arte é o que permanece".

(Memória Inventada, Erica Jong, p. 183)

espectro da despedida



“(...) separar-se do ser amado é o maior medo do amante, e muitos fariam qualquer coisa para se livrarem de uma vez por todas do espectro da despedida".

(O amor líquido, Zygmunt Bauman)

E agora, Caio F.? Agora, estou amanhecendo.


"(...) Aí, desabou. Dez dias. De manhã bem cedo, chegando da vida, percebi uma pequena rachadura na parede externa do edifício. Avançava lentissimamente. Ao meio-dia rachou de alto a baixo. O edifício veio ao chão: me interna, pedi pra mãe, estou infeliz pra caralho. Peguei o pacote de cartas que tinha pedido de volta (fiz absolutamente todos os números, o problema é que a platéia estava vazia: ninguém aplaudiu minha melhor sequência de sapateado), coloquei aos pés de Ogum.
E agora, Caio F.? Agora, estou amanhecendo. Ah, me digo, então era assim. Essa coisa, o amor. Já conheço? Já conheço. Mas como é mesmo que se chama? Também não estou certo se estarei mesmo amanhecendo. Talvez, sim, anoitecendo, essas luzes penumbrosas são muito parecidas. Não sei muita coisa. Quase nada. Pedi? Levei. Nunca tinha sido tão intenso, nem tão bonito. Nunca tinha tido um jeito assim, tão forever. Não me diga que vai passar, vai passar, vai passar, vai passar. Não me diga que foi ótimo, o que você queria, a eternidade? Não me peça para não te encher o saco lamuriando".

*Do fundo do coração, ou Love, Love, Love - texto de Caio Fernando Abreu na revista Around, publicado por volta de 1985. Retirado do livro “Para sempre teu, Caio F.”, de Paula Dip.

Invenção na escrita



"Quando sonhamos, inventamos nossas memórias, e isso também é verdade quando escrevemos".

(Memória Inventada, Erica Jong, p. 283)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Exigimos - Carpinejar


"Exigimos muito de quem amamos. Vejo sinceramente que exigimos aquilo que não exigimos nem da gente.
(...) Uma pausa em silêncio para remontar as idéias e já estamos sendo inquiridos pela estranheza. Repetir mais de uma vez um nome feminino e inauguramos uma adversária. Não ouse dormir cedo ou aparecer tarde, que é certo de que não valoriza o convívio e aproveita a vida com os amigos".

(Crônica: Afiado demais - de: Mulher Perdigueira, Carpinejar, Ed. Bertrand Brasil, p. 117-118)

é ela que me faz escrever




"Não, não posso. Se não sangra, a minha escrita não existe. Se não rasga o corpo, tampouco existe. Insisto na dor, pois é ela que me faz escrever. [Mas por que não tenta? Se não pode escrever sem dor, ao menos escreva sem peso, sem culpa. Tire o cimento dos ombros. Seja leve, escreva palavras leves.] Não sei. Vacilo, não tenho certeza se é esse o caminho, mas prometo: tentarei".

(A chave da casa, Tatiana Salem Levy, Ed. Record, P. 69)

domingo, 28 de novembro de 2010

A fechar os olhos (...) sobre o tempo


"Cláudia fecha os olhos e vê-se uma vez mais nos braços dele. Quantos homens a amaram com eficácia e surpresa e originalidade, depois? Todos. Um cardápio de homens dignos dos padrões de qualquer revista, atléticos, simpáticos, sensíveis. E Cláudia a fechar os olhos para encontrar o rosto de Dinis sobre o tempo".

