"No final do romance, numa palavra que precipitará o suicídio de Werther, Chartlotte (que também tem seus problemas) acaba por constatar que “isso não pode continuar assim”. O próprio Werther poderia ter dito isso, e muito cedo, pois é próprio da situação amorosa ser imediatamente intolerável, passado o deslumbramento do encontro. Um demônio nega o tempo. o amadurecimento, a dialética e diz a cada instante: isso não pode durar!
Entretanto, isso dura, senão para sempre, pelo menos durante muito tempo. A paciência amorosa tem pois como ponto de partida sua própria denegação; ela não se origina nem de uma espera. Nem de um domínio, nem de um artifício, nem de uma coragem; é uma infelicidade que não fica gasta, na proporção da sua acuidade; uma serie de investidas, a repetição (cômica?) do gesto pelo qual eu me significo que decidi – corajosamente! – acabar com a repetição; a paciência de uma impaciência.
(Sentimento razoável: tudo tem jeito – mas nada dura. Sentimento amoroso: nada tem jeito – e no entanto dura.)"
(Roland Barthes in: Fragmentos de um discurso amoroso. P. 132)
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
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Minha paciência
ResponderExcluirtambém anda impaciente,
a pedir silêncios,
mistérios,
aventuras.
Ou o demónio devora o tempo, e logo tudo precipita vagarosamente e tão calado que até grita...
ResponderExcluirabrç
Adorei a citação final .. bj
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