domingo, 31 de julho de 2011

até ela ser apenas um ponto borrado, desaparecendo na estrada

"Quando pensava nela, parecia-lhe surpreendente que tivesse deixado aquela garota com seu violino ir embora. (...) É assim que todo um curso de uma vida pode ser desviado - por não se fazer nada. Na praia de Chesil, ele poderia ter gritado o nome de Florence, poderia ter ido atrás dela. Em vez disso, ele permaneceu num silêncio frio e honrado, na penumbra do verão, a observá-la em sua precipitação ao longo da orla, o som do seu avanço difícil perdendo-se entre o das pequenas ondas a quebrar na praia, até ela ser apenas um ponto borrado, desaparecendo na estrada estreita e infinita de seixos bilhando sob a luz pálida."


(Ian McEwan in: Na praia. Ed. Companhia das Letras, p. 128)

sábado, 30 de julho de 2011

do inferno de padre Amaro

"- Não tenho medo de ir pro inferno.
- O inferno já és tu, Amélia."

(Do filme: O crime do padre Amaro)

Morte em Veneza - e a beleza

Morte em Veneza
"A beleza estava ali, bem à sua frente, olhando-o diretamente nos olhos, como um aperitivo para a tragédia. Era esse exatamente o tema de Morte em Veneza, com aquela frase central: "Aquele que contempla a beleza está predestinado à morte." (...) Mas é preciso ter passado anos no meio do nada para entender como é possível sentir-se aterrorizado diante de uma possibilidade."

(David Foenkinos in: A delicadeza. Ed. Rocco, p. 111) 

Assistam! Nise da Silveira no teatro

sexta-feira, 29 de julho de 2011

a violência do seu desejo protestou contra o servilismo de sua conduta

"Ele obedeceu, mas a violência do seu desejo protestou contra o servilismo de sua conduta e, por uma espécie de hipocrisia ingênua, entendeu que aquela proibição de vê-la era para ele como que um direito de amá-la."

(Gustave Flaubert in: Madame Bovary)

Oficina de autoficção - na Estação das Letras, com Ana Letícia Leal

-

“Um poente é um fenómeno intelectual.” 

("A obra em prosa de Fernando de Pessoa". Livro do desassossego, 1ª. Parte, Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América, p. 200)

mais do que preencher um labirinto, é o próprio labirinto


“Fugir de si é morrer. Sempre que as crises voltam, relembro-me de sua advertência. A mesma voz, traiçoeira, entre o acolhimento e a opressão. “Recue, ou você não voltará.” Frase que, mais do que preencher um labirinto, é o próprio labirinto.”

(José Castello in: Ribamar. Ed. Bertrand, p. 72)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não viu no fundo da retina a mágoa?*


"Quanto mais eu berrava minha paixão, tanto mais ele esfriava. Quanto mais eu me arriscava para estar com ele, menos ele se prestava a arriscar-se em minha companhia."

(Erica Jong in: Medo de voar. Ed. Best Books, p. 283)

*O título é da música Baby suporte, do Barão Vermelho.


Para ouvir

Estamos sós num universo agreste, e temos consciência da brutalidade dessa solidão

Taxi driver
"Existe entre os homens uma categoria de amor puro, incontaminável pelas ondas hipnóticas do desejo, sobrevivente a toda espécie de fraqueza e pusilanimidade. Estamos sós num universo agreste, e temos consciência da brutalidade dessa solidão. Fomos, desde sempre, educados para a autonomia, o desempenho e, em caso de necessidade, para o heroísmo. Aprendemos desde crianças a resistir à mágoa dos pormenores. Não nos iludimos, nem crescemos na esperança das ocasiões felizes. Fomos treinados para transformar os desgostos em acasos, e para sufocar na rotina do trabalho. Não exigimos aos outros um comportamento ético exemplar; guardamos as forças da exemplaridade para as grandes guerras, os momentos de catástrofe, se os houver."