(A instrução dos amantes, Inês Pedrosa, p.163)

Perder-se sim, exige todo um despojamento


“Um dia Lúcia contara a Leo sua aterrorizante experiência em Paris.
- Do que é que você tinha medo? Leo perguntou.
- De me perder.
- Encontrar o caminho numa cidade não é difícil, sempre se pode perguntar a alguém a direção. Perder-se sim, exige todo um despojamento e sabedoria.
- Você está falando de destemor?
- Não – respondeu Leo. – Quando a gente se perde em alguma coisa, cidade, amor, ideologia, de certo modo está procurando se encontrar.
- Nem todo mundo que se perde consegue se encontrar – disse Lúcia, pensando na mulher que fora para a Itália e ficara impedida de voltar por causa da guerra.
- Às vezes eu penso: se fosse possível me perder por uma boa causa, como viver completamente um amor, do princípio ao fim, talvez descobrisse uma face surpreendente de mim. Como seria essa face. Mais feliz?”

(Aos meus amigos, Maria Adelaide Amaral, Ed. Siciliano, p. 240)

de quantos se/ se faz essa história - Leminski


Carta pluma

"A uma carta pluma
só se responde
com alguma resposta nenhuma
algo assim como se a onda
não acabasse em espuma
assim algo como se amar
fosse mais do que a bruma

uma coisa assim complexa
como se um dia de chuva
fosse uma sombrinha aberta
como se, ai, como se,
de quantos se
se faz essa história
que se chama eu e você".

(Paulo Leminski)

sábado, 27 de novembro de 2010

Lembranças insistentes


"Cheiros, pensou ela. Por que será que cheiros disparam lembranças de forma tão insistente?"

(Pára-quedas & Beijos, Erica Jong, p. 31)

As formas da felicidade


Para ouvir

Setas indicando direções internas


"Seria possível pedir a ele que me desse um roteiro, como um guia turístico de si mesmo?
Um manual. Que frase adequada dizer em cada situação. A cor da festa e a cor do luto. Setas indicando direções. As consequências da guerra interna. As prerrogativas do poder".

(Rakushisha, Adriana Lisboa, p. 47, Ed. Rocco)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Mas o dia seguinte e o seguinte e o seguinte ao seguinte



"Eu raspava a minha alma em busca de energia, determinação, coragem, paciência e outros sentimentos honrosos. Outros sentimentos-contingência, desses que compõem o tutato dos heróis.
Mas o dia seguinte e o seguinte e o seguinte ao seguinte e o seguinte ao seguinte ao seguinte ainda tinham o que dizer, antes que o resto da minha vida (...) começasse".

(Azul-corvo, Adriana Lisboa, Ed. Rocco, p. 131)

havia apenas uma coisa pior do que Caio F. apaixonado: era ele estar sem uma paixão


"(...) havia apenas uma coisa pior do que Caio apaixonado: era ele estar sem uma paixão. Nunca vi alguém tão dedicado à arte do encontro, tão desejoso de uma relação. E tão incapaz de mantê-la".

(DIP, Paula. Para sempre teu, Caio F. Rio de Janeiro, p. 221, Record, 2009)

em suspenso


"Entretanto, ela vivia com o coração suspenso, à espera de alguma coisa".

(A luz no subsolo, Lúcio Cardoso, p. 123, Ed. Expressão e Cultura)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

- Você lê muito, não lê?

" SÉRGIO - Você lê muito, não lê?
LUÍSA - Muito...
SÉRGIO - Por quê?
LUÍSA - Porque a ficção é sempre mais interessante que a realidade.
SÉRGIO - Mesmo esta realidade?
LUÍSA - Esta realidade já, já, vai virar abóbora. É quase meia-noite, e eu preciso voar".

(Teatro Completo - Maria Adelaide Amaral, peça: De braços abertos, p. 191, Ed. Global)

Resultado do décimo sorteio de livros


Quem levou o

"A fonte não precisa perguntar pelo caminho"
Autor: Bert Hellinger
Editora: ATMAN

foi a Lívia Azzi.

