terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ah, como tinha vontade de dizer - Milan Kundera

Índia song
"Tinha vontade de dizer-lhe, como a mais comum das mulheres: não me deixe, me guarde perto de você, me escravize, seja forte! Mas eram palavras que não podia e não sabia pronunciar.
Quando ele afrouxou o abraço ela apenas disse: - Como estou contente de estar com você! - Com sua natural discrição não podia dizer mais do que isso."

(Milan Kundera in: A insustentável leveza do ser. Ed. Record, p. 104)

Tapava um desgosto com outro - Inês Pedrosa

"Mas a Glória consolava-se depressa. Ou talvez fosse propriamente inconsolável. Tapava um desgosto com outro, os homens sucediam-se na sua vida como pazadas de terra sobre um poço sem fundo."

(Inês Pedrosa in: Nas tuas mãos. Ed. Planeta, p. 98)

Concurso cultural “Esquecer-te de mim”

O blog "Vem cá Luísa, me dá tua mão", em parceria com a escritora Claudia Nina - autora do recém lançado "Esquecer-te de mim" (Eb. Babel) - tem um desafio aos leitores.

Responda: O que significa para você o título "Esquecer-te de mim"?

A melhor resposta vai ganhar um livro "Esquecer-te de mim", autografado pela autora.

Algumas regrinhas:
1) Além da resposta, é preciso curtir as páginas do "Esquecer-te de mim" e do “Vem cá Luísa..." no Facebook. Quem não tem perfil no Facebook, precisa ser seguidor do “Vem cá Luísa...”
2) A resposta precisa ter no máximo 400 caracteres com espaço.
3) A promoção começa hoje (31/01) e a resposta escolhida será divulgada em 01 de março de 2012.
4) As respostas devem ser enviadas para o e-mail vanessa.sza@bol.com.br com o título de e-mail "Esquecer-te de mim". Elas devem ser escritas no corpo do e-mail.
5) Os participantes devem residir no Brasil

nunca se sabe ao certo o quanto é pérola e o quanto é plástico

"Ora, isto poderia ser ou não verdade.Poderia ser a mais pura invenção por parte de Dart ou talvez tivesse um grãozinho de verdade... (...) como a conta que o pescador de pérolas japonês enfia na ostra para tapear o molusco e fazê-lo liberar a sua preciosa radiância corporal. Com Dart nunca se sabe ao certo o quanto é pérola e o quanto é plástico.
(...) E me dá aquele seu sorriso encabulado de me ame."

(Erica Jong in: O vício da paixão. Ed. Círculo do Livro, p. 187)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Viver é pôr em lista vidas perdidas


"A vida é ruim; eu sei. Tempo todo vamos nos perdendo uns dos outros para sempre.Viver é pôr em lista vidas perdidas; é reedificar saudades; é renovar o luto."

(Evandro Affonso Ferreira in: Minha mãe se matou sem dizer adeus. Ed. Record, p. 92)

e essa garotada só viu Guerra nas estrelas - Philip Roth

"Cheguei a Yale muito cartesiana, e lá tudo era muito mais pluralista e polifônico."Achava graça nos alunos da graduação. Cadê o lado intelectual deles? Ficou chocadíssima ao ver como eles se divertiam. Uma maneira totalmente caótica e nada ideológica de pensar - de viver! Nunca viram um filme do Kurosawa - nem isso eles conhecem. Quando tinha a idade deles, Delphine já tinha assistido a todos os Kurosawa, todos os Tarkovski, todos os Fellini, todos os Antonioni, todos os Fassbinder, todos os wertmüller, todos os Satyajit Ray, todos os René Clair, todos os Wim Wenders, todos os Truffaut, os Godard, os Chabrol, os Resnais, os Rohmer, os Renoir, e essa garotada só viu Guerra nas estrelas."

(Philip Roth in: A marca humana. Ed. Companhia das Letras, p. 242)

que você tem as suas opções é outra história - Erica Jong

"Compreender as consequências de nossos atos não é a mesma coisa que culpa. A culpa é inútil. Aautoflagelação também. Mas ver que os seus atos tem consequências e que você tem as suas opções é outra história."

