quarta-feira, 4 de maio de 2011

O que foi não é nada, e lembrar é não ver (F. Pessoa)

"Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rastro,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é a Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, e ensina-me a passar!"

(Fernando Pessoa in: Poemas de Alberto Caeiro. Editora Ática)

10 comentários:

  1. Gosto das gavetas e dos baús. Não penso que as recordações sejam uma traição à Natureza.
    O que não deve ser lembrado não o é, como por exemplo nosso nascimento e os primeiros anos - a dor da saída do útero da mãe não é para ser lembrado.
    Já o que se passou, mesmo que tenha ido, ainda existe é reflete o que sou e serei.

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  2. esse é forte! 2'
    passa lá tbm ..
    http://amandabaracho.blogspot.com/

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  3. Muito boa postagem F. Pessoa é tudo de bom.

    Parabéns, boa tarde...

    Bjo

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  4. E o paradoxo de relembrar Pessoa? Sensacional, como tudo que vem do poeta português..

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  5. É. Deixa o vento levar. Sem rastros, sem mágoas, sem marcas.

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  6. Os passarinhos são inteligentes.

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  7. "Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos".(Àlvaro de Campos: “Notas para a recordação do meu mestre Caeiro”)

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