Próximos sorteios seguem em 2011 - pois eu estou enrolada demais com os trabalhos do mestrado para enfrentar fila na agência dos Correios.

que dói mais do que a palavra dor


Para ouvir

"Nenhuma palavra dói mais do que a ausência de palavras. Você não é tolo e sabe muito bem disso. Você me impunha um silêncio devastador. Sumia, não dava notícias, fazia de propósito, queria me ver chegar perto da morte, paralisada, sem forças. Eu esperava o telefone tocar, ele não tocava. (...) Esperava o apito do meu computador avisando a chegada de um novo e-mail, ele não apitava. Esperava uma carta, um sinal de fumaça, uma mensagem no celular, esperava que você aparecesse e trouxesse consigo alguma palavra. Esperava e esperava e esperava. E você não vinha. Você me deixava a sós com esse silêncio que dói mais do que um grito arranhado, do que um corte profundo na carne, que dói mais do que a palavra dor".

(A chave da casa, Tatiana Salem Levy, Ed. Record, P. 139)

Ela se escrevia.



"(...) como é possível que com Teresa eu tenha descoberto a beleza das pequenas coisas, e ao mesmo tempo compreendido que certas existências precisam galgar o grandioso, precisam de superlativos? Se a vida imita a arte, que imita a vida, que imita a arte, Teresa era uma personagem de Teresa. Ela se escrevia. A vida de Teresa era o romance da vida de Teresa".

(Um beijo de colombina, Adriana Lisboa, p. 62. Ed. Rocco)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

sempre e sempre, esperando que


"LUÍSA - Teria sido preferível que você partisse para a legião estrangeira depois daquele encontro... ah, teria sido o perfeito: um homem que me dava o maravilhoso e depois ia embora, sem tempo para me magoar, sem tempo de matar o sonho... nunca mais foi assim, nunca mais aquele encontro das primeiras descobertas... eu sabia que ia ser diferente da próxima vez, quando me despedi de você... mas, inevitavelmente, eu iria me encontrar com você e voltar, sempre e sempre, esperando que se repetissem a leveza e a entrega do primeiro encontro... mas isso parecia irrecuperável... não, você não era o Gary Cooper, nem nenhum daqueles galãs gentis do tempo da minha mãe... não, você não iria para a legião estrangeira, nem para a China, nem para nenhum lugar distante... eu teria que te ver todos os dias e, dia a dia, me entregar à tua maldição porque o meu lado escuro, essa parte maldita de mim, há tanto tempo adormecida, já tinha sido despertada e reconhecia em você o sujeito da minha perdição".

(Teatro Completo - Maria Adelaide Amaral, peça: De braços abertos, p. 191-192, Ed. Global)

o outro simplesmente vê ou não vê


"Eu não disse nada. Talvez tenha olhado para ela com sarcasmo, não sei. Mais ainda porque o sarcasmo não é uma coisa que você impõe ao outro, o outro simplesmente vê ou não vê, e se sente atingido ou não. De que adianta todo o sarcasmo do mundo se o outro não percebe. É necessário que o outro perceba a tua fina ironia, é necessário que o outro seja uma superfície lisa o suficiente para te refletir. É necessário que o outro ao menos te escute".

(Paisagem com dromedário, Carola Saavedra, p. 44, Ed. Companhia das Letras)

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"A dor da gente não sai no jornal".

(Chico Buarque)

sobre ser feliz

"- A única pessoa feliz que conheço é o Berdykov, o bobo do bairro.
- É fácil ser feliz se você só se preocupa com a sua baba".

(Do filme: Love and Death, Woody Allen)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eu não gosto que decidam por mim onde estão os meus afetos


"A minha identidade não depende do local onde minha mãe esteve no momento onde nasci. Eu não gosto que decidam por mim onde estão os meus afetos".

(Alberto Manguel na FLIPORTO 2010, autor de "Todos os homens são mentirosos" e proprietário de uma biblioteca com 35 mil livros)

Mutismo - Kundera


"Ah, não, nenhum amor sobrevive ao mutismo."'

