quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Uma espécie de calma

Matthew Tischler
"Febril, frágil em alguns momentos, Markus tinha, porém, alguma força. Uma espécie de estabilidade, de calma. Algo que torna possível não colocar-se em risco todos os dias. Porque se agitar demais, quando tudo é, no fundo, absurdo? , perguntava-se às vezes, certamente bastante nutrido pela leitura de Cioran.  A vida pode ser bela quando sabemos da inconveniência de termos nascido."

(David Foenkinos in: A delicadeza. Ed. Rocco, p. 156)

Fragmento do leitor 28

Ralph Steiner
“Estirado na cama, fora da zona iluminada pelo lampião de querosene, enquanto devaneava sobre a própria vida, Giovanni Drogo foi repentinamente invadido pelo sono. Entretanto, justamente aquela noite — oh, se o soubesse, talvez não tivesse vontade de dormir —, justamente aquela noite iria começar para ele a irreparável fuga do tempo.
Até então ele passara pela despreocupada idade da primeira juventude, uma estrada que na meninice parece infinita, onde os anos escoam lentos e com passo leve, tanto que ninguém nota a sua passagem. Caminha-se placidamente, olhando com curiosidade ao redor, não há necessidade de se apressar, ninguém empurra por trás e ninguém espera, também os companheiros procedem sem preocupações, detendo-se freqüentemente para brincar. Das casas, à porta, a gente grande cumprimenta-se benigna e aponta para o horizonte com sorrisos de cumplicidade; assim o coração começa a bater por heróicos e suaves desejos, saboreia-se a véspera das coisas maravilhosas que aguardam mais adiante; ainda não se vêem, não, mas é certo, absolutamente certo, que um dia chegaremos a elas.
Falta muito? Não, basta atravessar aquele rio lá longe, no fundo, ultrapassar aquelas verdes colinas. Ou já não se chegou, por acaso? Não são talvez estas árvores, estes prados, esta casa branca o que procurávamos? Por alguns instantes tem-se a impressão que sim, e quer-se parar ali. Depois ouve-se dizer que o melhor está mais adiante, e retoma-se despreocupadamente a estrada. Assim, continua-se o caminho numa espera confiante, e os dias são longos e tranqüilos, o sol brilha alto no céu e parece não ter mais vontade de desaparecer no poente.
Mas a uma certa altura, quase instintivamente, vira-se para trás e vê-se que uma porta foi trancada às nossas costas, fechando o caminho de volta. Então sente-se que alguma coisa mudou, o sol não parece mais imóvel, desloca-se rápido, infelizmente, não dá tempo de olhá-lo, pois já se precipita nos confins do horizonte, percebe-se que as nuvens não estão mais estagnadas nos golfos azuis do céu, fogem, amontoando-se umas sobre as outras, tamanha é sua afoiteza; compreende-se que o tempo passa e que a estrada, um dia, deverá inevitavelmente acabar.
A um certo momento batem às nossas costas um pesado portão, fecham-no a uma velocidade fulminante, e não há tempo de voltar. Mas Giovanni Drogo, naquele momento, dormia, inocente, e sorria no sono, como fazem as crianças.
Passarão alguns dias antes que Drogo entenda o que aconteceu. Será então como um despertar. Olhará à sua volta, incrédulo; depois ouvirá um barulho de passos vindo de trás, verá as pessoas, despertadas antes dele, que correm afoitas e o ultrapassam para chegar primeiro. Ouvirá a batida do tempo escandir avidamente a vida. Nas janelas não mais aparecerão figuras risonhas, mas rostos imóveis e indiferentes. E se perguntar quanto falta do caminho, ainda lhe apontarão o horizonte, mas sem nenhuma bondade ou alegria. Entretanto, os companheiros se perderão de vista, um porque ficou para trás, esgotado, outro porque desapareceu antes e já não passa de um minúsculo ponto no horizonte.
Além daquele rio — dirão as pessoas —, mais dez quilômetros, e terá chegado. Ao contrário, não termina nunca, os dias se tornam cada vez mais curtos, os companheiros de viagem, mais raros, nas janelas estão apáticas figuras pálidas que balançam a cabeça.
Até Drogo ficar completamente sozinho e no horizonte surgir a estria de um imensurável mar parado, cor de chumbo. Então já estará cansado, as casas, ao longo da rua, terão quase todas as janelas fechadas, e as raras pessoas visíveis lhe responderão com um gesto desconsolado: o que era bom ficou para trás, muito para trás, e ele passou adiante, sem dar por isso. Ah, é demasiado tarde para voltar, atrás dele aumenta o fragor da multidão que o segue, impelida pela mesma ilusão, mas ainda invisível, na branca estrada deserta.
Giovanni Drogo agora dorme no interior do terceiro reduto. Ele sonha e sorri. São as últimas vezes que chegarão até ele, na noite, as suaves imagens de um mundo completamente feliz. Ai, se pudesse ver a si mesmo, como estará um dia, lá onde a estrada termina, parado na praia do mar de chumbo, sob um céu cinzento e uniforme, sem nenhuma casa ao redor, nenhum homem, nenhuma árvore, nem mesmo um fio de erva, tudo assim desde um tempo imemorável.”