(Erica Jong in: O vício da paixão. Ed. Círculo do Livro, p. 138)

sábado, 28 de janeiro de 2012

- Amanheça, por favor! (Leminski)

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
   que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!

(Leminski)

o amor não é eterno porque as lembranças não permanecem sempre verdadeiras - Proust


"Sem dúvida, o amor não é eterno porque as lembranças não permanecem sempre verdadeiras, e porque a vida se faz à custa de perpétua renovação das células. Mas, essa renovação através das lembranças é, de qualquer modo, retardado pela atenção, que detém e fixa um momento destinado a mudar."

(Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.139)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas me diga logo para que eu possa desocupar o coração - Caio F.

"(...) Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas me diga logo para que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível do que ficar à mercê de visitas adiadas, encontros transferidos. No plano REAL: que história é essa? No que depende de mim, estou disposto & aberto. Perguntei a ele como se sentia. Que me dissesse. Que eu tomaria o silêncio como um não e que também ficaria em silêncio. (...) Anyway, me dói a possibilidade de um não, me dói a possibilidade de um silêncio, me dói não saber de que forma chegar a ele, sacudi-lo dizer me olha, me encara, vamos ou não vamos nessa?".

(Caio F. em carta para Juliana Cantore, 20/05/83 - Caio Fernando Abreu, Cartas, Ed. Aeroplano, organizado por Italo Moriconi)

Ouçam

dos lampejos - Claudia Nina

"As decisões mais importantes de uma vida acontecem num lampejo."

(Claudia Nina in: Esquecer-te de mim. Ed. Babel, p. 100)

qualquer eventualidade - P. Roth


"A Faunia ri como uma garçonete de botequim que tem sempre um porrete à mão para qualquer eventualidade, e ela estava rindo esse riso dela, esse riso agressivo de quem já viu tudo nesse mundo - você sabe, o riso grosseiro e fácil de uma mulher que o passado condena..."

(Philip Roth in: A marca humana. Ed. Companhia das Letras, p. 51)

vontade vem e passa - Erica Jong

"- Você alguma vez sente vontade de morar com ele?
- Claro. Mas, cada vez menos. Vou para a cama à noite com todos aqueles livros de história da arte ao meu redor... e não se pode fazer isso com um homem... eles sempre se ressentem. Às vezes, pouco antes de pegar no sono, sinto vontade de abraçar alguém. Mas então a vontade passa... e eu durmo."

(Erica Jong in: O vício da paixão. Ed. Círculo do Livro, p. 292)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

por um segundo mais feliz

La sirène du Mississipi
 "Se a vida pudesse ser sempre assim, todos os dias, eu queria".

(Tatiana Salem Levy in: Dois rios. Ed. Record, p. 78) 

Fragmento do leitor 47

Morte em Veneza
“Como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz para viver uma vida cheia de nada?”

Personagem Benjamin (Ricardo Darín) à personagem Irene (Soledad Villamil), no filme O segredo dos seus olhos, filme argentino de Juan José Campanella, de 2009, que estreou no Brasil em 2010.

Enviado pela leitora Olga Belém.

sair, saí - M. Kundera




"Queria sair de sua vida como se sai de casa para ir à rua."

(Milan Kundera in: A insustentável leveza do ser. Ed. Record, p. 105)

pálida lembrança - Proust


"Consolava-me, talvez, mais facilmente, ao verificar que minha antiga amada não era, ao fim de certo tempo, senão uma pálida lembrança..."

(Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.140)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

é preciso, antes, que a gente consiga se esquecer de uma parte da gente que mora dentro do outro - Claudia Nina

"Saudade. Esquecer alguém é esquecer-se da gente em primeiro lugar. Isso porque, para se colocar alguém fora de nossas fronteiras, é preciso, antes, que a gente consiga se esquecer de uma parte da gente que mora dentro do outro."

