domingo, 30 de setembro de 2012

funeral de suas fantasias antigas

"As nações relutam em aprender; e, quando o fazem, sobretudo é a partir de seus erros e equívocos passados, do funeral de suas fantasias antigas."

(Zygmunt Bauman in: Isto não é um diário. Ed. Zahar, p. 23)

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sábado, 29 de setembro de 2012

podia chorar sem pecado

"Assim, pela primeira vez, minha tristeza não era mais considerada como uma falta punível, mas como um mal involuntário que acabavam de reconhecer oficialmente, como um estado nervoso de que eu não era responsável; fora-me dado o consolo de não ter de mesclar nenhum escrúpulo à amargura de minhas lágrimas, podia chorar sem pecado.”

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 42-43)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

nascimento a penas e alegrias novas

"Em mim, também, foram destruídas muitas coisas que julgava iriam durar para sempre, e novas coisas se edificaram, dando nascimento a penas e alegrias novas, que eu não poderia prever então, da mesma forma que as antigas se me tornaram difíceis de compreender."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 41)

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

meu coração batia tão forte que eu tinha dificuldade de andar

"Dali a pouco, ouvi-a subir para fechar a janela. Dirigi-me sem ruído para o corredor; meu coração batia tão forte que eu tinha dificuldade de andar, mas ao menos, já não batia agora de ansiedade, mas de terror e de alegria."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 40)

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

um poderoso medicamento

"De repente, minha ansiedade declinou e senti-me invadido de uma grande felicidade, como quando um poderoso medicamento começa a produzir efeito e nos tira uma dor..."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 37)

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terça-feira, 25 de setembro de 2012

pô, mas essas criaturas não vão nascer?


"Aquela melancolia de pensar: pô, mas essas criaturas não vão nascer? Nada mais triste do que personagens que não chegam a nascer."

(Caio F. in: a vida gritando nos cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 96)

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Ou lutar. E ficar bem. Feliz. Criar. Fazer.

"Não suporto o fracasso deliberado, não suporto a covardia. É meio cruel, mas não suporto. Acho que a gente tem que vencer. Ou lutar. E ficar bem. Feliz. Criar. Fazer. Se mexer. ODEIO autodestruição."

(Carta de Caio F. para Paula Dip, São Paulo: 25/11/85)

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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Eu quero! PicNic


# Recomendo muito! O trabalho da querida Lis Rudge é lindo e delicioso. Uma ótima ideia (além dos materiais serem retornáveis ou reciclados depois) inspirada no comfort food. Em princípio, parece ser para os pequenos. Porém, vou contratar a Lis para minha próxima celebração, certamente. Comidinha leve e bonita, do jeito que eu gosto :)

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um código imperioso, abundante, sutil e intransigente

"Possuía ela, para julgar as coisas que se devem ou não se devem fazer, um código imperioso, abundante, sutil e intransigente, com distinções imperceptíveis ou ociosas (o que lhe dava a aparência dessas leis antiga que, a par de prescrições ferozes como o massacre de crianças de peito, proíbem, com exagerada delicadeza, que se cozinhe o cabrito no leite de sua própria mãe ou que se coma ou que se coma o tendão de algum animal)."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 11)

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domingo, 23 de setembro de 2012

umas fragilidades


"(...) Saudade bruta... (...) Aflição de não ser outro lugar, outro tempo. (...) Energia zero indo embora pelas teclas da máquina, livros para a Around. Nenhum remédio que dê alegria: a seco, amanhã continuo. A ausência também. Ou não? Pode ser."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Diário de bordo". Ed. Nova Fronteira, p. 38. O Estado de S. Paulo, 27/7/1986)

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sábado, 22 de setembro de 2012

o destino das palavras

"Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim?", pergunta Saramago. O suor, como sabemos, logo é evaporado ou é lavado com diligência, e, "mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens". Talvez este seja, à sua maneira, o destino das palavras. E então Saramago lembra o seu avô Jerônimo, que, "nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço pois às palavras que escrevi, desejando-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado." Acrescenta ele: "Não há outra esperança." Assim seja."

