quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Da aula de Lacan de hoje


"(...) Isto nos conduz ao segundo tempo da estratégia, que é mais precisamente como um instante, instante de ver. Isto se passa à noite - à noite onde o saber não chega a calar a verdade, à noite onde o sonho pode tornar-se pesadelo. O que toma de assalto esta mulher não é o sonho, mas um pensamento que coloca em causa todo o equilíbrio da conferência que lhe tinha permitido um sucesso: "Não cometi uma gafe?" pergunta-se ela. E o momento carregado de angústia sublinha o real que ela afronta. O real segue-se a este momento de inscrição no simbólico esperando um ponto de encontro próprio ao discurso. O simbólico acentuou o leito do real. A "gafe" que se impôs à ela é o significante que o diz. E ele diz, que nesta cadeia significante que ela soube tão bem desdobrar há um rasgo, uma brecha, uma fissura. Sabe-se que esta coisa "inapropriada" a representa no inconsciente, no momento mesmo em que ela encontra uma identidade... como homem. Mas esta nova representação está despida para ela de significação. Não pertence ao seu registro simbólico e sobretudo demonstra uma proximidade com o objeto que ele mesmo não se encontra no simbólico. Esta "gafe" é um traço único. Ele significa para o sujeito a barra que o impede de se realizar todo inteiro na linguagem, daí a angústia que a divisão produz nesta mulher. É como se uma pequena voz lhe dissesse: "você não o é". O sucesso, o reconhecimento, o status social não esgotam sua falta. Suas conferências não lhe permitem sustentar a ilusão de que ela tem o falo. O objeto se revela desfeito de sua aparência significante".

(Quando as mulheres só podem se afirmar faltando, Dominique Miller, tradução de Selene Kepler)

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