quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Fragmento do leitor 36

Eva Rubinstein
''Conseguiu entender tudo na hora em que se viu frente a frente com os alemães, que subiam pela alameda até Goletta e disparavam rajadas de ''cospe-fogo'' entre as moitas. Então, deitado no chão, começou a disparar mosquetaços um atrás do outro e entendeu o por que fazia. Entendeu que aqueles homens lá embaixo eram soldados que o haviam prendido porque ele não estava com os documentos regularizados, eram vigilantes da Todt que marcavam suas horas, eram o tenente do serviço que o fazia limpar as latrinas, eram todas essas coisas juntas, mas era também o patrão que o mandava capinar com a enxada a semana inteira antes que ele fosse ser soldado, eram os rapazinhos que o fizeram tropeçar na calçada na vez em que ele fora à cidade para a feira, eram até mesmo o seu pai, naquele dia em que lhe dera um tabefe. E era também Margherita, Margherita que já estava ali quase gozando com ele e depois tinha voltado atrás, não propriamente Margherita mas aquela coisa que fizera Margherita voltar atrás: esse era um pensamento ainda mais difícil que os outros, mas naquele momento ele entendia. Depois parou para pensar por que os homens lá embaixo atiravam nele, berravam para ele e desabavam sob seus tiros. E entendeu que eram homens iguais a ele; eram malucos de brigar com ele, que não tinha nada a ver com isso, e por isso ele atirava, mas se todos estivessem com ele, ele não teria atirado neles mas nos outros, não sabia direito em quem, e Margherita teria vindo com ele. Mas como era possível que os inimigos fossem estes e não aqueles, bons ou maus, como ele ou contra ele; por que ele estava aqui, no lado certo, e eles estavam lá, no lado errado: isso Natale não entendia - era o vôo de patos; era isso e mais nada''.
 
Italo Calvino in: Como um vôo de patos, do livro ''Um General Na Biblioteca'' Companhia das letras, 2001. tradução: Rosa Freire dÁguiar. Página 49

Enviado por: Ricardo Rodrigo França Da Silva.

Para participar:
1) O fragmento (um trecho que não seja imenso) pode ser de livro ou filme (diálogo). Enviem seu fragmento favorito para meu e-mail (vanessa.sza@bol.com.br) e o título do e-mail deve ser: Qual seu fragmento favorito?   
2) É necessário que o autor/roteirista/diretor/poeta seja publicado/conhecido, para citarmos a fonte corretamente. Autor, título do livro. Com editora e página, melhor ainda. Assim, o leitor pode ir atrás da obra.
3) O nome do leitor e o link do seu blog vão constar aqui, para a divulgação dos mesmos. Quem é leitor mas não tem blog também pode participar. Dia 25 de dezembro o fragmento que mais me tocou vai ganhar um DVD + um livro. 

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