(Inês Pedrosa in: Os íntimos. Ed. Alfaguara, p.125)

Ouça

quarta-feira, 27 de julho de 2011

a suave narcose em que a arte nos coloca

Klimt
"Quem é sensível à influência da arte não tem palavras o suficiente para louvá-la como fonte de prazer e consolo para a vida. No entanto, a suave narcose em que a arte nos coloca não é capaz de produzir mais do que uma fugaz libertação das desgraças da vida, e não é forte o bastante para fazer esquecer a miséria real."

(Freud in: O mal-estar na cultura. L&M Pocket, p. 71)

qualquer coisa de novo

The last picture show
“A mulher, como tu vês, é um tema inesgotável: por mais que a gente a estude há sempre nela qualquer coisa de novo...”

(Tolstói in: Anna Karenina)

toi, toi, toi, toi... pelo escárnio que ela ouviu em todos aqueles repetidos "você"

"Ela ouviu a si mesma dizer tranquilamente: "Eu reconheço o fracasso quando o vejo". Mas não era o que queria dizer, essa crueldade nada tinha a ver com ela. Era apenas o segundo violino respondendo ao primeiro, uma defesa retórica provocada pela brusquidez, pela precisão do ataque dele, pelo escárnio que ela ouviu em todos aqueles repetidos "você". Quanta acusação ela devia suportar num pequeno discurso?"

(Ian McEwan in: Na praia. Ed. Companhia das Letras, p. 111)

terça-feira, 26 de julho de 2011

outra história

End of the affair
“Era um macho. Sempre que aparecia alguma cadela pela vizinhança, ele ficava excitado, incontrolável, e com regularidade pavloviana os donos batiam nele. A coisa continuou assim até o pobre do cachorro não saber mais o que fazer. Quando sentia o cheira da cadela, corria pelo jardim com as orelhas baixas e o rabo entre as pernas, ganindo, tentando se esconder. (...) Era uma coisa tão ignóbil que eu ficava desesperado. Acredito que se possa castigar um cachorro por uma coisa como roer um chinelo. O cachorro aceita a justiça de uma coisas dessas: uma surra por um chinelo roído. Mas desejo é outra história. Nenhum animal aceita uma justiça que castiga porque você obedeceu seus instintos. (...) Não, não é essa a moral. O que era ignóbil nesse caso era que o cachorro começou a odiar a própria natureza. Ele nem precisava mais apanhar. Ele mesmo já se castigava. Chegou a um ponto que era melhor matar logo o coitado.”

(J.M. Coetzee in: Desonra. Ed. Companhia das Letras, p. 105)

lá, naquele lugar irreal

O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo.” 


("A obra em prosa de Fernando de Pessoa". Livro do desassossego, 1ª. Parte, Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América, p. 312)

talvez, quem sabe?

"Principalmente, não conseguia viver o presente. Talvez a dor seja exatamente isso: uma forma de estar permanentemente ligado a passado."

(David Foenkinos in: A delicadeza. Ed. Rocco, p. 61)  

do que não se escolhe

"(...) como todas as pessoas que não estão enamoradas, imaginava ele que a gente escolhe a pessoa a quem ama depois de mil deliberações e segundo qualidades e conveniências diversas."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 4 - Sodoma e Gomorra.Tradução de Mario Quintana. Ed. Globo, p. 79)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

I Congresso Latino-americano de Psicanálise na Universidade - vou e levarei o Caio F.

Vou apresentar um artigo sobre Caio F. e Freud no Conlapsa
As inscrições vão até 15 de agosto. Psis. do meu Brasil, recomendo o congresso.


O Conlapsa ocorrerá de 29 a 31 de agosto, e é promovido pela UERJ.

A organização é de Marco Antonio Coutinho Jorge e Rita Maria Manso de Barros - do Programa de Pós-graduação em Psicanálise do Instituto de Psicologia da Uerj. 

O congresso terá como Presidente de Honra a Diana Rabinovich, da Universidad de Buenos Aires.
 

é, acho que sim

“O amor é como a escarlatina, todos têm de passar por ela.”

(Tolstói in: Anna Karenina)

Suporte oh, baby suporte

Frances Bean Cobain

“A vida humana é, por toda parte, um estado com muito que suportar e pouco que desfrutar”.