(Dino Buzzati in: O Deserto dos Tártaros. Nova Fronteira, 2003, pp. 27 e 28)

Enviado pelo leitor Valder C. Magalhães Jr.

Para participar:
1) O fragmento (um trecho que não seja imenso) pode ser de livro ou filme (diálogo). Enviem seu fragmento favorito para meu e-mail (vanessa.sza@bol.com.br)
e o título do e-mail deve ser: Qual seu fragmento favorito?    
2) É necessário que o autor/roteirista/diretor/poeta seja publicado/conhecido, para citarmos a fonte corretamente. Autor, título do livro. Com editora e página, melhor ainda. Assim, o leitor pode ir atrás da obra.
3) O nome do leitor e o link do seu blog vão constar aqui, para a divulgação dos mesmos. Quem é leitor mas não tem blog também pode participar. Dia 25 de dezembro o fragmento que mais me tocou vai ganhar um DVD + um livro.

sempre lhe pareceu deslocado, que você nunca compreendeu

Martin Martinček
"Você diz que o amor sempre lhe pareceu deslocado, que você nunca compreendeu, que você sempre evitou amar, que você sempre se quis livre para não amar. Você diz que está perdido. Você diz que não sabe em quê, dentro de quê está perdido."

(Marguerite Duras in: A doença da morte. Livraria Taurus Editora, p. 49-50)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

as palavras dos livros, dos trens, do cinema

"E, pela primeira vez na vida, ela diz as palavras que convém dizer - as palavras dos livros, dos trens, do cinema, da vida, de todos os amantes.
- Eu o amo."


(Marguerite Duras in: O amante da China do Norte. Ed. Nova Fronteira, p. 154)

Momento nostalgia-pura-proustiano - sobre meu TCC de jornalismo

14 de novembro de 2003, Univali (Itajaí/SC). Dia da banca do Trabalho de Conclusão de Curso com meu professor orientador (e por tantas vezes, analista) José Isaías Venera. Foto péssima porque a minha falecida (Lacan a tenha!) Sony Mavica com disquete tinha uma resolução ruim, ruim - boa demais para a época.

Muitos anos (e tantos livros e filmes e mudanças de casas e cidades) depois, e muitos quilos a menos...

Vezenquando procuramos uma coisa, e encontramos outra. Ou vez em sempre. Há anos procuro o texto abaixo - só tinha uma versão impressa - e encontrei hoje, dentro de um livro. Como digitei, aproveito e compartilho com vocês. Não se assustem meus leitores "teens", faz quase uma década que terminei a faculdade :)

***
Parecer analítico referente a grande reportagem impressa
A infidelidade na era.com, de autoria da acadêmica Vanessa Souza.
Por Alessandra Ogeda, jornalista e avaliadora do trabalho de conclusão de curso.


    Jornalismo e literatura. Reportagem e análise. A grande reportagem impressa da acadêmica Vanessa Souza caminha, do princípio ao fim, nestas linhas. E caminha bem.
    Apreciadora da literatura e, especialmente, do escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, ela se inspirou no ídolo para garimpar o tema infidelidade. Se o asssunto é milenar, o meio analisado na reportagem é fruto do final do século 20: a era digital.
    O tema é propício, instigante, provocador. Como uma "boa menina má", Vanessa Souza comenta no relatório final que muito já foi escrito sobre o papel feliz de cupido da Internet. Mas ela prefere seguir o caminho inverso e refletir sobre o outro lado da moeda: a capacidade desse meio em subverter os relacionamentos instáveis.
    A narrativa da grande reportagem é competente e absorve o leitor, intercalando a literatura de Nelson Rodrigues; o trabalho investigativo dos realcionamentos e infidelidades dos entrevistados; e a reflexão do tema com escritores e especialistas da área jurídica e comportamental.
    Todos os objetivos propostos pelo trabalho, como identificar o que é infidelidade virtual - e se ela existe; de que forma a Internet pode influenciar nos relacionamentos ao ponto de desestruturar algumas vidas; contar histórias e analisar o comportamento que elas definem; foram atingidos.
    Assim como os livros citados pela acadêmica, seu trabalho de conclusão de curso figura como um documento que registra uma época, expondo comportamentos sociais. Caso tiver oportunidade, sugiro para a acadêmica que o trabalho seja publicado e possa servir de base para novos estudos.
    O risco de acrescentar Nelson Rodrigues no projeto e não conseguir com que ele se encaixasse no conjunto era grande. Mas Vanessa Souza conseguiu um link (termo da "era.com") perfeito e que incentiva o leitor a buscar mais informações. Seja em livros ou no site do escritor, listados no fim da grande reportagem, ou mesmo em formas de comunicação online, convidando o leitor a experimentar também a experiência e o fascínio da comunicação "sem rostos".
    O trabalho merece também um comentário pela escolha gráfica da apresentação. A acadêmica acertou na utilização do "ambiente" da web, seja em janelas, ícones ou na escolha tipográfica. Importante também, a variedade de personagens entrevistados - fontes diversas sempre encorpam um texto - e a citação de estudos e publicações para dar peso à reportagem.

