sábado, 22 de agosto de 2009

Leitura de sábado - sempre José Castello


"Todo grande poema, na medida em que assassina a poesia que o precede, se torna um crime. Poema que leio com dificuldade, porque me dói, mas que também me desperta. Nele, o sofrimento vitaliza o presente. A cada verso, as imagens explodem. Leio, penso e anoto - o livro, em pouco tempo, está imprestável. Mas é assim: ler é lutar com a escrita. (...) A tristeza é o pano de fundo, o contraste contra o qual o poema se impõe. É preciso sustentá-la. Escreve Fernando: "Você pensa então que não está só - mas está". Todo leitor está só. Assim é a foto de Ana: bela, porque insuportável. Carregada de segredos, porque direta e simples. Uma fotografia que me leva para além da imagem; e que (como um poema) aumenta minha solidão. (...) A poesia é o mar de intranquilidade. Nela tocamos nas piores coisas porque a beleza sempre nos salva. Zona de perigo, em que as precauções são inúteis. Terreno de liberdade no qual a escrita não se submete a medidas e não se amedronta".
(Poesia e terror, O Globo, caderno Prosa & Verso, p. 4, 22/08/09, José Castello)

Imagem: O modelo vermelho, 1937, René Magritte

Um comentário:

  1. "ler é lutar com a escrita" eu diria que ler é lutar consigo e ver o invisível no visível. Parabéns o blog está demais!

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