(Samuel Johnson in:A história de Rasselai)


Ouça


*o título é da música acima.

domingo, 24 de julho de 2011

A beleza não é dona de si mesma

“Ela não é dona de si mesma. A beleza não é dona de si mesma.” 

(J.M. Coetzee in: Desonra. Ed. Companhia das Letras, p. 24)

e numa manhã qualquer...

"No momento mais difícil da dor, achamos que a ferida permanecerá viva para sempre. E, então, numa manhã qualquer, nos surpreendemos aos constatar que já não sentimos aquele peso terrível."


(David Foenkinos in: A delicadeza. Ed. Rocco, p. 76)  

sábado, 23 de julho de 2011

Lucian Freud morreu

Lucian Freud

Pintor britânico Lucian Freud morre aos 88 anos

Por Mike Collett-White

LONDRES (Reuters) - O pintor britânico Lucian Freud, cujos retratos intransigentes fizeram dele um dos artistas mais reverenciados e cobiçados do mundo, morreu aos 88 anos (na quarta).

William Acquavella, que foi seu marchand em Nova York durante muitos anos, disse que o neto de Sigmund Freud morreu na quarta-feira à noite na sua casa, em Londres, vítima de uma doença não especificada.

"Minha família e eu lamentamos a perda de Lucian Freud não só como um dos grandes pintores do século 20, mas também como um amigo muito querido", disse o marchand em nota.

"Como o máximo artista figurativo da sua geração, ele imbuiu a arte do retrato e da paisagem com percepção, drama e energia profundos. Sua companhia era estimulante, humilde, cálida e inteligente. Ele viveu para pintar e pintou até o dia em que morreu, bem afastado do ruído do mundo da arte."

Freud chegou ao final da vida sendo muito valorizado pelo mundo artístico que desprezava. Sua obra "Benefits Supervisor Sleeping" (1995), que retrata uma mulher nua e obesa dormindo em um sofá, foi vendida por 33,6 milhões de dólares pela casa Christie's em 2008, marcando um novo recorde num leilão para um artista vivo.

Na época, a compra foi atribuída ao bilionário russo Roman Abramovich.

Ele tendia a pintar pessoas conhecidas - familiares, amigos e colegas -, mas também teve uma encomenda famosa: retratar a rainha Elizabeth 2a, em 2001.

O retrato resultante - em que a rainha aparecia com aspecto severo, nada lisonjeiro - dividiu a crítica. Arthur Edwards, fotógrafo do tabloide Sun, reagiu assim: "Deveriam pendurá-lo no banheiro".

Freud nasceu em 1922, em Berlim, numa próspera família alemã que fugiu do nazismo rumo à Grã-Bretanha em 1933. Em 1939, ele adotou a cidadania britânica. Seu irmão mais novo, Clement, foi um conhecido escritor, político e apresentador de rádio e TV na Grã-Bretanha.

Lucian Freud frequentou várias escolas, inclusive de arte, mas, segundo relatos, assistiu a poucas aulas. "Eu era muito solitário. Mal falava inglês. Era considerado bem enfezado, do que me orgulhava bastante", disse o artista certa vez.

Ele teve uma breve passagem pela marinha mercante antes de se voltar para as artes e realizar suas primeiras exposições na década de 1940.

O artista teve vários relacionamentos, e acredita-se que deixe vários filhos ilegítimos.

Fonte: Reuters

agarrando pensamentos

"Sentia a tração de emoções contrárias, precisava se agarrar aos meus melhores e mais ternos pensamentos em relação a ela, senão achava que podia sucumbir, simplesmente entregar os pontos."

(Ian McEwan in: Na praia. Ed. Companhia das Letras, p. 103)

porque se perdera na história como a água na areia

“(...) ela chorou porque se lembrou daquele homem de Cholen e subitamente não tinha certeza de não tê-lo amado com um amor que não havia percebido porque se perdera na história como a água na areia e só agora encontrava, no momento em que a música era lançada através do mar.”

(Marguerite Duras in: O amante. P.93)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

do que move

“Sim, homem, as mulheres são a mola que tudo move neste mundo.”

