domingo, 16 de maio de 2010

Para Ana Cecília - da amizade


Para ler ouvindo Why try to change me now, versão de Fiona Apple

"Ao pássaro, o ninho. A aranha, a teia. Ao homem, a amizade". (William Blake)

Estou participando de um congresso de psicanálise que tem como tema as paixões. A primeira mesa falava da amizade.
A filósofa Telma de Souza Birchal trouxe a história da amizade entre Michel de Montaigne e Étienne de La Boétie. Compartilhavam da paixão pelos mesmos autores e foram amigos por quatro anos. Até que Boétie morreu - deixando de presente sua biblioteca para Montaigne, que escreveu lindas palavras ao amigo. No entanto, nunca elaborou de fato o luto.
Eis o que Montaigne escreveu para Étienne:

"Se comparo toda a minha vida com os quatro anos em que me foi dado desfrutar da doce companhia e convivência deste indivíduo, ela é apenas fumaça, é apenas uma noite escura e tediosa".

"(...) privado do amigo mais sauve, o mais caro e o mais íntimo, tal que nosso século não viu melhor..."


"Não há ninguém a quem eu queira confiar plenamente meu retrato: apenas ele desfrutava de minha imagem".


"Se me pressionarem para dizer porque o amava, sinto que isto não pode ser expresso, senão respondendo: porque era ele, porque era eu".


Anotei as frases acima enquanto Telma falava, sei que são do "Ensaios" de Montaigne, sem poder precisar página e editora.

Tudo isso para dizer que Montaigne escreveu seus ensaios a partir da experiência da sua amizade com Étienne. Também, só para registrar que a carioca Ciça é parte essencial da minha vida, desde aqueles e-mails e aquele café com leite condensado. Só, e apenas a ela, confio o meu retrato. Aquele que eu enxergo. Antes de toda a maquiagem. O mais verdadeiro, a minha verdade psíquica.

P.S.: e se eu morrer antes, minha biblioteca é toda sua, minha amiga.

P.P.S.: é claro que tenho outros amigos me são extremamente caros e essenciais, como Andy Mendes e Paty Alvim. Além de outros que posso ficar uns meses sem ver, e quando retomado o contato, a impressão é de que nunca nos separamos um só dia. Fato é que eu e Ciça temos algumas identificações assustadora e deliciosamente... Inexplicáveis. Quase indizíveis. Quando o termômetro da angústia mostra a febre, é para ela que ligo. Quando fico super-feliz-de-verdade-em-mania, é para ela que mando um torpedo, primeiro. Ela é meu alterego de preto e poás branco :)

12 comentários:

  1. Amizade verdadeira, item raro, singular, sem par... Quando o termômetro da angústia mostra a febre, é para ela que ligo. Poético! ;)

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  2. Oi Vanessa!! Olhei que você está me seguindo no BotaPontoNisso e vim conferir seu blog.

    Simplesmente adorei... Me identifiquei bastante!! Moda, comunicação, psicanálise, saúde, sociedade.... fantástico juntar tudo em um só lugar! E esse é o objetivo do meu blog também. Ele está um pouco abandonado por conta do encerramento de minha graduação (Psicologia), mas breve breve ele voltará ao funcionamento normal e com muitas novidades. E como dizes, ele é meu próprio Divã.

    E sobre amizade, eu também já prometi todas as minhas maquiagens e biblioteca para uma grande amiga! Amizades: não tem preço!

    Ademais, onde você cursa o Mestrado? É muito meu interesse por ele.

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  3. Que linda declaração de amor Vanessa...
    Bom domingo

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  4. Fui ali buscar um lenço...post lindo.

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  5. Deve ser a sincronicidade! Muito bonito!

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  6. belíssima a citação de blake, vanessa. é isso mesmo: ao ser humano, a amizade... tudo o mais é menos.
    um beijinho!

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  7. Tenho amigos para saber quem eu sou.
    Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

    Oscar Wilde

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  8. Gostei uns tantos disso tudo, alumbra-me este querer bem. Abração

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  9. Faço minhas as palavras que V_ citou...

    abraço

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  10. Que bonito isso, é gostoso de sentir!!!

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  11. Ai, ai, pronto: fez-me chorar. Ousadia minha querer comentar qualquer coisa após seu belíssimo texto. Apenas queria dizer que tb encontrei meu alter ego em ti. Se em priscas eras alguém me dissesse que minha mais nova amiga de infância seria uma analista patricinha eu juro que cairia na gargalhada.
    Como explicar tanta afinidade, me diz? Ambas idosas precoces, rabugentas, amantes da literatura e das artes em geral, devoradoras de bolos, agnósticas, fóbicas de telefone, reclamonas e, claro, lindas. rs Só me diferencio de ti quando vejo o quanto terei de caminhar para chegar perto do teu conhecimento (ASSOMBROSO!), e da tua capacidade de fazer bem a quem ama. Sou uma pessoa de muita sorte por tê-la em minha vida, querida.
    Agradecer-te é (sempre) pouco.
    Ciça

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