Concedi uma entrevista ao blog do Dallas Diego, confiram no link:
http://dallas-diego.blogspot.com/2010/01/entrevista-vanessa-souza.htmlOu, ainda, leiam abaixo:
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Entrevista: Vanessa Souza
"O sujeito não é. É um vir-a-ser. E um vir-a-ser é muito mais interessante do que ser."
Vanessa Souza
1 - Você escreveu no perfil do seu blog “Jornalista - especializada em Moda e Comunicação - e Psicanalista. Não necessariamente nesta ordem.”. O Jornalismo puxou a Psicanálise, ou foi o inverso?
Fiz vestibular para jornalismo, aos 17 - pueris - anos pois queria ser escritora, e precisava escrever direitinho. Em 11 anos de jornalismo, as redações tumultuadas e os empregos múltiplos - já tive quatro ao mesmo tempo - nunca me permitiram ter tempo para dedicar-me a um livro. Quando terminei a faculdade de jornalismo, pensei em fazer uma pós em psicanálise. Mas apareceu a pós em Moda e Comunicação, e na época eu era repórter de cultura em um grande jornal. Achei mais sensato estudar Moda. Depois que terminei, e ia para o mestrado, decidi fazer um curso de transmissão em psicanálise - que eu concluí em 2009. Este ano começo mestrado em psicanálise.
A psicanálise sempre me instigou muito. Fui uma criança precoce. Li Nelson Rodrigues aos sete anos de idade - escondida, claro. E comecei a fazer análise muito cedo, na infância. Freud me caiu nas mãos quando criança, mas eu não tinha compreensão o bastante para assimilar. Respondendo às perguntas, acho que ambas as coisas vieram quase juntas, mas a formação em jornalismo deu-se antes.
2 – Segundo o site Wikipédia, a Psicanálise propõe à compreensão e análise do homem. Na sua concepção, como funciona esse entendimento?
Não concordo com essa definição da Wikipédia, de todo. A psicanálise não é uma ciência, é um saber. Um saber que se constrói em uma relação entre sujeitos. Lacan - meu psicanalista favorito, aquele que eu continuo a estudar após a formação - dizia que não se deve compreender muito rápido. Vale salientar, aqui, que o inconsciente se revela através do tropeço: dos sonhos, dos atos falhos, dos lapsos de linguagem, dos esquecimentos. É de uma maneira "torta" que o sujeito revela o que não pode colocar em palavras.
3 – Há pacientes que não atendem ao tratamento, isso se torna uma frustração para o psicanalista?
Análise não é para qualquer um, disse Lacan. O sujeito precisa ter demanda de análise, desejo de saber. Contudo, essa demanda de análise é construída, poucos querem saber sobre sua falta. Ou seja, se a pessoa não deseja saber, ou não está preparada para isso, é melhor não fazer análise. Esse "atender ao tratamento" é um pouco subjetivo. Psicanálise não cura nada. O psicanalista, na verdade, compromete a pessoa com o seu sofrimento. O sujeito só pode mudar alguma coisa se ele se der conta da participação dele, naquilo que se queixa. É possível dizer que o psicanalista não direciona o analisando, ele fica um passo atrás dele: não o deixa parar de andar, e está alí para o caso do sujeito cair ou tropeçar. Há uma frase do Jorge Forbes, psicanalista da atualidade, que define bem o papel do psicanalista: o analista é alguém que não deixa você desistir de você mesmo, responsabilizando o sujeito na sua dor, mas também nas suas conquistas.
4 – Há pessoas que proferem o seguinte dizer: Uso porque “tá na moda”. Moda é a tendência de consumo de tais peças, objetos, entre outros...?
Moda é muito mais do que consumo. É arte, é estado de espírito, é afeto. As pessoas vestem-se para se agruparem, basicamente. Para causar desejo no Outro. Não vou me estender muito nisso. Chanel explica bem em uma frase: a moda passa, o estilo fica.
5 – Denominou seu blog de “Meu Divã é na Cozinha”, isso remete o fato de você gostar mais da Psicanálise do que o Jornalismo? E como é manter o blog sempre atualizado?
