quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A falta de


"- Compreendo.
- É tarde demais - gemia ela.
- Eu não respondia. Ela esperava um minuto, mas nesse caso eu não podia responder.
- Perdi minha vida. - Deixava passar um tempo e acrescentava: ele nunca veio...
Essa falta a devorava. A falta daquele que nunca viera."

(Marguerite Duras in: Dias inteiros nas árvores. Ed. Guanabara, p. 79)

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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

da felicidade


"A felicidade não era ruidosa nem saía em capa de revista."

(Adriana Lisboa in: Hanói. Ed. Alfaguara, p. 196)

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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

não porque seja verdadeira, mas porque sentimos prazer em dizê-la

"Pois bem - acrescentava ele com essa leve emoção que experimentamos quando, mesmo sem o notar, dizemos uma coisa e a escutamos através de nossa própria voz como se não viesse de nós mesmos..."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 243)

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terça-feira, 20 de agosto de 2013

já que nossa tecnologia é apenas uma extensão de nós mesmos

"Nossas vidas parecem muito mais interessantes quando filtradas pela interface sexy do Facebook. Estrelamos nossos próprios filmes, fotografamos incessantemente a nós mesmos, clicamos o mouse e uma máquina confirma a sensação de que estamos no comando. E, já que nossa tecnologia é apenas uma extensão de nós mesmos, não precisamos desprezar suas manipulações, como faríamos no caso de pessoas de verdade. É um movimento circular sem fim. Curtimos o espelho e o espelho nos curte. Ser amigo de uma pessoa significa apenas incluí-la em nossa lista particular de espelhos elogiosos".

Jonathan Franzen in: Como Ficar Sozinho. Cia das Letras.

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domingo, 18 de agosto de 2013

uma necessidade angustiosa

"De todos os modos de produção do amor, de todos os agentes de disseminação do mal sagrado, um dos mais eficazes é esse grande torvelinho de agitação que às vezes sopra sobre nós. Então a sorte está lançada, e a criatura com quem nesse momento nos comprazemos será a criatura amada. Nem mesmo é necessário que até então nos tenha agradado mais que as outras, ou tanto como as outras. O que era preciso é que nossa inclinação por ela se tornasse exclusiva. E essa condição se realiza quando - no instante em que ela nos faltou - sentimos em nós não o desejo de buscar os prazeres que seu convívio nos proporciona, mas uma necessidade angustiosa, que tem por objeto essa mesma criatura, uma necessidade absurda, que as leis deste mundo tornam impossível de satisfazer e difícil de curar - a necessidade insensata e dolorosa de possuí-la ".

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 226-227)

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terça-feira, 13 de agosto de 2013

condição de sobrevivência

O ausente

3. Acontece-me, por vezes, suportar bem a ausência. Estou então "normal": oriento a minha atitude pela de "toda a gente" que sofre a partida de uma "pessoa querida"; obedeço com habilidade ao treino que, desde muito cedo, me acostumou a estar separado da minha mãe - o que, no entanto, não deixou ao princípio de ser doloroso (para não dizer: de enlouquecer). Comporto-me como um sujeito bem desmamado: sei alimentar-me, enquanto espero, de outras coisas além do seio materno.
Essa ausência bem suportada não é senão o esquecimento. Sou, por intermitências, infiel. É a condição da minha sobrevivência; pois, se não esquecesse, morreria.

(Roland Barthes in: Fragmentos de um Discurso Amoroso)

Imagem: Ilse Bing.

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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

vertigem


"Quando ele dizia que me amava, eu sentia uma espécie de generosidade violenta penetrar-me e era obrigada a fechar os olhos. Qualquer outro teria podido me dizer isso. Teria tido o mesmo efeito, nas mesmas condições. Eu havia lido um romance, Magali, de Delly; esse livro desempenhou um papel capital em minha juventude. Era o mais belo/o único que eu lera, e as palavras "eu te amo" eram nele pronunciadas uma só vez no decorrer de uma conversa dos dois amantes, que durava alguns minutos apenas, mas justificava meses de espera, de dor, de uma separação perturbadora. Eu as ouvira no cinema, e a cada vez elas me perturbavam. Achava que elas só eram ditas uma vez na vida, como acontecia em Magali e nos filmes de Casanova. Que elas poderiam ser ditas uma só vez a uma só pessoa, depois do que não se podia dizê-las a ninguém mais, acontecia como com a morte. Eu estava convencida disso. E quando Léo me disse naquela noite que me amava, tive vertigem."

(Marguerite Duras in: Cadernos da guerra e outros textos. Ed. Estação Liberdade, p. 76-77)

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domingo, 11 de agosto de 2013

do exorcizar

"Também aprendera que o meio certo de exorcizar uma paixonite consistia em escrever acerca de alguém, observando-lhe os tiques e cacoetes, anatomizar sua personalidade em letras de forma. (...) Podia desfrutar sua companhia,até mesmo admirá-lo em certos momentos, mas ele já não tinha o poder de me fazer acordar tremendo, no meio da noite. Eu já não sonhava com ele. Ele passara a ter um rosto".

(Erica Jong in: Medo de voar. Ed. Best Books, p. 23)

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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

apliquei-me para ser "como as outras"

"E posso afirmar absolutamente que, durante toda uma grande parte de minha juventude, apliquei-me para ser "como as outras", para "passar", o que me valeu uma soma considerável de dor e um desespero latente que estranhamente só me abandonou mais tarde."

(Marguerite Duras in: Cadernos da guerra e outros textos. Ed. Estação Liberdade, p. 84)

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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

infância ilimitada


"O passado, longe de qualquer nostalgia, se enraíza, ao contrário, no presente mais atual, fazendo da infância da escritora "um tempo inesgotável, inaudito, que [lhe] parece nunca poder mensurar". Essa "infância ilimitada".

(Sophie Bogaert e Olivier Corpet no prefácio de: Cadernos da guerra e outros textos, Marguerite Duras. Ed. Estação Liberdade, p. 16)

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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Dilacerante


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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Como é possível?

"Como era possível aquele garoto pálido de cabelos de ouro bagunçados, All Star surrados e camiseta, ter me doído tanto ontem e hoje? Não, você não ligou porque sentiu saudades, ligou porque está tendo um ataque de ciúmes, ele me disse, naquela tarde, semanas depois de dizer que eu era seu sono perfeito, naquela praia. Como é possível que tudo seja tão sublime e desabe, assim, concomitantemente? Como é possível sentir o amor a aquecer o corpo, leve, tão leve, e tão breve depois, sentir a raiva, o medo, a angústia, aquela vontade de dormir e dormir e dormir para esquecer os dedos dele passeando pelo meu rosto, as doces palavras sussurradas ao ouvido esperei-tanto-por-este-momento-meu-amor, o cheiro, o cheiro, o cheiro."

(Vanessa Souza in: Luísa)

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