terça-feira, 30 de novembro de 2010
E agora, Caio F.? Agora, estou amanhecendo.
"(...) Aí, desabou. Dez dias. De manhã bem cedo, chegando da vida, percebi uma pequena rachadura na parede externa do edifício. Avançava lentissimamente. Ao meio-dia rachou de alto a baixo. O edifício veio ao chão: me interna, pedi pra mãe, estou infeliz pra caralho. Peguei o pacote de cartas que tinha pedido de volta (fiz absolutamente todos os números, o problema é que a platéia estava vazia: ninguém aplaudiu minha melhor sequência de sapateado), coloquei aos pés de Ogum.
E agora, Caio F.? Agora, estou amanhecendo. Ah, me digo, então era assim. Essa coisa, o amor. Já conheço? Já conheço. Mas como é mesmo que se chama? Também não estou certo se estarei mesmo amanhecendo. Talvez, sim, anoitecendo, essas luzes penumbrosas são muito parecidas. Não sei muita coisa. Quase nada. Pedi? Levei. Nunca tinha sido tão intenso, nem tão bonito. Nunca tinha tido um jeito assim, tão forever. Não me diga que vai passar, vai passar, vai passar, vai passar. Não me diga que foi ótimo, o que você queria, a eternidade? Não me peça para não te encher o saco lamuriando".
*Do fundo do coração, ou Love, Love, Love - texto de Caio Fernando Abreu na revista Around, publicado por volta de 1985. Retirado do livro “Para sempre teu, Caio F.”, de Paula Dip.
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Como o Caio F. faz isso eim?
ResponderExcluirLer cada coração!
Bjos, Vanessa!
ótima semana!
O amor sempre nos dilacerar! Imediatamente, imediatamente, não mais que ausente lembrei de Drummond: 100 razões do amor, e logo penso em inverter os número em letras e tudo volta ao normal substituo o c por s: sem razões e agora tudo se extinguirá?
ResponderExcluirVanessa que trecho profundo.Tinha que ser de Caio Fernando. Estou amanhecendo...é pura poesia.bjs
ResponderExcluiro enredo é o mesmo há séculos, mas cada qual tem a sua maneira de contar
ResponderExcluirbeijo