(A Identidade, Milan Kundera)

Confesso: não pude desamar de ti - Eucanaã Ferraz


Mais doce

"Confesso: não pude desamar de ti.
Tornei-me, então, tua mãe.

Afinal, não serias o meu homem,
eu sabia. Não vacilei, e dedico-me

à condição mais intestina,
mais doce – a de quem cozinha,

cose, espera, cala, tece,
aconselha, espera, vela

(mesmo que não, é como se fosse),
à condição de quem vê passar

o tempo no cabelo, nos gestos,
nas histórias, nos amigos, nos dentes

do seu pequeno príncipe, do seu dolorido,
do seu príncipe feliz.

Porque não me querias como homem,
porque não poderia ser teu pai,

restou-me não ser menos que este amor
que segue ao teu lado

mesmo quando é tão distante teu caminho,
teu silêncio, teu passo rápido, teu sonho.

Choro,
que o destino das mães é sempre triste.

Porque é triste não poder ser
a mulher do seu menino."

(Eucanaã Ferraz)

domingo, 21 de novembro de 2010

A vida: dosagem recomendada, vide bula.


"Recair significa cair de novo. No poço sem fundo da felicidade, no abismo renovável da dor e do não. A vida atenção ao prazo de validade. A vida: dosagem recomendada, vide bula. Testada dermatologicamente, testada oftalmologicamente em sessões de tortura nos animais de laboratório. Tantas cápsulas por dia, de acordo com o peso e com a idade. Em caso de superdosagem, recorrer à lavagem estomacal. Aconselhável a consulta ao seu médico antes de usar".

(Rakushisha, Adriana Lisboa, p. 60-61, Ed. Rocco)

Seja adulta, menina!


"(...) por favor não fantasie, menina, não seja demasiado adolescente."

(Caio Fernando Abreu)

VIII Seminário Internacional: As psicopatologias da vida cotidiana


"A mulher não pode imaginar o amor sem palavras. Para o homem, as relações podem se passar no silêncio".
***
"Homens tem problemas na vertente do desejo e as mulheres na vertente do amor".
***
"Os homens desejam onde não amam, e amam onde não desejam".
***
"O desejo é extremamente perigoso para o obsessivo. Ele quer apagar o desejo do outro".
***
"O homem deseja fazer da mulher o objeto amalgamático do desejo dele".
***
"Esse negócio de 'apimentar a relação' é a nossa sociedade que quer gozar o tempo todo. Quanto mais restaurantes você for, mais viagens fizer, mais objetos tecnológicos possuir... Essa ânsia de gozar de tudo o tempo todo".
***
"Nos parece que quando o homem tem um rompimento amoroso, há sempre uma mulher esperando por ele na esquina. Ele está sempre em busca da mulher ideial - essa ideia da mulher, que ele nunca vai encontrar. Eles estão presos nesta imagem da mulher ideal".
***
"Como a mulher não sabe quem é, uma das formas é pedir para o homem: diga-me o que você vê em mim, o que acha de mim... Por isso que ela é chata. E o homem nunca vai satisfazer essa curiosidade dela, porque a demanda dela é enorme. Ela fala: diga-me quem eu sou porque eu não sei".

(Malvine Zalcberg, psicanalista, no VIII Seminário Internacional: As psicopatologias da vida cotidiana, 19-11-10, Rio de Janeiro)

P.S.: acho que não preciso salientar aqui que estes são pequenos recortes de uma explanação longa, preciso? A psicanálise não é relativista, os fragmentos acima estavam dentro de um contexto. Não são generalizações, apenas anotações. Aqueles que desejarem saber mais, procurem os livros da Malvine.)

roupa - de dentro, de fora


“(...) mendigo pelo amor de Deus que me achem bonita, alegre e aceitável, e minha roupa de alma está maltrapilha...”

(Conto “A bela e a fera ou A ferida grande demais”, Clarice Lispector)

sábado, 20 de novembro de 2010

Existe?


