terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fragmento do leitor 50

Hermann Nitsch
"(...) Levantamos e nos vestimos sem olhar um para o outro.
Fomos para a sala. Conversamos um pouco. Minha namorada
olhou para o relógio, disse tenho que ir, querido, me deu uns
beijinhos no rosto, foi embora e eu dei um tiro no peito.
Mas esta história não termina aqui. Eu devia ter atirado
na cabeça, mas foi no peito e não morri. Durante a convalescença,
Roberto me visitou várias vezes para dizer que tínhamos pouco
tempo, mas ainda podíamos fazer a cirurgia da bexiga, com êxito.
Isso foi feito. Agora eu esvazio com facilidade a bolsa de
urina. Ela fica bem escondida sob a roupa, ninguém percebe que
está ali, sobre o meu abdome. O câncer parece que foi extirpado.
Não tenho mais namorada e estou viciado em palavras cruzadas.
Deixei de ir à praia. Fui uma vez, para jogar o revólver no mar."
 
(RUBEM FONSECA in: Beijinhos no Rosto, do livro Secreções, Excreções e Desatinos. Companhia das Letras, 2001. Pág. 59.)

Enviado pelo leitor: Valder C. Magalhães Jr.

Um comentário:

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