Blumenau, 14 de novembro de 2003.
***
Imagens dos tempos idos...
Com Soila F. e Ale Ogeda - data não identificada, em Blumenau
Festa de jornalismo, em Balneário Camboriú - 2003 e não devia ser brega foto com beijo, ainda. Ah, eu tinha 20 e poucos anos - sai de mim, superego! 


A inseparável Mi Bianca

Antes da aula de? Sei lá - 2000


Churrasco em Itajaí - 2003  

Sabrina - onde andará?
Elisa, sinto uma saudade desmedida de ti!
Foto do convite de formatura


Encontro: cinco anos de formados (2008)

Por fim, a formatura e um dos melhores abraços que já recebi: Papai

um problema literário a falta de pés no chão? - Clarice L.

Gilda
"Não é truísmo o seu - o problema para quem escreve é antes de tudo um problema literário - mas pergunto-lhe agora: é ainda um problema literário a falta de pés no chão ou é anterior a ele? Acho que estou divagando e nem responda."

(Carta de Clarice Lispector. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 62)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

e que dure

"Eu tinha a despreocupação dos que acreditam na duração da sua felicidade."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Prisioneira. Tradução de Manuel Bandeira e Lourdes Sousa de Alencar. Ed. Globo, p.63)

e não mais que de repente

"Bruscamente ela ri próxima ao rosto do chinês. Acaricia-o e diz:
- A felicidade é engraçada, vem de repente, como a cólera."

(Marguerite Duras in: O amante da China do Norte. Ed. Nova Fronteira, p. 63)

Fragmento do leitor 27

"Há pouco tempo ouvi a escritora argentina Graciela Cabal, falar em público, em Gijón, numa intervenção divertidíssima e memorável. Acabou por dizer (embora ela se expressasse melhor do que eu) que um leitor tem a vida muito mais longa do que as outras pessoas, porque não morre até acabar o livro que está a ler. O seu próprio pai, explicava Graciela, tinha demorado imenso a falecer, porque vinha o médico visitá-lo e, abanando tristemente a cabeça, garantia: "Não passa desta noite"; mas o pai respondia: "Não, nem pense, não se preocupe, não posso morrer porque tenho de acabar O Outono do Patriarca." E, assim que o médico se ia embora, o pai dizia: "Tragam-me um livro mais grosso."- Enquanto isso, amigos do meu pai, que eram saudáveis, fartavam-se de morrer; por exemplo, um pobre senhor que só foi ao médico fazer um check-up e já não saiu - acrescentava Graciela. - É que a morte também é leitora, por isso aconselho a que andem sempre com um livro na mão, porque, quando a morte chega e vê o livro, espreita para ver o que estamos a ler, tal como eu faço no autocarro, e distrai-se."

(Rosa Montero in: A louca da casa. Ed. Ediouro)

Enviado pelo leitor Gilberto Ortega Jr.

Para participar:
1) O fragmento pode ser de livro ou filme (diálogo). Enviem seu fragmento favorito para meu e-mail (vanessa.sza@bol.com.br)
2) É necessário que o autor/roteirista seja publicado/conhecido, para citarmos a fonte corretamente. Autor, título do livro. Com editora e página, melhor ainda. Assim, o leitor pode ir atrás da obra.
3) O nome do leitor e o link do seu blog vão constar aqui, para a divulgação dos mesmos. Quem é leitor mas não tem blog também pode participar. Dia 25 de dezembro o fragmento que mais me tocou vai ganhar um DVD + um livro.

Os trechos devem ser enviados para o meu e-mail eo título do e-mail deve ser: Qual seu fragmento favorito?    

