Manobra incomum de Lacan

“Lacan salientou o modo como muitos pacientes obsessivos falam continuadamente, até fornecendo informações de seu próprio material, para impedir o analista de dizer qualquer coisa. (...) Um dos pacientes de Lacan escreveu sobre o tratamento escandaloso que recebeu do analista: enquanto ele estava no meio de suas “associações livres”, Lacan saiu da sala para atender um telefonema ou buscar uma xícara de chá, observando, ao sair do consultório, “Não hesite em continuar a sessão durante a minha ausência”. Em vez de ver isto da mesmo forma que o paciente – como uma quebra grosseira da dignidade profissional -, pode-se compreende-lo como uma resposta, uma interpretação justamente desse tipo de interpretar que estávamos discutindo: o paciente fala para colocar o analista para dormir, para mantê-lo no lugar de um cadáver. A manobra incomum de Lacan teve o efeito de contrapor-se a isto, ao enviar de volta ao paciente a mensagem de que ele poderia muito bem não estar ali”.

(Por que as mulheres escrevem mais cartas do que enviam, Darian Leader, p. 119, Ed. Rocco, 1998, Rio de Janeiro)