(Claudia Nina in: Esquecer-te de mim. Ed. Babel, p. 93)

Fragmento do leitor 50

Hermann Nitsch
"(...) Levantamos e nos vestimos sem olhar um para o outro.
Fomos para a sala. Conversamos um pouco. Minha namorada
olhou para o relógio, disse tenho que ir, querido, me deu uns
beijinhos no rosto, foi embora e eu dei um tiro no peito.
Mas esta história não termina aqui. Eu devia ter atirado
na cabeça, mas foi no peito e não morri. Durante a convalescença,
Roberto me visitou várias vezes para dizer que tínhamos pouco
tempo, mas ainda podíamos fazer a cirurgia da bexiga, com êxito.
Isso foi feito. Agora eu esvazio com facilidade a bolsa de
urina. Ela fica bem escondida sob a roupa, ninguém percebe que
está ali, sobre o meu abdome. O câncer parece que foi extirpado.
Não tenho mais namorada e estou viciado em palavras cruzadas.
Deixei de ir à praia. Fui uma vez, para jogar o revólver no mar."
 
(RUBEM FONSECA in: Beijinhos no Rosto, do livro Secreções, Excreções e Desatinos. Companhia das Letras, 2001. Pág. 59.)

Enviado pelo leitor: Valder C. Magalhães Jr.

desta vez prestarei atenção

"É verdade que talvez já tenham me dito cem vezes.
Pois bem, só tem de me dizer a centésima primeira, desta vez prestarei atenção". 

(Samuel Beckett in: O inominável. Ed. Globo, p. 57)

frisson de espera

"Eu sempre espero uma coisa nova de mim, eu sou um frisson de espera - algo está sempre vindo de mim ou fora de mim."

(Clarice Lispector in: Um sopro de vida)

tão fragmentária que já não me causava tristeza - Proust

"A recordação de Albertine tornara-se tão fragmentária que já não me causava tristeza; era apenas uma transição para novos desejos, como o acorde que prepara mutações de harmonia."


(Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.142)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

voltar, olhar - Ana Cristina Cesar

"Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios."

(Ana Cristina Cesar in: A teus pés)

promessa X realidade

"Prometemos segundo nossas esperanças e cumprimos segundo nossos medos."

(La Rochefoucald in: Reflexões)

como se se pudessem tocar - Tiago Rebelo

My love came back
"Tal como ao longo das últimas semanas, estão separados pelos espaço e pela vida, mas sentem-se tão juntos como se se pudessem tocar."

(Tiago Rebelo in: Breve História de Amor. {Conto: Um intervalo na vida} Ed. ASA, p. 53)

domingo, 22 de janeiro de 2012

E um outro dia, mais tarde, muito mais tarde, escreveremos a história

Born to be bad
"Então chorando.
Ela diz, pergunta:
- Nunca mais nos veremos. Nunca?
- Nunca mais.
- A menos que...
- Não.
- Vamos esquecer.
- Não.
- Vamos fazer amor com outras pessoas.
- Sim.
Claro. Estão chorando, bem baixinho.
- Até que um dia vamos amar outras pessoas.
- É verdade.
Silêncio. Estão chorando.
- E se um dia falaremos de nós, com pessoas novas, contaremos como era.
- E um outro dia, mais tarde, muito mais tarde, escreveremos a história.
- Não sei.
Choram.
- Um dia vamos morrer.
- Sim. O amor estará no caixão, junto com os corpos.
- Sim. Os livros estarão fora do caixão.
- Talvez. Ainda não podemos saber.
O chinês diz:
- Sabemos sim. Sabemos que haverá livros.
Não pode ser de outra maneira."

(Marguerite Duras in: O amante da China do Norte. Ed. Nova Fronteira, p. 148-149)

Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante

Edie Sedgwick
"O acaso tem suas mágicas, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante, como os passarinhos sobre os ombros de São Francisco de Assis."

(Milan Kundera in: A insustentável leveza do ser. Ed. Record, p. 56)

dos cubos de gelo

Ferris Bueller's Day Off
"Um grande bloco de gelo formou-se em minha barriga e ficou derretendo ali devagar o dia todo, enquanto eu dava as minhas aulas de álgebra. Estava sempre derretendo, enviando pingos de água gelada pelas minhas veias acima e abaixo, mas nunca ficava menor."

