segunda-feira, 14 de maio de 2012

das tentativas

 "Entrevistadora
É interessante que o senhor tenha mencionado luz e escuridão, pois os personagens de seus livros com frequência se apegam a ilusões e ao autoengano.

Javier Marías
As ilusões são importantes. Aquilo que se prevê ou de que se lembra pode ser tão importante quanto o que realmente acontece. Tendemos, em geral, a contar a própria história mencionando apenas as coisas positivas, mas também há uma parte negativa da vida que nos forma: o que não fizemos, aquilo a que renunciamos, o que não ousamos fazer, o que desacreditamos e descartamos, aquilo com que sonhamos, o que esperamos, o que deixamos de lado, o que não chegamos a estudar mas pensamos que estudaríamos, o emprego que não conseguimos, o emprego que não nos deram, ainda que o quiséssemos. As coisas que não somos são parte da gente também. Evitamos falar delas, até para nós mesmos, como se não contassem. Em meus romances, quero que contem."

(As entrevistas da Paris Review Volume 1. Ed. Companhia das Letras, p. 449-450)

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