“Para ser feliz eu precisaria de uma mulher que me embalasse nos seus braços sem pretender meter-se na minha vida. Mas isso não existe.
- As mulheres cobram sempre tudo. Fingem que se dão, mas cobram, ao cêntimo e com juros”.

(Os íntimos, Inês Pedrosa, Ed. Alfaguara, p. 34-35)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Supra sumo da angústia


"Não há nada que me angustie tanto quanto me despedir de alguém: tchau, adeus, au revoir, até breve, até nunca mais".

(A chave da casa, Tatiana Salem Levy, Ed. Record, P. 22)

o risco e a aventura


*"Temos que devolver ao amor o risco e a aventura".

(Alain Badiou, filósofo)

*Citado pela psicanalista Malvine Zalcberg, esta tarde.

A moça tecelã

.

"... terminei essa noite ler Medo de voar. AMEI AMEI AMEI. E de certo modo tô muito agradecida a mim mesma de não ter lido logo e ter'sumido' o livro porque essa semana que passou foi hard não fosse Erica e você!
Bom, claro que eu acho que é super autobiográfico, mesmo ela negando é impossível não pensar que Isadora e Erica não sejam a mesma. Até mesmo pelo tanto de casamento, o marido chinês e essas coisas todas. Acho que é uma espécie de desabafo, de 'toma-na-cara-mundo', sabe? Na época, provável foi um escândalo. E foi um protesto, um jeito dela dizer ao mundo o monstro que ele (o mundo) criou (ela). Algo assim. O livro é marcado por culpa sem fim e acho que é algo inerente ao 'ser mulher'. Já nascemos culpadas e agora eu entendo de verdade a necessidade da psicanálise. Não é nada fácil se soltar disso sozinha. E este livro apesar de ter sido um tanto feminista, é libertador ainda hoje quando não é mais um tabu. É libertador porque eu conto que provavelmente todas nós sejamos meio (ou completamente) Isadoras. Estou muito curiosa pra saber sobre o terceiro casamento da Isadora. Pensando bem, agora, talvez ela seja uma projeção de Erica. Alguma parte do que ela queria poder fazer ou ter sido e não deu. Não tenho certeza, mudo de idéia a todo e qualquer instante. O livro tá tomado por grifos rosa e se eu pudesse faria um post no Vem cá Luísa* pras pessoas saberem que você não é só um rostinho lindo-loiro-de-olhos-verdes-com-um-cérebro-fantástico! Sim, sinto muito mas você não é. Além de tudo e ainda bem, você tem alguma coisa que não sei o nome. Perspicácia? Hipersensibilidade? Não tenho como classificar, só sei que é egoísta isso, mas sinto algum alívio por ter você por perto..."

Trecho do e-mail (enorme) que enviei à Vanessa ontem, que há alguns meses me deu um presente (Medo de Voar, Erica Jong) e que finalmente eu havia de fato lido. E em desacordo com Caio F. ou talvez com licença poética, digo que não é a vida a tecelã imprevisível. São algumas pessoas que dão pontos em nós e nem desconfiamos, então vezenquando estas costuras são arrematadas bem depois e aí entendemos o porquê de serem especiais. E a vida deixa de ser menos sacana.


Por Patrícia Catizani Alvim
(com todo meu amor)

.

*Agradeço pela confiança e por ter me deixado realmente fazer esse post!

Existir


"Me desperdiço, me dôo, me comovo, me arrebento de existir."

(Carpinejar)

Sorriso - feliz


“E sorriu um sorriso feliz (vinho de boa qualidade, café moído na hora)”.

(Sinfonia em Branco, Adriana Lisboa, p. 141)

Eis a escolha - Woody Allen


"As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante o dia as pessoas más se divertem muito mais".