(Tolstói in: Anna Karenina)

Ouhnnnn

Eu que fiz!
Os coleguinhas da aula de literatura e cinema vão comer, mais tarde.

A receita está aqui

Charles Bukowski: Velho Safado e beberrão

Escritor alemão naturalizado norte-americano (1921-94) é lembrado – para além de sua obra – por seu apelido, que ele próprio deu a si: Velho Safado. Alcoólatra, preguiçoso, mulherengo, imprevisível, Bukowski transformou sua vida louca em literatura (com sucesso).
Charles não foi o único escritor bebum. No entanto, suas histórias sempre gravitavam em torno de garrafas de rum, cerveja, gim, vinho ou outro álcool de má qualidade. Também de má qualidade era sua saúde: problemas de hemorróidas, fígado, rins, pulmões…
Os biógrafos do escritor contam passagens curiosas de sua vida. Uma delas ocorreu em setembro de 1972, quando ele aceitou se apresentar para 800 estudantes em São Francisco. Aceitou pelo dinheiro que ganhou, já que odiava o público. Bukowski bebeu durante o vôo, beu no táxi, bebeu antes de entrar no palco e bebeu durante a apresentação.  Bêbado, leu dois poemas e xingou os alunos que se atreveram pela tamanha audácia de fazer perguntas sobre literatura. Os estudantes retribuíram vaias, gritos e atirando garrafas. A encrenca não acabou por aí.
“No apartamento dos organizadores, logo tratou de acertar um murro em outro escritor mais bêbado que ele, mordeu a orelha de um crítico, ofendeu um fotógrafo e, de quebra, ainda tentou acertar com uma frigideira a cabeça de sua namorada, que, inutilmente, o havia puxado para a cozinha na tentativa de acalmá-lo.” (p. 119)
Os amigos do escritor contam que Bukowski mantinha recortes de jornal sobre os Alcoólicos Anônimos colados perto de sua escrivaninha. De vez em quando ele fazia o teste do AA, com dez perguntas que mostram se alguém precisa de tratamento.  Fazia o teste e comentava com os amigos que não era alcoólatra, pois pararia de beber quando quisesse, nem que fosse por apenas um dia.

Texto: Vanessa Souza Moraes
Fonte: Tavares, Ulisses. Hic!stórias – os maiores porres da história da humanidade. Ed. Panda Books.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Estou lá no Amálgama

Com resenha do livro:

A Delicadeza
do David Foenkinos

Passem por

As mulheres podem enlouquecer de silêncio, isso eu sei.

Eyes wide shut
"Num café, certa vez, uma mulher muito mais velha do que eu pediu-me licenca para sentar-se à minha mesa e murmurou: "Ouça-me, por favor. Se não falar com alguém enlouqueço". As mulheres podem enlouquecer de silêncio, isso eu sei. Não são capazes de esvaziar as cabeças sozinhas. Dispensam conselhos e abominam gestos compassivos. Só querem ser ouvidas com atenção."

(Inês Pedrosa in: Os íntimos. Ed. Alfaguara, p.36)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um pontinho no nariz

500 days of Summer
"Rusbrock [personagem de Dostoievski] está enterrado há cinco anos; é desenterrado; seu corpo está intacto e puro (pudera! Senão não haveria história); mas: ‘havia apenas um pontinho no nariz que tinha um leve traço de decomposição’.
Sobre a figura perfeita e como embalsamada do outro (que tanto me fascina), percebo de repente um pouco de decomposição. É um ponto mínimo: um gesto, uma palavra, um objeto, uma roupa, alguma coisa insólita que surge (que aponta) de uma região de que eu nunca havia suspeitado antes, e devolve bruscamente o objeto amado a um mundo medíocre.
Fico alarmado: ouço um contra-rimo: algo como um síncope na lida frase do ser amado, o ruído de um rasgo no invólucro liso da Imagem".

