quinta-feira, 13 de maio de 2010
Rousseau: teoria espartana do alimento
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi considerado um dos maiores pensadores europeus no século XVIII. Sua obra inspirou reformas políticas e educacionais, e tornou-se, mais tarde, a base do chamado Romantismo. No que se refere à gastronomia, ou melhor, à renúncia dela, ele foi o pensador mais emblemático.
Rousseau alimentava-se para sobreviver. Caso não fosse necessário para manter-se vivo, é provável que ele dispensasse os alimentos sem grande esforço.
Por isso, Jean-Jacques desenvolve uma teoria espartana do alimento. Gastrósofo socialista, o filósofo refere-se ao populismo de tal modo que temos a impressão de ler a argumentação plebéia típica a respeito da alimentação: o luxo da burguesia é a razão da pobreza dos camponeses.
“Queremos molho em nossas cozinhas; eis por que tantos doentes não têm sopa. Queremos licores sobre nossa mesa; eis por que o camponês só bebe água. Queremos empoar nossas perucas; eis por que tantos pobres não têm pão”. (Discours sur les sciences El les arts, Discours sur l´origine de l´iinégalité parmi les homes, Obras completas de Plêiade, editora Bernard Gagnebin e Marcel Raymound)
Para o pensador suíço, a alimentação do nômade é simples, natural. Já a do sedentário é complicada, artificial. Rousseau opõe essas duas lógicas para desejar um renascimento da alimentação nas origens. Comer, para o pensador, é consumir o rústico e o simples, só aceitar os alimentos que não necessitam preparação – ou preparação mínima. Já o uso do álcool, para Rousseau, é uma prática civilizada.
Não ingerir carne, para o filósofo, era uma questão de caráter. No entanto, poderíamos lembrar ilustres vegetarianos, que tinham sede de carne humana. Um deles? Adolf Hitler. Rosseau, de fato, enganou-se.
Fonte: O ventre dos filósofos – crítica da razão dietética, Michel Onfray, Ed, Rocco, 1990.
Texto: Vanessa Souza
Publicado originalmente em: http://www.informativomalagueta.com.br/edicao.asp
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Somos o que comemos, literalmente. Rosseau achava que o homem nasce virtuoso e a sociedade o corrompe. Vou recostar-me em teu divã. Abraço
ResponderExcluirNossa, estou adorando essa semana do seu blog, está M A R A V I L H O S O.....beijos Vanessa.... Ana!!!
ResponderExcluirse o homem nasceu bom e bom não se conservou, a culpa é do alimento que o transformou?!
ResponderExcluirDiz-me o que comes, dir-te-ei quem és :)
ResponderExcluirAdmiro a obra de Rousseau, fundamentalmente pelo que representa na perspectiva filosófico-literária. Ainda assim, repudio extremismos, seja em que ala for. Pugnar por um estilo de vida rústico não me choca; valorizar a essência parece-me um bom princípio. Agora, custa-me a entender os critérios da rejeição da carne numa dieta alimentar, por exemplo, e a aceitação (para não dizer imposição) do álcool. Voilà!
Um beijo!
Como sempre suas resenhas são de extrema qualidade...você consegue ser complexa sem perder o ar esteta...
ResponderExcluirAliás gosto muito quando você nos privilegia com seus textos!
abraço
A felicidade consiste num bom saldo bancário, numa boa cozinheira e numa boa digestão. [ Jean-Jacques Rousseau ]
ResponderExcluirOi Vanessa!
ResponderExcluirAchei a 'tua cara' este post. Bom, conheço pouco de Rousseau e não sabia acerca destes pontos de vista sobre gastronomia.
Beijos
somos o que comemos?
ResponderExcluirBeijo
Oi Vanessa! Tem selo Prêmio Dardos para vc no meu blog!
ResponderExcluirhttp://www.suburbanamente.blogspot.com/
Abraços