Fragmento do leitor 26

" - Não há para onde ir, não há. Somos fracos, querido amigo... Eu era um indiferente, raciocinava com vivacidade e sensatez, mas bastou a vida tocar-me com a sua brutalidade para desanimar...para esta prostração...Somos fracos, não prestamos... O senhor também, querido amigo, o senhor também. É inteligente, nobre, bebeu as melhores intenções no leite materno, mas mal entrou na vida cansou-se e adoeceu... Fracos, fracos!"

Contos de Tchékhov, volume 2 - editora Relógio D'água

Enviado pela leitora Beatriz Puga, do blog http://tenhoestadoalerwhitman.blogspot.com/

domingo, 27 de novembro de 2011

do-que-se-deseja-escrever-e-não-tem-relação-com-o-conteúdo-do-post

Queridos leitores,

Li em alguns blogs o aviso: apagamos os comentários sem relação alguma com o post. Não o faço, mas acho bem bacana a gente se ater ao que o dono do blog escreveu/reproduziu. Claro que vezenquando o comentário (e eu faço isso) é meio associação livre, o post pode te remeter a uma música, uma frase, uma imagem... Mas creio haver uma linha tênue entre as associações e a falta de bom senso.
Por isso, crio este post permanente para o-que-se-deseja-escrever-e-não-tem-relação-com-o-conteúdo-do-post.
Como divulgação de blogs, postar seus próprios textos, promoções, correntes, orações (e confesso que sou agnóstica, respeito as crenças alheias e fico feliz  - tão feliz, como fico feliz - quando respeitam a minha falta de fé) ou o que mais surgir. 

Com açúcar e afeto,
Vanessa

Resmungos de uma blogueira cansada

Leitores,
Depois de uns tempos de quase sumiço, andei flanando pela blogosfera - por muitas horas. Fiquei entre embevecida e cansada. Este é meu lugar virtual mais especial do mundo, e por isso, algumas observações sobre os blogs.
* Verificação de letras é um objeto de tortura e uma falta de cuidado com o leitor. Eu uso óculos, enxergo mal e dá um trabalho do cão desvendar esses hieroglífos. Já pensei mil vezes que não comento mais onde há esse negócio. Mas acabo passando pela provação, pois tem blogs muito legais que fazem uso... dessa coisa.
* Musiquinhas. Eu sempre ouço música no laptop. E sempre que passeio pela blogosfera, tenho que tirar o som, para não ser invadida pelas vozes alheias, essa coisa meio psicótica. Levo cada susto! Acho mais bacana quando a gente pode escolher ouvir a música do outro, imposições são tão ruins... Por exemplo, creio ser um absurdo quando estou num ambiente público, e um sujeito surge com seus fones de ouvido a berrar. É a mesma coisa.
* Cor da fonte. É lindo cinza claro. Verde neon é cool. Rosa nude é vintage. No entanto, há muitas cores como as citadas quase impossíveis de ler na tela. Às vezes copio e colo no word para ler. Pode isso? Fazemos o blog para nós mesmos, mas é delicado pensar nos leitores. Eu penso em vocês.
* Mais uma vez, eu não respondo comentários para não ficar em réplicas e tréplicas - de um modo geral. No entanto, essa é a minha postura. Mandem e-mail se desejarem aprofundar a discussão, pedir dica de livro ou filme, receita de bolo, elogiar ou reclamar - o que for. Eu respondo assim que puder...
* Detector de visitas recentes. O cúmulo da espionagem! KGB, oi? Eu tenho o direito (penso que tenho, posso não ter) de dar uma lida e sair, sem deixar um rastro pelo caminho. Deselegante. O superego quase te obriga a escrever: "Desculpe, mas não comentei..."
Com o afeto de sempre,
Vanessa

são necessárias?

"Juntos, cultivamos a arte da "perda necessária". Mas as perdas são necessárias?"

(Wendy Guerra in: Nunca fui primeira-dama. Ed. Benvirá, p. 12)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Fragmento do leitor 25

Stardust memories
O calor do dia abrandava. Naqueles olhos e tanto de Diadorim, o verde mudava sempre, como a água de todos os rios em seus lugares ensombrados. Aquele verde, arenoso, mas tão moço, tinha muita velhice, muita velhice, querendo me contar coisas que a ideia da gente não dá para se entender – e acho que é por isso que a gente morre. De Diadorim ter vindo, e ficar esbarrado ali, esperando meu acordar e me vendo meu dormir, era engraçado, era para se dar a feliz risada. Não dei. Nem pude nem quis. Apanhei foi o silêncio dum sentimento, feito um decreto:

- Que você em sua vida toda toda por diante, tem de ficar para mim, Riobaldo, pegado em mim, sempre!… – que era como se Diadorim estivesse dizendo.
Grande Sertão Veredas  -  Guimarães Rosa

Enviado pela leitora Fernanda S de Souza.