(Zygmunt Bauman in: Isto não é um diário. Ed. Zahar, p. 22)

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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

onde havia palavras simples, banais, leia algo extremamente belo



E, se fosse possível, um texto que não só explicasse as palavras, mas também guiasse a tua leitura. Ali, onde havia palavras simples, banais, leia algo extremamente belo, algo inesperado, para que você volte, para que você me ame e volte. Ou, mesmo que você não me ame, que essa leitura seja também uma forma de amor. E fique essa comparação, essa esperança.

(Carola Saavedra in: Flores Azuis. Ed. Cia das Letras)

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Ouça

http://www.youtube.com/watch?v=3BIGQxQI_-Y&feature=youtu.be

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Tu passas. E eu, fico?


"Enquanto tu passas pelos teus cinco mil processos, a vida passa, Lúcio. E eu não sei bem se fico".

(Vanessa Souza in: Cadernos de Luísa)

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não pensar nas horas de angústia

"Eu desejava não pensar nas horas de angústia que aquela noite passaria sozinho em meu quarto, sem poder dormir; procurava convencer-me de que elas não tinham nenhuma importância, pois no dia seguinte as teria esquecido, e tratava de apegar-me a coisas futuras que me conduziriam, como por uma ponte, além do abismo próximo que me amedrontava."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 11)

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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

lenta e profundamente no oceano da memória


"Eventos distantes, após transformados pela memória, adquirem um lustro particular porque são vistos isoladamente, separados de seus pormenores causais e suas consequências, das fibras e envoltórios do tempo. Mesmo os protagonistas sofrem uma transformação; afundam lenta e profundamente no oceano da memória como corpos sobrecarregados, descobrindo a cada nível uma nova avaliação, um novo parecer sobre o coração humano."

(Lawrence Durrel in: O quarteto de Alexandria - Justine. Ed. Ediouro: 2006, p. 219)

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Nenhuma carta embaixo da porta.

"(...) Apoiar um segundo a cabeça no posto do cruzamento com a Paulista. Nenhuma carta embaixo da porta. (...) Insana insônia cheia de poços frios de sono. (...) Bem, de certa forma. São João, Ipiranga. Certo, nunca foi Viena. Mas também nunca a vi tão feia, a cidade. Será Mahler, em Prénom Carmen? (...) Não rio tanto quanto pretendia. Ou gostaria. Precisava?"

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Diário de bordo". Ed. Nova Fronteira, p. 37. O Estado de S. Paulo, 22/7/1986)

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terça-feira, 18 de setembro de 2012

da eternidade


Duas horas depois a eternidade já havia terminado.

(Carola Saavedra in: Toda terça. Ed. Cia das Letras)

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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

no fim de contas, nenhuma importância

"Em 16 de novembro de 2008, ao completar 86 anos, um ano a mais do que eu tenho agora, Saramago observou: "Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir." (...) "Ou pior", como Saramago se apressou em acrescentar, "amarga-me a boca a certeza de que umas quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim de contas, nenhuma importância. E por que haveriam de tê-la?"

(Zygmunt Bauman in: Isto não é um diário. Ed. Zahar, p. 21)

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domingo, 16 de setembro de 2012

não queria vê-los. - Proust

"(...) já homem pela covardia, eu fazia o que todos nós fazemos, uma vez que somos grandes, quando há diante de nós sofrimentos e injustiças: não queria vê-los..."

(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 18)

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sábado, 15 de setembro de 2012

desde que evite os espelhos


"Nunca vi ninguém tão só. (...) Numa das vezes em que me falou das suas viagens pelo mundo, perguntei aonde queria chegar e ele me disse que estava em busca de um ponto de vista. Eu lhe perguntei: "Para olhar o quê?". Ele respondeu: "Um ponto de vista em que eu já não esteja no campo de visão". Eu poderia ter dito a ele, mas não tive coragem, que não precisava procurar, que se fosse por isso não precisava ter ido tão longe. Porque ele nunca estaria no seu próprio campo de visão, desde que evite os espelhos. Às vezes me dava a impressão de que, a despeito de ter visto muitas coisas, não via o óbvio, e por isso acreditava que os outros não o vissem, que pudessem se esconder. O que eu vi, nunca falei. Fiquei à sua espera".

