No início do ano escrevi umas matérias inspiradas num livro que conta a vida de pessoas notáveis, sob o ponto de vista etílico. Vou publicá-las aqui a partir de hoje.
Conhaque + amor desmedido = tragédia
Atire o primeiro remédio para ressaca (creio que não seja de bom tom citar uma marca conhecida aqui) quem nunca tomou um porre (refiro-me aos maiores de idade, que fique claro). É uma experiência única, até para saber se vale a pena ou não os próximos goles. A bebida alcoólica faz parte da história da humanidade. Na Suméria e no Egito já se fazia vinho e cerveja. Quem não tem uma boa história de esbórnia etílica para contar? Ainda que seja de um amigo...
Ulisses Tavares, jornalista-publicitário-roteirista-entre-outras-profissões, contou várias destas histórias no livro “Hic!stórias! Os maiores porres da humanidade” (Ed. Panda Books, 2009).
A primeira bêbada encantadora da série é a talentosíssima, bela e trágica escultora francesa Camille Claudel. Com 19 anos, no início do século XX, Camille vai para Paris estudar artes. Seu trabalho fantástico (esculturas em mármore) chamou a atenção do escultor Auguste Rodin – já famoso e autor da obra “O pensador”. Rodin já tinha mais de 40 anos e era conhecido pelo seu apreço pelo vinho e noitadas. Apreciador das artes, Rodin fez de Camille sua discípula e amante fixa.
Durante anos foi Camille quem finalizou as obras mais significativas de Rodin, além de ter servido de modelo para elas. Quinze anos com Camille, e Rodin não havia deixado sua esposa submissa, Rose. Além disso, não deixava que Camille assinasse as obras feitas a quatro mãos, além de agredi-la moral e fisicamente. Camille abandonou Rodin. No entanto, instalou um estúdio próximo ao dele. Também adotou comportamentos destrutivos: a cada verão acabava com as obras que havia produzido no inverno.
“Ao que se sabe, usava o álcool, especialmente conhaque, para se aquecer do frio de Paris e para esquecer sua paixão. Resultado de tanto conhaque é que, aos quarenta anos, aparentava ser uma decrépita velhinha maltratada. Foi então resgatada pela família e internada em um manicômio, que, na época, era pior que as cadeias brasileiras de hoje.” (Tavares, p. 83)
Em 1943, 25 anos depois da internação, Camille morre no hospício. Como todo grande artista, não teve reconhecimento em vida. Amor demais e conhaque demais foram letais para uma alma perturbada e criativa.
Texto: Vanessa Souza Moraes
Fonte: Ulisses Tavares in: “Hic!stórias! Os maiores porres da humanidade” (Ed. Panda Books, 2009)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Adorei o texto!
ResponderExcluirBem Maysa.
Qui legal o post. :D
ResponderExcluirFantástico Vanessa.
ResponderExcluirAdorei o post...
ResponderExcluirAs vezes amor demais mata mesmo ne!
há pessoas (rodin) com capacidade de arrancar das entranhas (camille) o poder da alma e entregar o corpo ao desbarato. alma vampirizada, ainda que extasiada de amor, que por certo teve um fio condutor que soube ser utilizado de forma invertida ( por rodin), apaga qualquer pessoa (camille) por mais inteligente e genial que seja. o que de facto incomodava nessa jovem mulher? O ferver de um génio oculto, ou o facto de ser Mulher, tendo em conta a época!?? É preciso avançar mais sobre esse paradigma chamado Camille Claudel, para lá da suposta loucura.
ResponderExcluirParasitismo. Pobre Camille.
ResponderExcluir