sábado, 30 de março de 2013

mas de onde cada recordação, como um escultor grego, tira inúmeras estátuas



"Revendo eu algum objeto de outro período, outro rapaz surgirá. E minha pessoa de hoje não passa de uma pedreira abandonada, que julga igual e monótono tudo quanto encerra, mas de onde cada recordação, como um escultor grego, tira inúmeras estátuas."

(Proust in: O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. Ed. Globo, p. 164)

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quarta-feira, 27 de março de 2013

Proust, sempre



"A felicidade é salutar para o corpo, mas só a dor enrijece o espírito."

(Proust in: O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. Ed. Globo, p. 180)

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terça-feira, 26 de março de 2013

Não há como fugir de ontem porque ontem nos deformou



"Não há como fugir das horas e dos dias. Não há como fugir de ontem porque ontem nos deformou, ou foi por nós deformado. O estado emocional é irrelevante. Sobreveio uma deformação. Ontem não é um marco de estrada ultrapassado, mas um diamante na estrada batida dos anos e irremediavelmente parte de nós, pesado e perigoso. Não estamos meramente mais cansados por causa de ontem, somos outros, não mais o que éramos antes da calamidade de ontem. Calamitoso dia, mas calamitoso não necessariamente por seu conteúdo. A boa ou má disposição do objeto não tem nem realidade nem significado. Os prazeres imediatos do corpo e da inteligência não são mais do que malformações de superfície."

(Samuel Beckett in Proust. Ed. Cosac & Naif, p. 9)

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segunda-feira, 25 de março de 2013

O blog fez 4 anos



Dia 20 de março este blog fez quatro anos. E eu confesso que esqueci da data. Nos anos anteriores eu comemorei com os leitores, sorteei livros, fiz bolo. Em 2013, diante de outras urgências, esqueci... Parte do meu esquecimento tem relação com o Facebook, já que posto por lá o conteúdo daqui e vice versa - e lá é mais ágil. Também não tenho tido tempo de passear pelos blogs amigos, comentar... Quem passa sempre aqui já deve ter percebido que nem tenho conseguido atualizar todos os dias. Sim, pois não há ctrl c + ctrl v no Vem cá Luísa... Eu digito cada texto, que vem dos meus sublinhados, escolho cada foto - tentando uma conexão com o texto -, faço tudo com a dedicação que eu acredito que mereça esse espaço virtual. Não tenho nada de grandioso para escrever hoje. Gostaria apenas de agradecer aos queridos leitores (muitos deles se tornaram conhecidos e amigos pessoais), por todas as formas de inspiração, aos livros, filmes e por tudo mais que faça a pena levantar da cama todos os dias. Abstrair sempre para não sucumbir. Quem acompanha o blog desde o começo sabe que muita coisa mudou aqui. Da mesma forma como mudou a blogueira. No entanto, lembro de ter prometido a alguma leitora ou leitor que o blog existiria enquanto eu respirasse. Pretendo cumprir a promessa. Obrigada a cada um que passou por aqui, que fez e faz parte dessa história. Aos mais de 2.400 seguidores, aos que seguem sem ter blog, a quase um milhão de acessos... Obrigada aos que acreditam na arte, que fazem algo por ela. Obrigada aos que escrevem livros, dirigem filmes, produzem roteiros, conduzem análises grandiosas...
E sim, "Cadernos de Luísa" estará nas livrarias esse ano ;)
Com todo meu afeto,
Vanessa Souza

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das leituras



"(...) o interesse da leitura, mágico como um profundo sono, enganava meus ouvidos alucinados e apagava o sino de ouro na superfície azul do silêncio."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 89)


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sexta-feira, 22 de março de 2013

literatura em tudo o que vai lhe acontecendo

"A convicção de que a realidade é apenas um material de trabalho manifesta-se, naturalmente, nessa mania de documentação levada por Flaubert a extremos titânicos. (...) Ele converte em literatura em tudo o que vai lhe acontecendo, sua vida inteira é canibalizada pelo romance."

(Mario Vargas Lhosa in: A orgia perpétua - Flaubert e "Madame Bovary". Ed. Francisco Alves, p. 73)

segunda-feira, 18 de março de 2013

dos abandonos



"(...) abandonara seu passado como se tivesse trocado de pele."

(Lawrence Durrel in: O quarteto de Alexandria - Mountolive. Ed. Ediouro: 2006, p. 19)

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sexta-feira, 15 de março de 2013

não existe nada mais real do que esse irreal



"(Como cada um de nós, Klima atribuía realidade apenas àquilo que penetrava em sua vida por dentro, progressivamente, organicamente, enquanto aquilo que vinha do exterior, bruscamente e fortuitamente, ele via como uma invasão do irreal. Infelizmente, não existe nada mais real do que esse irreal.)"

