quarta-feira, 2 de maio de 2012

em minutos



“Nada podia fazer entrever nesta mulher, mesmo de modo fugitivo, o luto estranho de Michael Richardson que Lol V. Stein havia carregado.
De sua loucura, destruída, arrasada, nada parecia subsistir, nenhum vestígio, exceção feita à sua presença em casa de Tatiana Karl nesta tarde. A razão desta coloria um horizonte linear e monótono, mas muito pouco, pois era plausível que ela se tivesse sentido enfadada e tivesse vindo à casa de Tatiana. Apesar de tudo, Tatiana se perguntava por que, por que ela estava lá. Era inevitável: ela não tinha nada a dizer para Tatiana, nada a contar; das lembranças de colégio das duas, parecia ter uma memória bastante comprometida, perdida; os dez anos passados em U. Bridge, ela os tinha percorrido em alguns minutos.”

(O deslumbramento, Marguerite Duras. Ed. Nova Fronteira, p. 57-58)

Um comentário:

  1. Algumas coisas perdem a importância ao longo do tempo. E isso pode ser triste. Ou não. Depende do que ocupará o espaço. Gostei do trecho.

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