(Roland Barthes in: Fragmentos de um discurso amoroso)

sobre esquecer


“Esqueceria, antes, seu telefone, seu endereço, seu próprio nome, o som da sua própria voz, mas não aquilo. Quando o inimigo avança, recuamos, e quando precisamos recuar às vezes tropeçamos em nós mesmos.”

(Adriana Lisboa in: Azul-corvo. Ed. Rocco, p. 112)

terça-feira, 19 de julho de 2011

palavras, palavras

Ouça

"O que envolve, enlaça o corpo sensível da mulher, não são, antes de tudo, palavras de amor?"

(Philippe La Sagna in: A elaboração da solidão)

perícia e arte

"Separar parte sã
da doentia parte
quem no amor-paixão
teria tal perícia e arte?"

(Affonso Romano de Sant'Anna)

o que é importante...

Angel
"- O importante nesta vida não é aquilo em que se põe o amor, mas sentir o amor - respondeu ele em tom compenetrado, terminante e decisivo."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 2 - À sombra das raparigas em flor.Tradução de Mario Quintana. Ed. Globo, p. 466)

o que falta, o que sobra

"As coragens das mulheres dispõe de uma reserva que falta à de seus amantes."

(Stendhal in: D´amour)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Não há nada mais poderoso do que um amor que não se dá

"Se o Outro não dá resposta, há aflição na criança, não pela falta ou pela perda do objeto demandado e sim pela falta de resposta. Não há nada mais poderoso do que um amor que não se dá, pois é desse que se depende absolutamente. Do amor de mãe nunca se tem certeza."

(Malvine Zalcberg in: Amor paixão feminina. Ed. Campus, p. 40)

constante revisão

"Por fim, veio a reflexão de que, afinal de contas, não se tem o direito de desesperar por não ver confirmadas as próprias expectativas; deve-se fazer uma revisão dessas expectativas."

(Freud in: A história do movimento psicanalítico. Volume XIV, p. 27, Ed. Imago)

sábado, 16 de julho de 2011

quando o amor falha, a culpa é do Destino - esse mordomo circunspecto que o teu Deus manda

"O amor é um assunto de pesos e halteres, plumas e encadeamentos - oh, que bem me lembro. Uma trabalheira de flores e poemas, ausências estudadas e presenças enigmáticas, o remake infinito da história da Capuchinho Vermelho. As decantadas descobertas do amor pareceram-me sempre pura ginástica da imaginação. Vantagem suplementar: quando o amor falha, a culpa é do Destino - esse mordomo circunspecto que o teu Deus manda."

(Inês Pedrosa in: Fazes-me falta. Ed. Planeta, p. 198) 

Para ouvir

A crônica da casa assassinada no teatro (RJ) - assisti ontem e recomendo muito!

A crônica da Casa Assassinada

de Lúcio Cardoso
Direção Gabriel Villela

Com: Xuxa Lopes, Cacá Toledo, Flávio Tolezani, Helio Souto Jr. , Letícia Teixeira, Marco Furlan, Maria do Carmo Soares, Pedro Henrique Moutinho, Rogério Romera, Sérgio Rufino

Faixa etária : 16 anos - em cartaz até amanhã.

Teatro da Maison de France // Avenida Presidente Antônio Carlos, 58. Rio de Janeiro // Info. (21) 2544 2533
Assista um pouco aqui

dos desejos

An education
"(...) o desejo de um futuro a ser conquistado é garantido pela memória de um passado perdido."

(Italo Calvino in: Por que ler os clássicos. Companhia de Bolso, p. 19)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Como as pessoas que somos, e que vão saindo umas de dentro das outras ao longo dos anos

"(...) pequenas promessas prontas a explodir. Mas não explodiam: seguiam sendo promessas, simples promessas de outra maçã dentro daquela maçã, como as bonecas russas que vão saindo umas de dentro das outras. Como as pessoas que somos, e que vão saindo umas de dentro das outras ao longo dos anos. Ao longo das horas."

(Adriana Lisboa in: Um beijo de colombina. Ed. Rocco, p. 14)

serve para isso

"Enquanto era preparada a Cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. 'Para que lhe servirá?', perguntaram-lhe. 'Para aprender esta ária antes de morrer'".

