terça-feira, 5 de julho de 2011
Lima Barreto - série dos... amantes de Baco
Lima Barreto sempre lutou contra a correnteza. E o mar era forte. Mesmo considerado um Don Quixote brasileiro, enfrentou vários problemas. Nasceu em 1882, livre e mulato. Era generoso, culto, cronista e escritor de talentoso, o que incomodava muita gente. Para piorar a opinião alheia acerca dele, era alcoólatra e não fazia questão de ser o que se esperava dele na época.
O poeta Manuel Bandeira definiu-o em um verso inesquecível: “A vida inteira que podia ter sido e que não foi”.
Aos trinta anos, Barreto publicou seu melhor romance: Triste fim de Policarpo Quaresma, em folhetins do Jornal do Comércio e em seguida em livro. Foi escrito em apenas três meses, de supetão, em trezentas e poucas laudas. Lima Barreto só escrevia assim rápido porque em seguida se embriagava, e ficava com medo de não conseguir terminar seus contos, artigos e romances.
O escritor trabalhou na Secretaria da Guerra (emprego que os amigos conseguiram para ele), que pagava mal e pouco lhe exigia. Ficou lá até se aposentar, pela doença alcoólica. Barreto não se conformava de que todos os brancos bem nascidos de sua geração ficavam ricos e famosos, e ele não. Para esquecer a humilhação, bebia.
Ainda jovem, Barreto bebia cerveja e uísque. Depois foi para a cachaça, que consumia nos botequins mais sórdidos do Rio de Janeiro. Depois da embriaguez, dormia mesmo pelas ruas. Aos 40 anos – ele faleceu as 41 – estava acima do peso, inchado, reumático, diabético, cardiopata, hipertenso, transpirava em excesso e tinha a aparência de um morador de rua.
Muitos quiseram ajudá-lo. Monteiro Lobato, em São Paulo e sem conhecê-lo, financiou uma palestra para a qual ele fora convidado. Barreto pegou o dinheiro, bebeu todas, não compareceu na palestra e acabou dormindo na sarjeta. Pouco antes de morrer, o escritor, sem perder o humor, escreveu. “O que prejudica nossos literatos brasileiros não é a cachaça. É a burrice.”
Texto: Vanessa Souza Moraes
Fonte: Ulisses Tavares in: “Hic!stórias! Os maiores porres da humanidade”(Ed. Panda Books, 2009)
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Grande Lima Barreto, já li esse seu livro. Grande história, como as outras que li fracassada, porém grande.
ResponderExcluirEscritor de ironia refinada, se ele fôra um D. Quixote, seus moinhos de vento não foram a bebida, mas a sociedade da república velha.
ResponderExcluirEstou acompanhando toda a série, só admiráveis etílicos! Muito bom!
estes seus textos são maravilhosos. adoro-os. curtos e perfeitos. muito potencial. resumindo, prazer em ler você.
ResponderExcluirfotogénico e com postura esse lima barreto.
às vezes, penso que o álcool, para além de uma certa tendência genética - segundo estudos - creio que surge do facto de quem bebe não suportar a si mesmo - a densidade interior intensifica-se que o que resta é senão a dormência dos sentidos numa garrafa -. outras vezes, o génio, por apenas se projectar na sua arrogância e sucesso próprio, acaba enfiado na garrafa; como também a incapacidade de não suportar a visão da própria estrutura da sociedade em que vivi.
quase todos com particularidades diferentes dos demais têm um certo dramatismo envolvendo as suas vidas. álcool, drogas, sexo, loucura (dependência aditiva)… uma fuga para a frente tentando debelar-se… a praga do génio!!!
o erro do génio, é não viver se aceitando e querendo que, um mundo conservador e com medo de mentes que vêem mais além, o aceitem. Apenas Ghandi conseguiu essa façanha, porque a espiritualidade era forte. teve um lado feminino - simbolizado pela sua mãe que lhe deu essa base - e a sua bebedeira estava nas alturas do espírito e, esse o protegia e elevava mais a visão e o desapego ao conservadorismo ou à imbecilidade humana, contudo nunca deixando de ser cortês, diplomático. a força anestesiante de uma garrafa cheia de etílico não eleva a alma, e dá assim, o poder aos que desejam degenerar o portador de uma boa nova. nem todo o génio vê o espírito, mas muitos vêm a garrafa do embriagamento anestesiando todos os neurónios. creio que muita criatividade tenha sido escrita sob o efeito de umas boas garrafas anestesiantes.
imagino o efeito de ressaca, talvez por isso o álcool vive 24 horas por dia nessas usinas chamadas de fígado, rins, artérias...
sei que é fácil argumentar, ajuizar... mas tudo pode ser uma hipótese, para que pessoas tão inteligentes fiquem presas... ''a maldição do génio'' caso para dizer!!! bendito GHANDI que ficou para a história a dizer-nos que não há necessidade destes aditivos... a tecelagem era para ghandi, uma forma de transcender os sentidos, não em nome próprio, já que o rapaz conseguiu vencer a própria sexualidade, logo os poderes inerentes à base primária do ser humano... - certo que não é para todos, mas quem vive preso nos cinco sentidos não consegue elevar-se acima e ver a terra como um povoado de serpentes danadas -.
lima barreto, deve ter sido mais doloroso tendo em conta a etnia e a raça. afinal apenas mais de um século depois, é que um negro subiu ao poder como presidente na américa...
- isto é apenas puras divagações...-
um abraço