"Eis que o meu pasmo se desfez, pensando melhor. Somente - confesso - experimentei uma vaga desilusão quando vi o meu amigo descer do seu pedestal de bizzaria para a banalidade. Nessa banalidade, ia ser feliz. Eu alegrava-me por consequência".
(Loucura, Mário de Sá-Carneiro, p. 28)
O HOMEM
ResponderExcluir(à João Cabral de Melo Neto, in memorian)
Esse ser fraco, frágil e desnorteado
Que cabe num beijo recebido ou dado
E num abraço pode ser dar por perdido
É o Homem: ser de eternas dúvidas.
Esse que pensa, reflete e questiona
E no amor busca sua própria saída
E a qualquer hora a tudo desacredita
É o Homem: ser de razão e dúvidas.
Esse ser que cria, planeja e inventa
Que tudo quer e nada lhe alimenta
É o Homem: ser de dor e angústias.
Esse mesmo ser que luta e acumula
Consigo mesmo entra em aflição dura:
Vê que uma flor suplanta sua fortuna.
Guina*
* poema do livro SUBLIME, publicado em maio/2010.
Imagino a breve alegria!
ResponderExcluiraté quando?... até quando?... ele ser feliz... e eu sentir-me feliz por ele. a alegria banal é mais falsa que o amor eterno...
ResponderExcluirum beijo!
INÓPIA NACIONAL
ResponderExcluir(À Pablo Neruda, in memorian)
Houve, por trás
Todo um engenho jurídico
De leis aqui
De leis acolá
Tudo muito bem definido
Um arcabouço de conceitos
Sutil, perverso, mentiroso
Criando nossa pobreza
Nossa ignorância
nossa ignomínia
Até alterar nosso corpo
Mudar nossa face
mudar nosso riso
Pela fome quotidiana.
Houve por trás
Uma mentira hasteada
Um canto anunciado
Símbolos trabalhados
Até cores delinearam
Até imagens fantasiaram
Até Castelos ergueram
Para escravizar
Para esfomear
Para empobrecer
Para aviltar.
Houve, por trás
(como até hoje há)
O discurso evasivo
A insinceridade pública
A mentira deslavada
Recriando a escravidão
Recriando a pobreza
Recriando a fome
Recriando a ignorância.
Houve, por trás
Toda uma teia
Todo um burburinho
De lei e leis
De Instituição e Instituições
De ordem e ordens
De Bandeira e Bandeiras
De Hino e Hinos
De Símbolo e Símbolos
Para re-escravizar o povo
Para re-empobrecer o povo
Para esfomear o povo
Em nome da Democracia
Em nome da Ordem
Em nome do Progresso
Isso, desde Marechal Deodoro,
Aquela Fonseca.
Guina*
2010
A alegria está nas banalidades, não? Carpinejar diz: "minha alegria é burra". Só produz beleza quem sofre.
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