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

um livro cuidadosamente colocado diante do rosto era escudo à prova de bala

Philipp Rumpf
"Foi esse inverno em que eu comecei a escrever a sério. Comecei a escrever como se fosse minha única esperança de sobrevivência, procurando escapar. Eu sempre escrevera, de certo modo, sempre adorara os escritores. (...) Crescendo em minha domesticidade caótica, logo aprendi que um livro cuidadosamente colocado diante do rosto era escudo à prova de bala, uma muralha de asbestos, uma capa de invisibilidade."

(Erica Jong in: Salve sua vida. Ed. Círculo do Livro, p. 125-126)

O Larousse estanca ali onde o coração começa


"Perturbação que ela nunca fora capaz de definir. O Larousse estanca ali onde o coração começa."

(David Foenkinos in: A delicadeza. Ed. Rocco, p. 162)

Fragmento do leitor 24

"O fato de chocar-se com o inorgânico (...), expresso ao mesmo tempo que o fato de chocar-se com o nosso próprio corpo, que embora seja orgânico e vivente, não é menos para nós o exterior e a aparência no sentido mais íntimo, a primeira coisa diferenciada em relação a nós mesmos, no sentido de sermos os interiorizados que habitam o interior do corpo tal, a face de uma engrenagem; e no entanto, o que se refere precisamente ao nosso corpo, nossas mãos, nossos pés, nossos olhos, nossas orelhas, é bem o que se costuma chamar de 'nós mesmos'; este fenômeno inquietante, perturbador, só se dissipa completamente na relação amorosa junto com outro ser, e é somente ele quem legitima de um modo suportável o nosso corpo em relação a 'nós mesmos'. Estas partes integrantes dissociam-se e associam-se novamente na figura do criador, e é por isso tudo o que vem dele é uma realidade inteiramente nova, e não uma simples repetição".

Lou Andréas-Salomé
Correspondência - Rainer Maria Rilke & Lou Andreas-Salomé
(Editora Anima)

Enviado pelo leitor Eduardo Refkalefsky.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

das alegrias

"(...) e teve pena dela, pois sabia que a alegria dada pelas crianças não pode substituir outras alegrias, e que uma alegria que tem a obrigação de substituir outras alegrias torna-se rapidamente uma alegria gasta."

(Milan Kundera in: Risíveis amores. Ed. Nova Fronteira, p. 179)

Amavas por prazer, que só o prazer entrega a arte-demência que o amor é

"Escrevia-te cartas - as mais sinceras não cheguei a enviar-te, porque não eram tão geniais como eu queria que tu me visses. Às outras, literariamente inatacáveis, não respondeste. O departamento de salvação era comigo; tu não eras tão arrogante. Amavas por prazer, que só o prazer entrega a arte-demência que o amor é. Eu amava-te com narcisismo e vontade de poder. Só davas o que eu te pedia; nunca te ocorria correr de extintor na mão para me salvar de fogos de fogos que eu não tivesse detectado ainda."

(Inês Pedrosa in:Fazes-me falta, p. 170)

domingo, 20 de novembro de 2011

já que não temos a quem agradecer tanta gentileza...

"Para que eu saiba afinal se você continua vivendo, se continuamos vivendo, porque viver é de graça, de favor, ninguém pediu licença para nascer nem pagou entrada no mundo, e já que não temos a quem agradecer tanta gentileza, agradeçamos mutuamente. Muito obrigado, Clarice."

(Carta de Fernando Sabino. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 85)

sábado, 19 de novembro de 2011

Do: estar feliz

"E, às vezes, a felicidade era grande demais para ser encarada sem medo".

(Marguerite Duras in: Chuva de verão. Ed. Nova Fronteira, p. 46)

Fragmento do leitor 23

Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.

* * *

Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.

Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.

Julio Cortázar, em Histórias de Cronópios e de Famas
Tradução de Gloria Rodríguez
Civilização Brasileira, página 5

 Enviado pela leitora  Jenifer Carmo, do blog http://consideracaodopoema.blogspot.com/

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O planeta da inexperiência

"Inexperiência. Primeiro título considerado para A insustentável leveza do ser. "O planeta da inexperiência". A inexperiência como uma qualidade da condição humana. Nasce-se uma vez por todas, jamais se poderá recomeçar uma outra vida com as experiências da vida precedente. Sai-se da infância sem saber o que é a juventude, , casa-se sem saber o que é ser casado, e mesmo, quando entramos na velhice, não sabemos para onde vamos: os velhos são crianças inocentes de sua velhice. Neste sentido, a terra do homem é o planeta da inexperiência."

