segunda-feira, 12 de agosto de 2013

vertigem


"Quando ele dizia que me amava, eu sentia uma espécie de generosidade violenta penetrar-me e era obrigada a fechar os olhos. Qualquer outro teria podido me dizer isso. Teria tido o mesmo efeito, nas mesmas condições. Eu havia lido um romance, Magali, de Delly; esse livro desempenhou um papel capital em minha juventude. Era o mais belo/o único que eu lera, e as palavras "eu te amo" eram nele pronunciadas uma só vez no decorrer de uma conversa dos dois amantes, que durava alguns minutos apenas, mas justificava meses de espera, de dor, de uma separação perturbadora. Eu as ouvira no cinema, e a cada vez elas me perturbavam. Achava que elas só eram ditas uma vez na vida, como acontecia em Magali e nos filmes de Casanova. Que elas poderiam ser ditas uma só vez a uma só pessoa, depois do que não se podia dizê-las a ninguém mais, acontecia como com a morte. Eu estava convencida disso. E quando Léo me disse naquela noite que me amava, tive vertigem."

(Marguerite Duras in: Cadernos da guerra e outros textos. Ed. Estação Liberdade, p. 76-77)

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Um comentário:

  1. Me perdi neste texto, de palavras doces...
    "eu sentia uma espécie de generosidade violenta penetrar-me e era obrigada a fechar os olhos."
    e fechava os olhos, não querendo mais abri-los!
    docemente perfeito!
    com carinho, beijos.

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