Por Vanessa Souza
Para ler ao som de Hay Amores, Shakira
Um jardim de margaridas
- Não acredito como vivi todo esse tempo longe de você.
- Mas viveu. Vivemos – ela respondeu, suspirando longamente.
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(Re)encontraram-se ao acaso. Eles, que não acreditavam em acaso. Nem em Deus. No aeroporto. Num dia qualquer, da semana. Ele ia, ela voltava. Eles nunca tiveram o mesmo tempo. Quando ela avançava, ele recuava. E vice-versa.
Encontraram-se num aeroporto, 13 anos depois da última vez. Número emblemático, Luísa pensou. Ela, que adorava filmes de terror. E esse fantasma aparece em sua frente.
Esbarraram-se no aeroporto. Em frente ao McDonald´s. Ela, apressada, como sempre. O tempo não os mudara tanto fisicamente. O (re)conhecimento foi rápido. Rápido Stanley também era, para a maior parte das coisas.
- Luísa– num rápido gesto espontâneo abraçou-a forte.
Ela não esperava. Óculos, bolsa, livro, tudo foi ao chão.
- Stan ... Quanto tempo! – abraçou-o com mais delicadeza. – Preciso ir ao banheiro, um minuto.
Ele ajudou-a a juntar as coisas no chão.
Luísa entra no banheiro tremendo. Fantasiou tanto aquele encontro, de tantos jeitos, com tantas roupas, tantas frases inteligentes e lá estava ela, encostada na porta do banheiro do aeroporto, sentindo-se emparedada, com uma taquicardia tremenda. Respirou fundo, olhou-se no espelho. Estava bem mais bonita do que da última vez em que o vira. Isso deu coragem o bastante para sair do pequeno cubículo e encará-lo.
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Ele a esperava lá fora. Ela sorriu. Ele sorriu. Abraçaram-se de novo. O abraço mais apertado do mundo, o melhor de todos. Luísa sentiu-se atirada violentamente ao passado. Passado sempre presente. Ela nunca havia exorcizado Stan de todo. Parecia que a recíproca era verdadeira. Ele estava aturdido com a aparição.
Decidiram (re)marcar os vôos para mais tarde, e foram caminhar na praia. A vida poderia esperar umas horas.
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Tomaram sorvete, andaram na areia, lembraram de coisas engraçadas, sérias e tristes.
- Fui eu quem te deu o livro que estás lendo – disse ele, referindo-se ao livro que ela tinha em mãos no aeroporto.
- Não foi.
- Eu te dei esse livro – Josh insistiu.
- Não deu, Stan. Ia me dar. Por algum motivo, para me punir talvez, não me destes. Eu comprei e o perdi. Precisava dele na semana passada, e achei um exemplar no sebo – explicou.
- Tinha certeza que havia te dado.
- Memória inventada – respondeu ela.
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Falaram de livros, filmes, do que fizeram nos últimos anos. Coisas demasiado sérias e bobagens tremendas. Surpreenderam-se por suas vidas terem se aproximado tantas vezes, e não terem se encontrado antes. Era preciso uma colisão, uma explosão. E alí, sentados olhando para o mar, sentiram-se em paz.
Deixaram a praia horas depois, com grande relutância. Havia muito a ser dito. A palavra certa sempre foge, escapa. Como eram aqueles dois. A angústia do nunca-mais-se olharem-nos-olhos-outra-vez, foi violenta. Com um leve desespero, cada um foi para seu lado. Havia um jardim de margaridas ali. Paz e desespero. A história não tem fim. Doces fantasmas sempre podem (re)aparecer. Em uma sexta-feira treze. Ou a cada treze anos.