(Cioran)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

sim, ficariam

“Ficariam as marcas depois? Ele sabia que sim. Nenhuma cola conseguiria apagar os sinais da queda, da quebra. Ficariam sempre as arestas, ferindo feito espinhos - nem na morte a rosa se livraria da sua sina de ferir. Para sempre o sinal da junção dos pedaços, uma cicatriz fina, persistente e tortuosa que ele acompanharia com o dedo, devagar, sem nunca encontrar a saída. Porque estava num labirinto”.
 
(Caio F.)

Não é indispensável que aquele que bebe abdique da razão, mas o amante que conserva a sua não obedece inteiramente ao deus do amor

Anna Karenina
"Os cínicos e os moralistas concordam em colocar a volúpia do amor entre os prazeres ditos grosseiros, como o prazer de comer e beber, declarando-a contudo, menos indispensável do que aqueles, visto que eles podem perfeitamente prescindir dela. Do moralista tudo se espera, mas espanto-me que o cínico se tenha enganado. Admitamos que uns e outros receiem seus próprios demônios, seja porque lhes resistam, seja porque se lhes entreguem, esforçando-se por aviltar o prazer a fim de lhe tirar o poder quase terrível sob o qual sucumbem, e diminuir o estranho mistério no qual se sentem perdidos. Acreditaria nessa associação do amor à alegrias puramente físicas (supondo-se que tais alegrias existam) no dia em que visse um gastrônomo soluçar de prazer diante do seu prato favorito, tal como o amante sobre o ombro amado. De todos os jogos, o do amor é o único capaz de transtornar a alma e, ao mesmo tempo, o único no qual o jogador abandona-se necessariamente ao delírio do corpo. Não é indispensável que aquele que bebe abdique da razão, mas o amante que conserva a sua não obedece inteiramente ao deus do amor. Tanto a abstinência quanto o excesso não engajam senão o homem só. Salvo no caso de Diógenes, cujas limitações e caráter de racional pessimista definem-se por si mesmos, toda experiência sensual nos coloca em face do Outro, acarretando-nos as exigências e as servidões da escolha. Não conheço, fora do amor, outra situação em que o homem deva decidir-se por motivos mais simples e mais inelutáveis. No amor, o objeto escolhido deve valer exatamente seu peso bruto em prazer, e é ainda no amor que o amante da verdade tem maiores probabilidades de julgar a nudez da criatura. A partir do desnudamento total, comparável ao da morte, de uma humildade que ultrapassa a da derrota e a da prece, maravilho-me ao ver renovar-se, cada vez, a complexidade das recusas, das responsabilidades, das promessas, das pobres confissões, das frágeis mentiras, dos compromissos apaixonados entre nosso prazer e o prazer do Outro, tantos laços impossíveis de se romper e tão depressa rompidos! Esse jogo cheio de mistérios, que vai do amor de um corpo ao amor de uma pessoa, pareceu-me belo o bastante para consagrar-lhe uma parte de minha vida. As palavras enganam, especialmente as do prazer, que comportam as mais contraditórias realidades, desde as noções de aconchego, doçura e intimidade dos corpos, até as da violência, da agonia e do grito. A pequena frase obscena de Posidônio sobre o atrito de duas parcelas de carne, que te vi copiar nos teus cadernos escolares com aplicação de menino ajuizado, é incapaz de definir o fenômeno do amor, assim como a corda que o dedo faz vibrar não pode explicar o milagre dos sons. Essa frase insulta menos a volúpia do que a própria carne, esse instrumento de músculos, sangue e epiderme, essa nuvem vermelha de que a alma é o relâmpago."

(Marguerite Yourcenar in Memórias de Adriano. P. 20-21. Ed. Nova Fronteira)

Surrupiado daqui. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"Eu tenho uma saudade às vezes fodida dela". (Vinicius de Moraes)

Para os saudosos irremediáveis.

Que fazer?
Canto.

"Eu tinha uma vontade de chegar e tocar aquela campainha na casa dela. (...) eu tenho medo que ela me receba mal pra caralho, porra." (Vinicius de Moraes)