*De que nasce sua poesia hoje?
GULLAR: Minha poesia, hoje, nasce do espanto. Poesia não é uma coisa que se decide fazer. A poesia parte de lago que te surpreende, que te espanta e que o leva a escrever o poema. A poesia para mim é uma aventura em que o acaso e o inesperado determinam o processo. Através dos versos, faço uma descoberta da realidade e do mundo. Depois de "Na vertigem do dia", a poesia se torna uma coisa que se constrói aleatoriamente. Entro em outro estado, em uma indagação fundamental, entro em um jogo que não tem finalidade e não sei onde vou chegar.
(...)
*Como fica o conflito entre a ordem e a desordem?
GULLAR: A linguagem é uma ordem, é um sistema. Fora da linguagem, só há desordem. Como expressar, então, o que está fora do sistema? Como captar essa desordem? A linguagem só diz o que a linguagem diz. O que está fora dela não entra. Então, fica o não dito pelo dito. Fica um pensamento daquele mundo, que não tem nada a ver com a realidade. Um pensamento que se passa à margem da realidade. Mas é a minha vida, é ali que sou Ferreira Gullar. É ali que indago o fundamental.
*O que é ser um poeta?
GULLAR: Com o poema, eu levo às pessoas algo que só eu posso lhes dar. O poeta só traz alguma coisa quando a descobre, ou a inventa. Não acredito que a literatura revela a realidade, acho que ela inventa a realidade. O poema faz algo que representa aquilo, mas não é aquilo. Um mistério que tem algo a ver com a vida real, mas não é a vida real."
(José Castello entrevista Ferreira Gullar. Prosa&Verso, p. 3. 28/08/2010)
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Bom dia.
ResponderExcluirMuito bons: o seu texto e o seu blog. A visão de Gullar nos leva à profunda reflexão. E, de minha parte, posso dizer apenas que há tempos venho tentando entender o que seja a poesia, sua força, sua magia. Mas, tão complexo é o tema que ainda não cheguei à mínima conclusão. Parabéns. Virei aqui mais vezes para apreciar seu belo espaço.
Feliz ano novo!
Grande abraço.
Grande trecho de um diálogo entre duas pessoas muito interessantes.
ResponderExcluirA poesia, no sentido da arte em geral, fala da realidade para além da realidade. É como a música por trás dos sons e a pintura por trás das imagens, das quais falava Platão.