(Bernardo Carvalho in: Nove noites. Compainha de bolso, p. 100)

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porque há essa distância


Então, por que tudo isso?, você poderia pensar. Essa exposição do que não fiz, esse inventário de vinganças abortadas. Uma forma sutil de castigo? Uma declaração de amor? Eu não sei, talvez apenas fraqueza, para que você sorria ou sofra, ou talvez uma forma de te querer, de te alcançar, para estabelecer entre nós um elo, um elo impossível, que eu só estabeleço porque estou aqui, porque há essa distância entre o que escrevo e o que você lê, porque há dias não tomo banho, não penteio o cabelo, não saio de casa.

(Carola Saavedra in: Flores Azuis. Ed. Cia das Letras)

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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

uma certa angústia

"Apesar da ausência de todo perigo, ela não podia se livrar de uma certa angústia com a idéia de que um segundo da sua vida, em vez de converter em nada como todos os outros segundos, seria arrancado do curso do tempo e se acaso um imbecil viesse exigi-lo, um dia iria ressuscitar como um morto mal enterrado."

(Milan Kundera in: A imortalidade. Ed. Nova Fronteira, p. 35)

*Imagem: Sasan Abri*
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

da dignidade

"Dignidade é quando a solidão de ter escolhido ser, tão exatamente quanto possível, aquilo que se é e dói muito menos do que ter escolhido a falsa solidão de ser o que não se é, apenas para não sofrer a rejeição tristíssima dos outros."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Meu amigo Claúdia". Ed. Nova Fronteira, p. 33. O Estado de S. Paulo, 17/6/1986)

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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

do aprendizado - Alana Trauczynski



"O medo do fracasso só faz atraí-lo cada vez mais. Só pode alcançar o sucesso aquele que perde completamente o medo do fracasso por encarar ambos, sucesso e fracasso, como uma só coisa: aprendizado".

(Alana Trauczynski in: Recalculando a rota. Ed. RDG)

Onde comprar o livro:

Livrarias Catarinense: http://www.livrariascuritiba.com.br/recalculando-a-rota-rdg-editora,product,LV311276,3112.aspx

Editora RDG: http://www.editorardg.com.br/

Saraiva: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4065150/recalculando-a-rota-uma-louca-jornada-em-busca-de-proposito/

Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30062028&sid=01412338614529448679933146

terça-feira, 11 de setembro de 2012

como? Bauman

"Num lampejo de previsão, pouco depois de ser coroada, a rainha Vitória, jovem, sincera e franca, observou em seu diário, em 28 de dezembro de 1836: "Sempre que ciganos pobres acampam em algum lugar, e crimes, roubos etc. ocorrem, isso é invariavelmente atribuído a eles, o que é chocante: e se eles sempre são vistos como vagabundos, como podem se tornar boas pessoas?"

(Zygmunt Bauman in: Isto não é um diário. Ed. Zahar, p. 15)

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* Imagem: Dali

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

o estilete dos olhares

"Mesmo seu carro lhe dava um pouco de felicidade, porque ali ninguém lhe falava, ninguém a olhava. Sim, isso era o principal, ninguém a olhava. A solidão: doce ausência de olhares. (...) Isso a fez crer compreender que os olhos eram fardos insuportáveis, beijos de vampiros; que fora o estilete dos olhares que gravara as rugas no seu rosto."

(Milan Kundera in: A imortalidade. Ed. Nova Fronteira, p. 32)

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domingo, 9 de setembro de 2012

em busca do silêncio

"Ando em busca do silêncio que a cidade não dá. Da paz que a cidade não dá. Da suavidade zen que esta cidade não dá, nunca deu nem dará nunca. A ninguém."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Ah, bossa-nova, new-bossa...". Ed. Nova Fronteira, p. 23. O Estado de S. Paulo, 29/4/1986)

sábado, 8 de setembro de 2012

vocação da poesia - Kundera

"A vocação da poesia não é a de nos deslumbrar com uma ideia surpreendente; mas sim fazer com que um instante do ser se torne inesquecível e digno de uma insustentável nostalgia."