(Milan Kundera in: A Arte do Romance. Ed. Nova Fronteira, p. 118)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

mando depressa esse momento de felicidade para você

"Fiquei animada, não importa que daqui a pouco acabe e que eu vá com alma morta para a costureira. O que importa é que fiquei como estou agora. (...) Assim, mando depressa esse momento de felicidade para você".

(Carta de Clarice Lispector. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 48)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

explorador da existência

Raquel Marín
"Não importa que a fidelidade à realidade histórica seja coisa secundária em relação ao valor do romance. O romancista não é historiador nem profeta: ele é explorador da existência."

(Milan Kundera in: A Arte do Romance. Ed. Nova Fronteira, p. 43)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

sessão da tarde

" - Está triste?
- Acho que sim. Um pouco. Eu não sei. (...) Não, sou eu. Sempre estou um pouco triste."

(Do filme: O amante)

ainda não sabe que todas as paixões são uma, e os objectos amados ficção

Romeu e Julieta
"Teresa lembra-se mas faz de conta que não, faz de conta que o tempo existe e que Carolina tem o dom do esquecimento, esse famoso privilégio da maior idade. Teresa queria ser grande como Ana Carolina, conseguir amar tudo de uma única vez, concentrar-se num só objecto.
Teresa ainda não sabe que todas as paixões são uma, e os objectos amados ficção."

(Inês Pedrosa in: A Instrução dos amantes. Publicações Don Quixote, p. 179)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Basta um nada

500 days of Summer
"Aliás, por mais tranquilos que nos julguemos quando amamos, o amor está sempre em equilíbrio instável dentro do nosso coração. Basta um nada para colocá-lo na posição da felicidade (...) e basta uma palavra (...) para que toda a felicidade preparada, a que nos atirávamos se desmorone, para que o sol se esconda, para que vire a rosa dos ventos e se desencadeie a tempestade interior a que um dia já não seremos capazes de resistir."

(Marcel Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Prisioneira. Tradução de Manuel Bandeira e Lourdes Sousa de Alencar. Ed. Globo, p.188-189 )

Fragmento do leitor 22

Josef : Eu acho, que você e eu, talvez, possamos ir para algum lugar. Juntos. Um dia destes. Hoje. Agora mesmo. Venha comigo.
Hanna : Não, eu não acho que vai ser possível.
Josef : Por que não?
Hanna : Hum, porque eu acho que se nós formos embora para algum lugar juntos, eu tenho medo que um dia, talvez não hoje, talvez sim, talvez não seja amanhã, mas um dia, de repente, eu possa começar a chorar e chorar tão alto que nada nem ninguém poderá me parar e as lágrimas vão encher a sala e eu não vou ser capaz de respirar e eu vou te puxar para baixo comigo e nós dois vamos afogar.
Josef : Eu vou aprender a nadar, Hanna. Eu juro, eu vou aprender a nadar.


Do filme: A Vida Secreta das Palavras
Título original: La Vida secreta de las Palabras / The Secret Life Of Words
Diretora: Isabel Coixet

Colaboração da leitora Liana Pauluka do blog http://www.alinguagemsecretadaspalavras.blogspot.com/


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2) É necessário que o autor/roteirista seja publicado/conhecido, para citarmos a fonte corretamente. Autor, título do livro. Com editora e página, melhor ainda. Assim, o leitor pode ir atrás da obra.
3) O nome do leitor e o link do seu blog vão constar aqui, para a divulgação dos mesmos. Quem é leitor mas não tem blog também pode participar. Dia 25 de dezembro o fragmento que mais me tocou vai ganhar um DVD + um livro.

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domingo, 13 de novembro de 2011

Também diria, Clarice...

"Ando muito descrente de mim mesmo. E você me dá uma impressão de segurança que me faz ficar boquiaberto. "Só você sabe à custa de que sacrifícios, no íntimo sou frágil, incerta, descontrolada" - parece que estou ouvindo você dizer."

(Carta de Fernando Sabino. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 28)

sábado, 12 de novembro de 2011

Fragmento do leitor 21

(Carta 6)

17 de maio (de 1774)
" (...) Se tu me perguntas como são os homens aqui, eu te respondo que o são como por toda a parte. A espécie humana é uniforme. A maior parte trabalha uma boa porção do dia para ganhar a sua vida, e o pouco que lhe fica livre os atormenta, a ponto de procurarem todos os meios possiveis para encher o vazio. Ó destino humano! (...)"

("Os Sofrimentos do Jovem Werther", de J. W. von Goethe, na tradução anônima usada pela Ed. Hedra, São Paulo, 2006.)

Enviado pelo leitor Humberto Pereira do blog http://hpchumberto.sites.uol.com.br

tempo, tempo, tempo...

"Ultimamente tem passado muitos anos, disse Rubem Braga, e acho que muito mais do que ele pensa".

