
"Digo tudo isso porque sempre me assusta esse vão, essa impossibilidade. Principalmente entre nós. Havia entre nós, sempre houve, um desencadeamento de conclusões falsas, de mal-entendidos. Eu dizia sempre, mas para você ou era ontem, ou era noite ou era tarde. Então, ao dizer sempre, na verdade eu dizia: a mais profunda noite, o ápice da madrugada, sem saber, sem nunca saber o que eu dizia. Porque a verdade é que a gente nunca sabe, como era possível dizer tudo aquilo sem nunca saber? E era uma sensação constante, isso de poder criar a qualquer momento, algo inimaginável. Como alguém que tem dupla personalidade, ou alguém que, à medida que vai se pronunciando, imediatamente vai esquecendo as palavras e vive sempre na iminência de uma tela em branco. E eu andava apreensiva achando que, a qualquer momento, alguma coisa aconteceria. Alguma coisa sempre acontecia".
(Flores Azuis, Carola Saavedra, p. 76-77, Ed. Companhia das Letras)
ah, que delícia de texto.
ResponderExcluirobrigada por postar esses fragmentos :)