(James Baldwin in: Sonny´s blues)

uma curiosidade dolorosa que não tinha limites - Flaubert

"Como era o seu nome, sua casa, sua vida, seu passado? Desejava conhecer os móveis de seu quarto,todos os vestidos que usara, as pessoas que frequentava; e até o desejo da posse física desaparecia sob um anseio mais profundo, uma curiosidade dolorosa que não tinha limites."

(Gustave Flaubert in: Educação sentimental)

sábado, 21 de janeiro de 2012

Ele aceitou-a assim porque também não desejava comprometer-se - Tiago Rebelo

O amor e outras drogas

"Era feliz quando estava com ela. Começou a prender-se a ela, embora não tivesse sido essa a sua intenção no início. Ela não foi presa fácil, não se deixou cativar de um dia para o outro, não lhe abriu o coração, fez amor com ele, dizendo-lhe que não queria um compromisso. Ele aceitou-a assim porque também não desejava comprometer-se. Mas depois continuou a vê-la e a fazer amor com ela e a ser feliz com ela."

(Tiago Rebelo in: Breve História de Amor. {Conto: Relações meteóricas} Ed. ASA, p. 29)

da cura

“O casamento cura o ciúme. É por isso que muitos homens se casam.”

(Philip Roth in: O animal agonizante)

o maior dos meus amores, aquele que nunca foi meu

Jezebel
"As noites mais puras. As noites em que amei o maior dos meus amores, aquele que nunca foi meu, aquele a quem nunca pertenci porque apenas me entreguei."

(Inês Pedrosa in: Fazes-me falta. Ed. Planeta, p. 151)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

arde - Philip Roth

A single man

“É Yeats, não é? “Consome meu coração; febril de desejo/ E acorrentado a um animal agonizante/ Já não sabe o que é.”

(Philip Roth in: O animal agonizante)

o pensamento se fatiga - Proust

Adèle H.
"É uma infelicidade para as criaturas, não serem para nós mesmos senão pranchas de coleções demasiado perecíveis em nosso pensamento. Justamente por causa disso baseamos nelas projetos que têm o ardor do pensamento; mas o pensamento se fatiga, a recordação se destrói..."

(Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.109)

"roubartilhado" da Ciça Moura

"O que esperei dos homens
foram ganas
de mais desespero."

Fabrício Carpinejar, in Cinco Marias, p. 88 (ed. Bertrand Brasil).


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Fragmento do leitor 49

Manuel Nuñez
"(...) Ele bebeu de novo.
- O que há de mais maravilhoso é o mar, eu acho, o próprio mar - ou será a juventude? Quem sabe? Mas, e vocês aqui, vocês que tiveram as coisas que a vida pode dar, dinheiro, amor, tudo o que se pode ter em terra firme, me digam: não foi a melhor época aquela em que éramos jovens ao mar? Jovens e sem nada, no mar que nada nos dá em troca, só bordoadas e, às vezes, a oportunidade de testar nossa força, apenas isso... Não é daquela época que vocês sentem saudade?
Nós todos concordamos com ele: o homem das finanças, o homem dos negócios, o homem da lei. Todos concordamos com ele, em volta daquela mesa polida que refletia nossos rostos vincados, enrugados, rostos marcados pela fadiga, pelas decepções, pelo sucesso, pelo amor. Nossos olhos exaustos procurando ainda, procurando sempre, procurando ansiosos um sentido pra vida - sentido que, só por ser esperado, já se desvanece, desapercebido, num suspiro, num instante, levando a juventude, levando a força, levando o romance das ilusões."
      
Do conto "Juventude", de Joseph Conrad, tradução: Marilene Felinto & Heloísa Prieto, Ed. Max Limonad, São Paulo, 1985.

Enviado pelo leitor Humberto Pereira.

Mas me diga uma coisa: existe poder maior?

“Sexo não é só atrito e diversão superficial. É também a maneira como nos vingamos da morte. Não se esqueça da morte. Não se esqueça da morte jamais. É verdade, também o sexo tem um poder limitado. Eu sei muito bem quais são os limites desse poder. Mas me diga uma coisa: existe poder maior?”

