quarta-feira, 2 de março de 2011

só se encontra a reivindicação hedonista entre os marginais, Sade, Fourier

"Tradição antiga, muito antiga: o hedonismo foi repelido por quase todas as filosofias; só se encontra a reivindicação hedonista entre os marginais, Sade, Fourier; para a próprio Nietzshe, o hedonismo é um pessimismo. O prazer é incessantemente enganado, reduzido, desinflado, em proveito de valores fortes, nobres: a Verdade, a Morte, o Progresso, a Luta, a Alegria etc. Seu rival vitorioso é o Desejo: falam-nos sem cessar do Desejo, nunca do Prazer; o Desejo teria uma dignidade epistêmica, o Prazer não. Dir-se-ia que a sociedade (a nossa) recusa (e acaba por ignorar) de tal modo a fruição, que só pode produzir epistemologias da Lei (e de sua contestação), mas jamais de sua ausência, ou melhor ainda: de sua nulidade. É curiosa essa permanência filosófica de Desejo (enquanto nunca é satisfeito): essa palavra não denotaria uma "ideia de classe"? (Presunção de prova bastante grosseira, e toda notável: o "popular" não conhece o Desejo - nada exceto prazeres.)"

(Roland Barthes in: O prazer do texto. Ed. Perspectiva, p. 67-68)

9 comentários:

  1. Gostei do post e da discussão que levanta...moça, belo blog! Agradeço para agradecer tua visita, por me seguir! Sou sua nova seguidora! bjs...

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  2. Fragmento profundo pra caramba, eu precisaria pensar bem mais antes de fazer um comentário decente.

    De qualquer modo, gostei sobremaneira da oposição prazer X desejo. Realmente é bastante míope tentar equalizar ambos. O prazer me parece estar para o desejo como um organismo unicelular está para os seres humanos.

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  3. Torresmo faz sucesso no nordeste e caçada também. Luxo, nem um pouco, mas pra uns hedonismo - Bixinho arretado!, pra outros - Eba hj tem o esperado torresmo e pinga!!!, e entre outros - Essa coisa gordurosa e esse Álcool combustível aki, credo!

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  4. Olá Vanessa,
    "O prazer do texto" é quando o desejo vai além do gozo (lacaniano) e se sustenta na alteridade da palavra.
    Lindo blog, Também sou psicanalista e escritor
    abraços,
    Carlos Eduardo
    veredaspulsionais.blogspot.com

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  5. E daí, principalmente surge a frustração contínua. Desejo é algo a se alcançar. Prazer é encontro. Quem se desprendeu da sensação maravilhosa da chuva no rosto, se desprendeu por achar aquilo simples. Quem não se desprendeu, vê a beleza(nos momentos ruins e bons) de tudo isso.


    abraço.

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  6. viva o hedonismo sim!.. sem prazer a vida fica chata..
    beijos

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  7. Esse é um grande livro, talvez o ápice do Barthes, que fez o texto depois de entrar em contato com o pensamento do Lacan.

    O que depreendo dessa bonita reflexão é que, ao contrário do prazer, que ilude completude, a dignidade do desejo reside em sua nulidade assumida, ou seja: o desejo deseja não desejar.. O suicida é corajoso; mergulha em suas autofagias.

    Só acho que o Sade tem uma ironia que ultrapassa a reivindicação. E o niilismo de Nietzsche só poderia chegar à inteligente conclusão inconclusa de que todo hedonismo é uma forma de pessimismo.

    Questão que não cala essa...

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