Na verdade, eu fiz um curso de gastronomia e a ideia do blog era apenas postar receitas com fotos. Os devaneios literários e a psicanálise ficavam para minha agenda pessoal. E eu anoto tudo o que me inspira: um diálogo na rua, trecho de um filme, fragmento de um livro, frases de um congresso de psicanálise... TUDO! Até que comecei a deixar de anotar na agenda e postar no blog. Não é um diário virtual, não tem relação alguma com meu momento do dia. São coisas que me tocam - tristes, alegres, bonitas, profundas... O jornalismo nunca vai me deixar, são 11 anos de estrada - até mais, quando tinha 14 anos eu editava dois fanzines, já fazia parte da imprensa alternativa, bem antes dos blogs e de toda a web. Contudo, confesso que a psicanálise anda me mobilizando mais.
Manter o blog atualizado é uma delícia. Tenho centenas de livros - minha biblioteca é vasta e eu adquiro novos volumes todas as semanas, sou, creio eu, uma das maiores compradoras da Estante Virtual - e caderninhos com todas as inspirações que eu citei acima. Fora o que meus amigos, aqueles que fazem parte do "gueto dos transbordantes" me enviam. De vez em quando recebo e-mails do gênero: isto vale um post. Material, creio eu, nunca vai faltar. Até porque eu me alimento de palavras. Tenho SEMPRE um livro a tiracolo: leio na fila do banco, dentro do carro, na sala de espera da analista, em todas as situações possíveis - e as não possíveis também.
6 – Por que de fato não escrever um blog jornalístico e/ou sobre Psicanálise?
Blog's de jornalismo têm aos montes por aí. Todo mundo quer dar sua opinião sobre tudo. Eu não dou a minha se não tenho propriedade no assunto. Acaso eu escrevesse apenas sobre psicanálise, teria uns 10 leitores. Por isso, resolvi juntar tudo o que eu gosto: psicanálise, literatura, gastronomia, música, moda... Certa vez recebi um comentário muito áspero de uma psicanalista, que, em resumo, dizia que meu blog era uma "confusão" de assuntos. Eu sou muitas mulheres em uma, por qual motivo iria me limitar a um tema apenas?
7 – Atualmente você reside no Rio de Janeiro, cidade que enfrenta diversos problemas, tanto sociais quanto estruturais. A maioria das estruturas feitas para o Pan 2007, hoje não é aproveitada pela sociedade e mesmo assim os governos Federal e Estadual irão gastar bilhões de reais para promover a Copa e a Olimpíada. A principio seria melhor resolver os problemas citados anteriormente à que promover tais eventos? O Brasil sempre será um país de dois “gumes”?
Seguindo essa linha de pensamento, a África também não deveria sediar evento esportivo algum.
8 – Foi publicado no site “GTERRA” em 18/06/2009: "Não há no jornalismo nenhuma verdade científica. O curso de jornalismo não elimina os riscos do mau uso da profissão. Há riscos no jornalismo, mas nenhum desses é imputável ao desconhecimento de uma verdade científica", afirmou o ministro Cezar Peluso. O que você acha da decisão de não ser exigido o diploma para Jornalista?
Achei ruim, para ser honesta.
9 – Legião Urbana, Tom Jobim, Elis, Maria Rita. Porque não o Funk carioca?
Gosto de música com letra que me diz algo, que me toque. Definitivamente, o funk carioca não me diz nada, muito pelo contrário.
10 – Para encerrar, gostaria que definisse algumas pessoas:
Presidente Lula: um idiota.
Governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral: um turista no Rio.
Freud: um gênio. Pena ter considerado as mulheres "o continente negro" de sua teoria.
Nize da Silveira: Não considero o Jung o maior psicanalista de todos. Porém, o trabalho que a Nize desenvolveu com a arteterapia é fabuloso! Visitar o Museu de Imagens do Inconsciente, que ela fundou no Rio de Janeiro, foi uma das experiências mais interessantes que eu já tive, em se tratando de emoção estética.
Clodovil: virou purpurina, rs.
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Vanessa Souza é Jornalista e Psicanalista radicada no Rio de Janeiro. Autora do blog "Meu Divã é na Cozinha", que possui mais de 200 seguidores, mostrando assim o sucesso atingido. Também é colaboradora do blog
"Amálgama". Gostaria de agradecê-la pela entrevista e indicar o seu blog para os demais leitores da entrevista!
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