(Woody Allen)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Entrevista com o escritor português João Tordo - na FLIPORTO

Hoje escrevi para o Amálgama.
Um pouco da FLIPORTO e a entrevista que fiz com o escritor português João Tordo, ganhador do prêmio literário José Saramago de 2009.
Leiam e comentem aqui.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Um escritor disse algo parecido na FLIPORTO


"Existem dois tipos de escritor: aquele que, como Borges, trabalham sem sair do escritório e criam uma existência imaginária, e outros como Jack Kerouac, que vão atrás das histórias e vivem com o pé na estrada. Eu admiro os primeiros, mas, sem dúvida, pertenço à segunda categoria".

(Caio Fernando Abreu)

A qual categoria pertencem vocês?

O amor e suas letras - 19,20 e 21/11 - programa do fim de semana :)


http://xiijornada.wordpress.com/

O Amor e Suas Letras

O que é o amor? A filosofia o define como uma das paixões da alma ou do ser, lado a lado com o ódio e a ignorância. Mas o amor sequer existiria, se dele não falássemos, argumenta o literato (La Rochefoucauld). E o que diz a psicanálise? “A transferência é o amor”, resume Lacan, com algumas décadas de distância, uma das descobertas primeiras da psicanálise: o amor de transferência. Este, segundo Freud, em nada difere do amor que ao mesmo tempo une e separa os seres falantes onde quer que estejam.

Eros, um dos nomes do amor na mitologia grega, passa a fazer parte do vocabulário psicanalítico como sinônimo da pulsão de vida, cuja tarefa é “amansar a pulsão de destruição”, desordenar o seu caminho silencioso em direção à morte. Para Freud, o amálgama vida/morte e seus efeitos de amor/ódio subjazem a todos os fenômenos que se dizem humanos.

Não existissem os impasses do amor, não existiria a psicanálise. Freud ensina que o amor ou é narcísico ou é edipiano. O primeiro não é senão amor pela própria imagem, lugar no Outro onde me vejo amável. Em contrapartida, o amor edipiano é necessariamente um amor a três. Nele, o terceiro excluído é condição sine qua non. E o ser amado, inevitavelmente um substituto. Fala-se, por isso, de erro de pessoa, pois, no fim do baile, ao apagar das luzes e ao cair das máscaras… não era ele, tampouco era ela.

Freud denomina Mannlich Typus, amor do tipo masculino, aquele em que ocorrem a idealização do objeto e a sublimação da pulsão. Lacan o aproxima das manifestações de amor que tem lugar na França, no decurso da Idade Média: o fin’amors e o amor cortês. Amor de cancioneiros e poetas, ele acaba por criar a Dama cuja perfeição a torna inacessível. É a Beatriz de Dante cujo bater de pálpebras moveria o mundo, nos versos daquele que a criou.

Freud enumera ainda as antíteses do ato de amar: a indiferença, o ódio, mas também a posição passiva daquele que demanda apenas ser amado. No Seminário, livro 8, Lacan nomeia a transferência de “milagre do amor”. Ao cotejar o texto freudiano com O Banquete de Platão, ele assim conclui: o milagre é a transformação de érômenos em érastès, isto é, a passagem da posição de amado e desejável à posição de amante e desejante.

Como o amor é propício aos aforismos, Lacan propõe alguns em seu seminário sobre a angústia. Ele aí afirma, por exemplo, que “somente o amor permite ao gozo condescender ao desejo.” (Lacan 1963/2005: 197). O amor pode vir a se alojar na hiância que separa o desejo e o gozo, tornando então possível gozar e desejar com o mesmo objeto. Sim, porque Lacan também descobre nas mulheres o mesmo desdobramento da vida amorosa que Freud descobrira nos homens: de um lado, o parceiro do desejo, do outro, o parceiro do amor. A pequena diferença está no fato de que, enquanto os homens amam de forma fetichista, as mulheres o fazem erotomaniacamente. Elas amam no homem sua relação com o saber, ou seja, o inconsciente. Um homem, porém, ama numa mulher o que lhe falta, e por isso fantasia um masoquismo feminino. Num fim da análise, há então alguma diferença.