(Carta de Fernando Sabino. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 15)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

da vertigem

The Unbearable Lightness of Being  
"E você sabe o que é a vertigem: é ficar embriagado com sua própria fraqueza, é o desejo irresistível de cair. Tereza subitamente compreende "que fazia parte dos fracos, do lado dos fracos, do país dos fracos, e que deveria ser fiel a eles, justamente porque eram fracos e procuravam recobrar o fôlego entre as frases". E, embriagada com sua fraqueza, ela deixa Tomas e volta para Praga, para a "cidade dos fracos". A situação histórica aqui não é um pano de fundo, um cenário diante do qual as situações humanas se desenrolam, mas é em si mesma uma situação humana, uma situação existencial em crescimento."

(Milan Kundera in: A Arte do Romance. Ed. Nova Fronteira, p. 38-39)

Se Mefistófeles aparecesse...

Dalí
"Desde esses dias remotos, muitas coisas aconteceram. Em particular, de uns anos para cá, assisti ao desaparecimento progressivo, mesmo em sonho, do meu instinto sexual. Me alegro com isso, pois é como se eu tivesse me livrado de um tirano. Se Mefistófeles aparecesse e me oferecesse de volta ao que chamam de virilidade, eu lhe diria: "Não, obrigado, isso eu não quero, mas fortaleça meu fígado e meus pulmões para que eu possa continuar bebendo e fumando."

(Luis Buñuel in: Meu último suspiro. Ed. Cosac Naif, p. 75)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ausente... como se o coração não estivesse presente


”Lol era bonita e disputada no colégio, embora escapasse das mãos como água, porque o pouco que dela se conseguia reter... compensava o esforço. Era engraçada, gozadora e muito sutil... embora uma parte dela estivesse sempre desligada, longe do interlocutor e do momento. Ausente... como se o coração não estivesse presente.”

(Marguerite Duras in: O deslumbramento. Ed. Nova Fronteira)

Se não for assim...

"É preciso amar muito os homens. Muito, muito. Amá-los muito para amá-los. Se não for assim é impossível, não conseguimos suportá-los."

(Marguerite Duras in: A vida material. Ed. Globo, p. 42)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Fragmento do leitor 20

"Todos buscamos aquela pessoa especial que é certa para nós.
Mas quando já passamos por relacionamentos suficientes, começamos a
desconfiar que não existe a pessoa certa, apenas gostamos das pessoas
erradas. Por que é assim? Porque nós mesmos somos errados de algum
modo,e buscamos parceiros errados de algum modo complementar. Mas é
preciso muita vivência para crescer plenamente em nossa inadequação.
Só quando nos vemos diante de nossos demônios mais profundos -
nossos problemas insolúveis, os que nos tornam
verdadeiramente o que somos - estamos prontos para encontrar o parceiro de
toda a vida. Só então sabemos finalmente o que estamos procurando.
Vivemos à procura da pessoa errada.Mas não apenas qualquer uma: a pessoa errada "certa" - alguém
a quem olhamos com amor e pensamos : *"Este é o problema que eu quero ter."
Encontrarei essa pessoa especial que é errada para mim do jeito certo..."

(Epígrafe do livro "Segunda Chance", de Daniele Steell)


Enviado pelo leitor Hugo Felipe da Silva Lima


Para participar:
1) O fragmento pode ser de livro ou filme (diálogo). Enviem seu fragmento favorito para meu e-mail (vanessa.sza@bol.com.br)
2) É necessário que o autor/roteirista seja publicado/conhecido, para citarmos a fonte corretamente. Autor, título do livro. Com editora e página, melhor ainda. Assim, o leitor pode ir atrás da obra.
3) O nome do leitor e o link do seu blog vão constar aqui, para a divulgação dos mesmos. Quem é leitor mas não tem blog também pode participar. Dia 25 de dezembro o fragmento que mais me tocou vai ganhar um DVD + um livro.

Os trechos devem ser enviados para o meu e-mail, repetindo, e não como comentário desse post. O título do e-mail deve ser:
Qual seu fragmento favorito?  

 

Nunca leio e-mails coletivos, mas este...

