“Seis anos antes, a dor apareceu na sua vida como um monstro saltando do armário. O jacaré escondido debaixo da cama, que poderia morder a sua mão, se a deixasse para fora do lençol.
Veio rebocando perguntas.
Mas porque tudo tinha sido tão confortável até então?
Mas por que o sol, o gozo, o sorriso? O rio correndo, o vento?
Mas por que a plenitude de horas mansas, se dentro da polpa dos dedos essas horas tinham agulhas?
Então se fez a quieta revolução dos passos. A senhorinha sentada no sofá avisou que não ia embora. Pediu um café, um chá, um copo d’água. (...) E percebeu que bastava isso: tomar cuidado com os passos. Se eles tocassem os lugares certos, todo o resto estaria bem. Transitava pela sala de estar com sua visita a observá-la. Colocava um pé na frente do outro na frente do outro na frente do outro. Servia o chá, o café, o copo d’água.”
(Adriana Lisboa in: Rakushisha. Ed. Rocco, p. 86)
A violëncia da tranquilidade.
ResponderExcluirBeijos!
Toda vez que venho aqui, sinto que estou dentro de uma estante despindo vários livros, me encaixo em cada palavra... Um enigma surge, mente quieta, e os ais da vida!
ResponderExcluiro chá, o café, o copo d'água, o cappuccino, o milkshake, o whisky, a vodka, o vinho... aí já vai piorando de vez e os pés tropeçam.
ResponderExcluirOu sou eu que estou fora de sintonia ou esse é um dos fragmentos mais enigmáticos que já li por aqui...
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