segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
A espera - por Barthes
"ESPERA. Tumulto de angústia suscitado pela espera do ser amado, no decorrer de mínimos atrasos (encontros, telefonemas, cartas, voltas).
(...) quanto a mim, só espero um telefonema, mas é a mesma angústia. Tudo é solene: não tenho noção das proporções.
(...) No terceiro ato, alcanço (obtenho?) a mais pura angústia: a do abandono; acabo de pensar, num segundio, da ausência à morte; é como se o outro estivesse morto: a explosão de luto: fico inteiramente lívido.
(...) A angústia de espera não é sempre violenta; tem seus momentos de calma; espero, e tudo que está em volta da minha espera é atingido de irrealidade: nesse café, observo os outros que entram, batem papo, se divertem, lêem tranquilamente: esses não esperam.)
(...) Porque a angústia de espera, na sua pureza, quer que eu fique sentado numa poltrona, o telefone ao meu alcance, sem fazer nada.
(...) O ser que espero não é real. Assim como o seio da mãe para o bebê, *"eu o crio e o recrio sem parar a partir da minha capacidade de amar, a partir da carência que tenho dele": o outro chega onde eu o espero, onde já o criei. E se ele não vem, alucino: a espera é um delírio".
(...) às vezes ainda me angustio com um telefonema que demora, e, em cada importuno, creio reconhecer a voz que eu amava: sou um mutilado que continua a sentir dor na perna amputada.
(...) A identidade fatal do enamorado não é outra senão: sou aquele que espera".
(Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes)
*Winnicott, Jogo e Realidade
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A vida é feita de esperas,
ResponderExcluirde acasos.
São eles matéria prima
da minha poesia.
Realmente ' saudade é o inferno dos que perderam'
ResponderExcluir(...) Porque a angústia de espera, na sua pureza, quer que eu fique sentado numa poltrona, o telefone ao meu alcance, sem fazer nada.
Gostei.
Beeiijos
A eterna espera. Jogada aos teus pés.
ResponderExcluirAi, ai, mais um livro para minha cabeceira... rs Vc também, heim? Tem dedo verde para selecionar os trechos - e nos deixar com água na boca.
ResponderExcluirCiça,
ResponderExcluirAnote sim! Esse livro é demais!
Estou relendo - li pela primeira vez há quase 10 anos, e com outro olhar.
Vou começar a estudar essa obra na aula de Lacan, que começa nesta quinta.
comecei a ler esta fantástica obra, porém, não tive tempo de terminar.
ResponderExcluirdaí acabei pegando uns fragmentos e postando lá no reino das palavras.
depois voltarei a leitura.
lindo post :)
ameeeeei.
beijo moça!