quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Morri de muitas mortes e mantê-las-ei em segredo - CL

"Fora das vezes em que quase morri para sempre, quantas vezes num silêncio humano - que é o mais grave de todos no reino animal -, quantas vezes num silêncio humano minha alma agonizando esperava por uma morte que não vinha. E como escárnio, por ser o contrário do martírio em que minha alma sangrava, era quando o corpo mais florescia. Como se meu corpo precisasse dar ao mundo uma prova contrária de minha morte interna para esta ser mais secreta ainda. Morri de muitas mortes e mantê-las-ei em segredo até que a morte do corpo venha, e alguém, adivinhando, diga: esta, esta viveu.
Porque aquele que mais experimenta o martírio é dele que se poderá dizer: este, sim, este viveu."

(Clarice Lispector in: Morte de uma baleia - Clarice na cabeceira - crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2010)

3 comentários:

  1. Ela viveu. Ou como diria Guimarães Rosa, se encantou.

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  2. A pior morte é o estar num corpo vivo e com "a morte interna".

    P.S. - A paisagem já não faz recordar o Marão:)
    Abraço

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  3. Tenho quase morrido muitas vezes. Tenho renascido e sentido a vida pulsar dentro de mim em outras tantas. Essa vida me faz querer agir, correr, escrever, viver. E é a mesma pulsação, o tal do desejo de vida, que também me traz medo de morrer novamente. Por isso, entendo. E sei que mesmo quando me percebo morta por dentro, eu continuo vivendo.

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