(Philip Roth in: O animal agonizante)

que parecia desagregar-se diante de mim, na pequenina frase dispersa - Proust

"E agora, sabendo que a cada dia um novo elemento do meu amor se ia embora - o aspecto ciúme, depois outro qualquer - voltando em suma, pouco a pouco, numa vaga lembrança à fraca sedução do primeiro, era o meu amor que parecia desagregar-se diante de mim, na pequenina frase dispersa."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.111-112)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fragmento do leitor 48

Anna Ancher
Explicação

Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, pouco importa: tudo serve.

Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.

Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma

[cambalhota

mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre. Sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu pais, esta sombra mole,

[preguiçosa.


Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego

[vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.


E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era...
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.

Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
Para mim, de todas as burrices, a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.

Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?

Carlos Drummond de Andrade, do livro: Alguma Poesia / Antologia Nova Reunião, 23 livros de poesia. Ed. Nova Reunião. Pág. 47)

Enviado pela leitora Jenifer Carmo, do blog http://consideracaodopoema.blogspot.com/

Para participar:
1) O fragmento (um trecho que não seja imenso) pode ser de livro ou filme (diálogo). Enviem seu fragmento favorito para meu e-mail (vanessa.sza@bol.com.br) e o título do e-mail
deve ser: Qual seu fragmento favorito? 
2) É necessário que o autor/roteirista/diretor/poeta seja publicado/conhecido, para citarmos a fonte corretamente. Autor, título do livro. Com editora e página, melhor ainda. Assim, o leitor pode ir atrás da obra.
3) O nome do leitor e o link do seu blog vão constar aqui, para a divulgação dos mesmos. Quem é leitor mas não tem blog também pode participar. No final de janeiro o fragmento que mais me tocou vai ganhar um DVD + um livro.

aquário

O amante

“Eu era o gato olhando para o peixinho do aquário. Só que quem tinha dentes era o peixe.”

(Philip Roth in: O animal agonizante)

fragmentos de passado - Proust

 "Mas esses fragmentos, esses momentos do passado não são imóveis; guardaram a força terrível, a feliz inconsciência da esperança, que então se lançava ao encalço de um tempo hoje convertido em passado, mas que a alucinação nos faz, por instantes, tomar retrospectivamente como futuro."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.110)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

do pouco que a realidade constitui para nós - Proust

As horas
"Dizem certos filósofos que o mundo exterior não existe, e que é em nós mesmos que desenvolvemos nossa vida. Seja certo ou não, o amor, mesmo em seus mais humildes começos, é um exemplo impressionante do pouco que a realidade constitui para nós."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.116)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

me dê motivos


Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas.

(Drummond)

apenas uma voz

“Eu precisava de uma voz para me impedir de entrar em pânico. Você faz coisas estranhas quando se sente vazio por dentro”.

(Do filme: Setembro, Woody Allen)

morada

“... tu, aquele que mora na noite do meu pensamento destroçado”.

(Inês Pedrosa in: Fazes-me falta)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Deve ser bom passar boa parte da vida em paz consigo

"Recuso-me a iniciar diálogo telepático: a aparente felicidade em excesso é insultante. Apenas sorrio para não me mostrar indelicado... (...) Deve ser bom passar boa parte da vida em paz consigo mesmo; estoicismo exemplar. Sou naturalmente atormentado."

(Evandro Affonso Ferreira in: Minha mãe se matou sem dizer adeus. Ed. Record, p. 59)

da inteligência - na estupidez

“Uma coisa só me maravilha mais do que a estupidez com que a maioria dos homens vive sua vida: é a inteligência que há nessa estupidez.”

("A obra em prosa de Fernando de Pessoa". Livro do desassossego, 1ª. Parte, Introdução e nova organização de textos de António Quadros. Publicações Europa-América, p. 241)

do não dito

"Escuto de volta o eco das coisas que não falei."

(Claudia Nina in: Esquecer-te de mim. Ed. Babel, p. 8)