(Milan Kundera in: A valsa dos adeuses. Ed. Nova Fronteira, p. 132)

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quinta-feira, 14 de março de 2013

cai para sempre, insubstituível


"Antigamente um bonde branco fazia o trajeto de Baiona a Biarritz, engatava-se a ele um vagão aberto, em teto... (...) Hoje, nem o vagante nem o bonde existem mais, e a viagem de Biarritz é uma chatice. Isto não é para embelezar miticamente o passado, nem para dizer a saudade de uma juventude perdida, fingindo-se de saudade de um bonde. Isto não é para dizer que a arte de viver não tem história: ela não evolui: o prazer que cai, cai para sempre, insubstituível. Outros prazeres vêm, que não substituem nada. Não há progresso nos prazeres, apenas mutações."

(Roland Barthes por roland barthes. Ed. Cultrix, p. 56)

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quarta-feira, 13 de março de 2013

o ato de escrever corresponde a uma necessidade trágica e feroz



(Marguerite Duras in: Outside. Ed. DIFEL, p. 41)

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segunda-feira, 11 de março de 2013

toda a ilusão


"Era impossível resistir (...) ao riso da Cláudia: era infantil, cristalino, nada ainda e tinha desgastado. Cabia lá dentro toda a ilusão do mundo."

(Miguel Sousa Tavares in: No teu deserto)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Eu me refugiava nos livros de histórias.

Eu apanhava, mas persistia. E sofria com o forte sentimento de rejeição e de inadequação.
Por causa disso, desde muito cedo comecei a me refugiar na leitura. Não nos poemas que escrevia para chamar a atenção, e que eram de qualidade bastante duvidosa. Eu me refugiava nos livros de histórias. Embarcava em qualquer narrativa sobre fadas e princesas, passava a viver o que eu lia num exercício de pura evasão. Eu lia compulsivamente, adorava, sorvia e vivia emocionalmente de leitura. Mais tarde, quando fui estudar História, os castelos de Reis e Rainhas eram como castelos das minhas histórias. Acho que foi essa sensação que despertaria a minha paixão pela História, uma das mais longas e permanentes da minha vida.

(Tuna Dwek in: Maria Adelaide Amaral: a emoção libertária. Coleção Aplauso Perfil, Editora Imprensa Oficial)

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quinta-feira, 7 de março de 2013

Sim, deveriam


"As melhores cenas da minha vida não aconteceram, mas deveriam."

(Vanessa Souza in: Cadernos de Luísa)

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segunda-feira, 4 de março de 2013

Bem, então deve ser...



"Lembro-me do rosto sério e pálido de Piers, ao dizer certo dia: "Bem, então deve ser amor". Rob teria achado graça, creio, nesse tom, que se parecia ao de um médico fazendo um diagnóstico - como se poderia dizer: "Bem, então deve ser câncer".

(Lawrence Durrel in: O príncipe das trevas ou Monsieur. O quinteto de Avignon I. Ed. Estação Liberdade, p. 62)

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domingo, 3 de março de 2013

passado furta-cor

"Então acham que o passado, porque já foi, está acabado e imutável? Ah não, sua vestimenta é feita de um tafetá furta-cor, e cada vez que nos voltamos para ele podemos vê-lo com outras cores."

(Milan Kundera in: A vida está em outro lugar. Ed. Círculo do Livro, p. 130)

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Mas tu não poupas as palavras: tu escreves.


"- E porque é que ficam calados depois?
- Porque já não têm mais nada de importante para dizer.
Fiquei a pensar na tua resposta: "Ficam calados porque já não têm mais nada de importante para dizer." E fiquei a pensar no que me tinhas dito antes, sobre os sahraoui: "Como não têm nada, absolutamente nada, poupam tudo. Poupam a água, a comida, poupam as energias viajando de noite para evitar o calor. Até poupam nas palavras."
- Mas tu não poupas as palavras: tu escreves. Todas as noites gastas uma hora a escrever um diário nesse teu caderno ...
- Escrever não é falar.
- Não? Qual é a diferença?
- É exactamente o oposto. Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares demais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer.
Anos mais tarde, já estava doente, voltei a lembrar-me dessa nossa conversa. Tinha acabado de te escrever uma carta - mais uma, talvez a terceira - que nunca te cheguei a mandar e que destruí depois. E, escrevendo, poupei as coisas que gostaria de te ter dito e que gostaria que tivesses ouvido. Cheguei quase a convencer-me de que bastava escrever-te para tu me ouvires, mesmo que nunca tenha chegado a pôr a carta no correio. Porque era tão sentido e tão magoado, tão distante, o que te dizia nessas carta que quase acreditei que tu não podias deixar de me ouvi. Não é verdade, pois não? Devia ter falado contigo, mas, se calhar, já era tarde, então. Já tantas coisas tinham passado pela minha vida, entretanto! A meada era já demasiado grande e longa para poder retomar o fio, onde quer que fosse. Queria que me ouvisses e que falasses comigo. Ma não te queria ver, não queria que me visses."

(Miguel Sousa Tavares in: No teu deserto, p. 30)

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