Mas há também os casos em que falamos de um possível curto circuito terapêutico da análise por meio do amor. Pois o lugar do analista não é propriamente o do amor, e sim o de um desejo advertido. Advertido, inclusive, das armadilhas do amor. Sua aposta, com Lacan é a produção de um amor inédito, sem cegueira ou servidão.

“O amor demanda o amor. Ele não deixa de demandá-lo. Ele o demanda…mais…ainda.” Eis como Lacan dá a partida ao Seminário, livro 20. Se já observara que o discurso analítico é o que sempre emerge no giro de um a outro discurso, ele agora o confirma, asseverando que “o amor é signo de que mudamos de discurso.” No discurso analítico só se fala de amor. Fala-se de seus obstáculos, fracassos e rateios. Eventualmente, de seu êxito. É que o amor pode fazer suplência à relação sexual que não existe. A proporção sexual que não se inscreve inconscientemente, conseqüentemente não se escreve. Em contrapartida, “a única coisa séria a ser feita é a letra/carta de amor”. (Lacan 1972/1985)

Será que, então, a letra de amor faz série? O amor se escreve em cartas, poesias, romances e canções. Quem nunca recebeu ou enviou um bilhete de amor? Um pequeno gesto? Um sinal de amor? Vinícius, nosso poetinha – como o chamávamos carinhosamente – não desconheceu em seus versos que existe o fim do amor, o que não o impediu de desejá-lo “eterno, enquanto dure”. Tom versava e dedilhava incansavelmente o quanto “é impossível ser feliz sozinho”. Paulinho, viola sob o braço, canta que “só um novo amor pode apagar” as marcas de desencanto de outro amor.

Saberemos nós, psicanalistas, tomar o amor ao pé da letra? Desfazer os nós da transferência? Conduzir analisandos da demanda de amor à pulsão? Saberemos trabalhar com a letra?

(Vera Pollo - autora de - entre demais publicações - "Mulheres Histéricas" (Ed. Contra Capa) e professora da Universidade Veiga de Almeida.

FLIPORTO - Ricardo Piglia


"Os livros produzem um efeito de generosidade. Não se empresta com a mesma vontade um casaco que se gosta a um amigo. Um livro, sim".

(Ricardo Piglia)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

FLIPORTO - 3


Umas 12 tapiocas, um litro de filtro solar fator 60 e um bom excesso de bagagem com uma mala cheia de livros depois...
Voltei, leitores!
Encantada com Olinda e todas as pessoas super queridas de lá. Embora eu já conhecesse a cidade, (re)conheci-a. Conheci de novo.
Bom perder-se pelas ladeiras de Ô-Linda. Afinal, já disse a Clarice, perder-se também é caminho.

***
"Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber do que ao menos sei? assim: como se me lembrasse. Com um esforço de memória, como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva".

(Lembrar-se, de: "A Legião Estrangeira", Clarice Lispector)

P.S.: deixo Clarice enquanto digito meus hieróglifos, - sua letra parece de médico, disseram-me em Olinda, rs - e desfaço as malas.

sábado, 13 de novembro de 2010

FLIPORTO - 2

Segundo dia da FLIPORTO.

Mil anotações no Moleskine mas corri o dia todo de uma mesa para a outra, e ainda não consegui escrever nada, rs. Nem baixei foto nenhuma. O que faço com esse post, leitores?

Deixo uma das frases anotadas do dia-noite, que ouvi do escritor português João Tordo - que devo entrevistar mais tarde:

"Gosto que meus livros sejam uma confusão entre minha vida pessoal e a ficção. (...) e cria-se uma mitologia sobre si mesmo".

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FLIPORTO 2010 - 1


Estou aqui até terça.

Trarei notícias.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O pulso ainda pulsa?


Dir-se-ia que o pulso...