(Milan Kundera in: A imortalidade. Ed. Nova Fronteira, p. 13)

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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

VII JORNADA NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

VII JORNADA NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA - inscrições abertas para os acadêmicos de letras e saberes multidisciplinares. Inscrições para assistir e apresentar trabalhos no: http://www.filologia.org.br/ Eu já fiz a minha inscrição e enviei resumo da proposta do minicurso que pretendo ministrar :)

Vanessa Souza
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uma exigência e uma impossibilidade

Camilla. Eu sempre tivera certa dificuldade com Camilla, como se ela encerrasse ao mesmo tempo uma exigência e uma impossibilidade. A verdade é que Camilla era uma mulher estranha, o que a tornava ainda mais inadequada, essa definição, “estranha”, uma palavra que não define nada, que pode significar qualquer coisa igualmente vaga e inexata, como “interessante” ou “simpática” ou “agradável”, um desses adjetivos-curinga que a gente usa quando não sabe o que dizer.

(Carola Saavedra in: Toda terça. Ed. Companhia das Letras)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

assistam!

http://www.youtube.com/watch?v=O1ws9f9DwSg Entrevista da amiga querida e talentosa escritora, Alana Trauczynski Assistam! E leiam o livro dela ;)

a paixão pode nos levar além do mundo

“Exatamente por visar a algo fora das formas preestabelecidas, do que se vê e se entende, a paixão pode nos levar além do mundo dos bens, das figuras do cotidiano. Convive com a violência de um “perder-se de si”, impossível de ser apreendido pela emoção, sempre desencadeada e mantida por uma imagem-guia. Perder-se de si é romper com as imagens a partir das quais alguém se reconhece e se orienta na vida, tudo o que, por identificação imaginária, especular, confere identidade. No topo dessa lista encontraremos nosso próprio corpo, e a paixão se mostra capaz de nos fazer esquecê-lo. Sem caber em minhas próprias roupas, sem me reconhecer no espelho, encontro, no desespero dessa condição, o limite no qual o “isso”, aquilo que não consigo nomear em mim ou no parceiro, motor da paixão e sempre fora de cena, se apresenta (p. 20).”

(VIEIRA, Marcus André. A paixão. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

dos olhos


"Comecei a pensar nesses dois olhos abstratos e invisíveis que temos, além dos dois reais-palpáveis. E que são assim: um olho de ver-feio, outro de ver-bonito."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Então vamos continuar dançando". Ed. Nova Fronteira, p. 51. O Estado de S. Paulo, 29/10/1986)

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terça-feira, 4 de setembro de 2012

moto-perpétuo de nossas desilusões está sujeito a maior variedade

"E possivelmente o moto-perpétuo de nossas desilusões está sujeito a maior variedade. As aspirações de ontem foram válidas para o eu o de ontem,não de hoje. Ficamos desapontados com a nulidade do que nos apraz chamar de realização. Mas o que é a realização? A identificação do sujeito com o objeto de seu desejo. O sujeito morreu - quem sabe muitas vezes - pelo caminho. Que o sujeito B fique desapontado com a banalidade de um objeto escolhido pelo sujeito A é tão ilógico quanto esperar que nossa fome se dissipe com o espetáculo de titia tomando sua sopa. Mesmo supondo que, por um desses raros milagre de coincidência, quando o calendário dos fatos corre paralelo ao calendário dos sentimentos, a realização tenha-se dado, que o objeto do desejo (no sentido estrito dessa doença) tenha sido conquistada pelo sujeito, neste caso a congruência é tão perfeita, o estado-do-tempo da aspiração que o real parece o inevitável e (todo esforço intelectual consciente de reconstituir o invisível e o impensável como uma realidade sendo em vão) tornamo-nos incapazes de apreciar nosso contentamento, comparando-o com nosso pesar. A memória voluntária. Proust o repete ad nauseam, não tem valor como instrumento de evocação e provê uma imagem tão distante do real quanto o mito de nossa imaginação ou a caricatura fornecida pela percepção direta. Não há mais do que uma impressão real e um modo adequado e evocação. Tal realidade e tal modo serão discutidos em seu devido lugar."