Jantares inteligentes

Por Luiz Felipe Pondé

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> VOCÊ JÁ foi a um jantar inteligente? Jantares inteligentes são frequentados por psicanalistas, artistas plásticos, músicos, atores, jornalistas, publicitários (com a condição de falar mal da publicidade), médicos (esses porque, como é sempre chique ser médico, não se dispensa médicos nunca), produtores, "videomakers", antropólogos, sociólogos, historiadores, filósofos.
>
> Administrador de empresa não pega bem (a menos que tenha um negócio sustentável). Engenheiros, coitados, só vão se forem casados com psicanalistas que traduzem pra eles esse mundo de gente inteligente. Advogados podem ir porque é sempre necessário um cínico inteligente em qualquer lugar. Pedagogas, só se casadas com esses advogados e por isso talvez consigam bancar amizades chiques assim.
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> Ricos são sempre bem-vindos apesar de gente inteligente fingir que não gosta de dinheiro. Pobre só se for na cozinha, mas são super bem tratados. Claro, tem que ter um amigo gay feliz.
> Essa gente é descoladíssima. Seus filhos estudam em escolas de esquerda, claro, do tipo que discute o modelo cubano de economia a R$ 2 mil por mês.
>
> Quando viajam ficam em lugares que reúne natureza "pura", tradição (apenas como "tempero do ambiente") e pouca gente (apesar de jurarem ser a favor da democracia para todos, só gostam de passar férias onde o "povo" não vai).
>
> Detalhe: é essencial achar todo mundo "ridículo" porque isso faz você se sentir mais inteligente, claro.
> Quanto à religião, católica nem pensar. Evangélicos, um horror. Espírita? Coisa de classe média baixa. Budista, cai muito bem. Judaica? Uma mãe judia deixa qualquer um chique de matar de inveja. Judaísmo não é religião, é grife.
>
> Mas o que me encanta mesmo são as "atitudes" que se deve ter para se frequentar jantares inteligentes assim. Claro, não se aceita qualquer um num jantar no qual papo cabeça é o antepasto.
>
> Quer saber a lista de preconceitos que pessoas inteligentes têm? Qualquer um desses "gestos" abaixo você pode ter, que pega bem com comida vietnamita ou peruana.
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> 1) A Igreja Católica é um horror e o papa Bento 16 é atrasadíssimo. Claro que não vale ter lido de fato nada do que ele escreveu;
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> 2) Matar Osama bin Laden sem julgamento foi um ato de violência porque terroristas são pessoas boazinhas que querem negociar a paz em meio a criancinhas;
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> 3) Ter ciúmes é coisa de gente mal resolvida;
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> 4) Se algum dia um gay lhe cantar e você se sentir mal com isso, você precisa rever seus conceitos porque gente inteligente nunca tem mal-estar com coisas assim;
>
> 5) Se seu filho for mal na escola, minta. Se alguém descobrir, ponha a culpa na professora, que é mal preparada pra lidar com crianças como seus filhos, que se preocupam com as baleias já aos 11 anos e discutem a África no Twitter;
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> 6) Caso leve seus filhos à Disney, não conte a ninguém, pelo amor de Deus!;
>
> 7) Acima de tudo, abomine os Estados Unidos, ache Obama ótimo e vá à Nova York porque Nova York "não são os Estados Unidos";
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> 8) Não seja muito simpático com ninguém porque gente simpática é gente carente e gente assim procura "eye contact" em festas. Um conselho: olhe sempre para um ponto no horizonte. Assim, se alguém falar com você, ela é que é carente;
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> 9) Ache uma situação para dizer que você conhece uma cidadezinha no sul da Itália e lá ficou hospedado na casa de uma amiga brasileira casada com um italiano que defende o direito dos imigrantes africanos e odeia Silvio Berlusconi;
>
> 10) O ideal seria se você tivesse passaporte italiano também;
>
> 11) Se alguém falar pra você que não dá para pagar direitos sociais e médicos para imigrantes ilegais na Europa, considere essa pessoa um "reacionário de direita", mesmo que você não aceite sustentar alguém que não seja você mesmo e sua família (no caso da família nem sempre, claro);
>
> 12) No conflito israelo-palestino, não tenha dúvida, seja contra Israel, mesmo que morra de medo de ir lá e não tenha lido uma linha sequer sobre a história do conflito;
>
> 13) Se você se sentir mal com a legalização do aborto, minta;
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> 14) Deixe transparecer que só os outros transam pouco;
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> 15) Seja ateu, mas blasé.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fragmento do leitor 19

Teorema
“Chegará até a superfície de minha clara consciência essa recordação, esse instante antigo que a atração de um instante idêntico veio de tão longe solicitar, remover, levantar no mais profundo de mim mesmo? Não sei.”

PROUST, Marcel. No Caminho de Swann. Tradução: Mario Quintana.

Enviado pelo leitor Edson Coelho, do blog: http://tudosobreminhamao.blogspot.com/

só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda


"E de novo voltou-lhe à cabeça uma ideia que já conhecemos: a vida humana só acontece uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dado uma segunda, uma terceira ou quarta vidas para que possamos comparar decisões diferentes."

(Milan Kundera in: A insustentável leveza do ser. Ed. Record, p. 223)