"Dir-se-ia que o pulso
pousa quase delicado.

O pincel esmerou-se,
com efeito.

Nada macula a pele branca,
pura, do príncipe.

Nenhum sinal de
sangue ou espanto

em sua espada,
no brilho dos olhos.

E belo, e jovem.
O monstro."

(Eucanaã Ferraz)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

One heart, one hope, one love


With Or Without You (U2)

See the stone set in your eyes
See the thorn twist in your side
I wait for you

Sleight of hand and twist of fate
On a bed of nails she makes me wait
And I wait without you

With or without you
With or without you

Through the storm we reach the shore
You gave it all but
I want more

And I'm waiting for you


With or without you
With or without you
I can't live
With or without you

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

My hands are tied, my body bruised
She got me with

Nothing to win and
Nothing left to lose

And you give yourself away
And you give yourself away
And you give
And you give
And you give yourself away

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you
With or without you

Yeah, we'll shine like
stars in the summer night
We'll shine like
stars in the winter light
One heart, one hope, one love

With or without you
With or without you
I can't live
With or without you
With or without you

Livro esquecido no Rio de Janeiro - 08/11


Ontem deixei um livro num banco em frente ao prédio onde moro. É um lugar especial para mim, o banquinho da reflexão. Uma hora depois, passei lá e ele não estava mais.
Vale ressaltar que antes disso, depois que eu fotografei o livro, um homem veio atrás de mim gritando:
" - Moça! Você esqueceu seu livro!"
Expliquei que era para ficar ali mesmo. Ele não entendeu...

P.S.: a ideia não foi minha, e sim do blog Tantos Caminhos.

***
Sobre o livro: leitores, desculpe-me decepcioná-los, mas eu não recordo-me nem do título, nem do autor, rs. É um livro que resenhei quando era editora de um jornal. O assunto, em suma, são os costumes do Brasil colonial. MISTÉRIO DESVENDADO! ;)

Estenda sua mão


"(...) Mas se você não me estender a mão, Sérgio, qualquer movimento que eu faça na sua direção se torna inútil e cai no vazio".

(Melhor teatro - Maria Adelaide Amaral, peça: De braços abertos, ed. Global, p. 234)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma incompletude


"Eu mesmo, eu era uma pessoa menor. Encontrei alguma coisa em mim naquele instante, e na verdade era uma falta. Uma incompletude, um defeito que me fosse dividindo e subtraindo conforme passavam as horas".

(Um beijo de colombina, Adriana Lisboa, p. 85)

domingo, 7 de novembro de 2010

Dê-me motivos

Imagem: Andrew Wyeth

"SÉRGIO - Por que é que você não foi com ele pro Chile?
LUÍSA - Se te interessa saber, porque ele não me convidou..."

(Melhor teatro - Maria Adelaide Amaral, peça: De braços abertos, ed. Global, p. 236)

Esqueça um livro - 08-11 - segunda



Li algo esta semana no blog Tantos Caminhos que achei muito bacana.

A ideia é esquecer um livro amanhã, 08/11, em algum lugar público. Dentro do livro deve constar um bilhetinho, explicando que o livro foi esquecido justamente para que algum leitor encontrasse-o. Após este leitor ler, deve fazer o mesmo - aí é um pouco mais difícil de saber se deu certo...

Palavras da Isa do Tantos Caminhos: "E aí, o que vocês acham? Topam participar? Então dia 08/11 fica instituído o dia em que um pequeno grupo de pessoas ajudou a levar um pouco de boa leitura as pessoas. Divulguem em seus blogs, fotografem o livro esquecido, façam um post comentando como foi, deixem um comentário nesse post, simplesmente esqueçam o livro. O importante mesmo é que possamos levar um pouco de boa leitura a outras pessoas".

Eu adorei a ideia e vou aderir. Amanhã alguém há de encontrar um livro meu por aí...
Depois divido com vocês a experiência.