(Samuel Beckett in Proust. Ed. Cosac & Naif, p. 12-13)

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Como se sobrevive à felicidade?


"Nunca se regressa ao lugar onde se foi feliz - Júlio não temia os regressos, nunca permanecera em território algum o tempo suficiente para se deixar contaminar pelo vírus embrutecedor da felicidade. Seria imoral ser feliz, num mundo tão sobrecarregado de desigualdade. Imoral e perigoso. Como se sobrevive à felicidade? Como se sobrevive às coisas que não dependem de nós?"

(Inês Pedrosa in: Os íntimos. Ed. Alfaguara, p. 110)

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Imagem:Persona

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Viver é barra, meu senhor, e o amor é uma droga pesada

"Sabe aquela linha o-que-será-do-futuro-de-nossas-criancinhas? Sabe aquela linha vamos-valorizar-o-sorriso-de-uma-criança-o-voo-de-uma-borboleta-e-o-azul-do-firmamento? Viver é barra, meu senhor, Deus é naja e o amor - com a licença de Maria Rita Kehl - é uma droga pesada. E nada tenho contra barras, najas e drogas pesadas. Só não acho que fazer aquele cretiníssimo "jogo do contente de Pollyanna" seja a melhor maneira de enfrentar e compreender o real. Todo mundo é médico e monstro. A vida também. Você deve ficar ao lado do médico, mas encarar o monstro quando ele pinta. Senão, meu caro, um dia ele te devora."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Lamúrias com chantili". Ed. Nova Fronteira, p. 48. O Estado de S. Paulo, 9/10/1986)

Imagem: filme "O último tango em Paris" http://www.facebook.com/vencaluisa

domingo, 2 de setembro de 2012

Tentamos interpretar o acaso


"Mas, muito pelo contrário, será que um acontecimento não se torna mais importante e carregados de significados quando depende de um número maior de circunstâncias fortuitas?
Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. Aquilo que acontece por necessidade, aquilo que é esperado e que se repete todos os dias, não é senão uma coisa muda. Somente o acaso tem voz. Tentamos interpretar o acaso como as ciganas lêem no fundo de uma xícara o desenho deixado pela borra do café."

(Milan Kundera in: A insustentável leveza do ser. Ed. Record, p. 54)

De repente, passaram-se dez anos

"Padeço agora de umas fragilidades de que não padecia antes, de umas preocupações com o tempo, com os sustos que o tempo prega. De repente, passaram-se dez anos. Ou vinte"

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Fragmentos de um domingo". Ed. Nova Fronteira, p. 45. O Estado de S. Paulo, 17/9/1986)

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sábado, 1 de setembro de 2012

tão impalpável e tão invisível - Caio F.

"Curioso é que não tenho nada nas mãos. Tenho na alma, será? Mas o que se leva na alma é tão impalpável e tão invisível que é sempre como se não se levasse nada. De qualquer forma, deve restar alguma sombra nos olhos, qualquer coisa assim, fugidia."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Uma semana-Fassbinder". Ed. Nova Fronteira, p. 41. O Estado de S. Paulo, 23/9/1986)

Imagem: Willian Eggleston

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na época do telefone - Caio F.

"Há coisas que só se diz por telefone: telefone elimina rosto, gesto, movimento: a voz fica absoluta. O que a voz diz, ao telefone, é tudo porque por trás dela não acontece nada como um franzir de sobrancelhas, um riso no canto da boca. E, se acontece, você não vê. O que você não vê praticamente não acontece. Ou acontece tão vagamente que é como se não."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Amizade telefônica". Ed. Nova Fronteira, p. 31. O Estado de S. Paulo, 27/5/1986)

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