segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
novo, antigo, 2013
Que as esperas sejam doces e iluminadas, pausa onde a demanda se transforma em desejo. Que os olhos e as mãos e as palavras e as bocas finalmente se encontrem. Que haja novos diálogos para os antigos e fatigados personagens. Desejos para 2013.
Vanessa Souza
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***
Carta para um novo e bom ano. Que sejamos novos. Sim.
"Tento não ficar assustado com a ideia de que o tempo aqui é curto... (...) Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. (...) de não sufocar: de continuar sentindo encantamento... (...) Ser novo. (...) Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas... (...) Fique feliz, fique bem feliz, queira ser feliz. (...) que seja bom o que vier, para você, para mim. Com carinho, com cuidado, te abraço forte e te beijo. Caio F.)
(10-08-1985, carta de Caio F. para Sérgio Keuchgerian - de Caio Fernando Abreu - Cartas, organizado por Italo Moriconi, p. 142. Ed. Aeroplano.)
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domingo, 30 de dezembro de 2012
Só podemos ser fiéis àquilo que nos lembramos
"Não é porque os outros morreram que a afeição que lhes dedicávamos se debilita, é porque nós mesmos morremos. (...) Só podemos ser fiéis àquilo que nos lembramos, e não nos lembramos senão daquilo que conhecemos."
(Proust in: Em busca do tempo perdido vol. 5 - A Fugitiva. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. Ed. Globo, p.141)
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Imagem Dane Shitagi
sábado, 29 de dezembro de 2012
a Imagem que
Adorável
"Não conseguindo nomear a especialidade do seu desejo pelo ser amado, o sujeito apaixonado chega a essa palavra um pouco tola: adorável! (...)
Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo. Esta escolha, tão rigorosa que só retém o Único, estabelece, por assim dizer, a diferença entre a transferência analítica e a transferência amorosa; uma é universal, a outra é específica. Foram precisos muitos casos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que eu encontre a Imagem que, entre mil, convém ao meu desejo. Eis um enigma do qual nunca terei solução: por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente? É ele inteiro que eu desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)? Ou é apenas uma parte desse corpo?"
(BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. P. 12-15.Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1977.)
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
literatura bruta
"- Qual a porcentagem da literatura editada?
- Cerca de um por cento. Em cem manuscritos, noventa e nove nunca mais voltam às mãos de seus autores.
- É possível classificar, de um modo geral, esse enorme refugo?
- É. Podemos começar falando de uma literatura bruta. Ela constitui uma terça parte dos originais. Há muitos aposentados nessa categoria, e, depois, oficiais e funcionários. O seu defeito comum é pensarem: "Que romance daria a minha vida!" e não saberem distinguir aquilo que tem um interesse geral do que constitui uma mera recordação da família. Não conseguem conferir aos seus escritos um interesse geral. Muitos deles escrevem com o objetivo de corrigir lugares-comuns no espírito público."
(Marguerite Duras in: Outside. Ed.DIFEL, p. 38)
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
a chave para um relógio que era o próprio Tempo
"Tornamo-nos aquilo que sonhamos", disse Balthazar, ainda procurando nas frestas entre as pedras do calçamento a chave para um relógio que era o próprio Tempo. "Em realidade, em essência, alcançamos somente as figuras de nossa imaginação."
(Lawrence Durrel in: O quarteto de Alexandria - Clea. Ed. Ediouro: 2006, p.52)
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
das musas
"Minha única musa é o prazo de entrega."
(Luis Fernando Veríssimo in: O livro do escritor. Imã Editorial)
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domingo, 16 de dezembro de 2012
leia
"Há áreas em que nenhum conselho vale: ninguém jamais pode servir-se do conselho de outro para fazer com que um pão com manteiga não caia com o lado da manteiga para baixo, como recriar um sonho em todos os seus detalhes, como argumentar com o Papa, como apaixonar-se. Virginia Woolf (ou talvez tenha sido Somerset Maughan) disse que para escrever um bom livro há três regras, mas que, infelizmente, ninguém sabe quais são. Forçado a dar conselho a quem escrever, sugiro seis coisas:
1- Ler;
2- Ler;
3- Ler;
4- Ler;
5- Ler e...
6- ... Ler.
(Alberto Manguel in: O livro do escritor. Imã Editorial)
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
da pele, das palavras
A conversa
"1-A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo. A emoção de um duplo contacto: de um lado, toda uma atividade do discurso vem, discretamente, indiretamente, coloca em evidencia um significado único que é “eu te desejo”, e liberá-lo, alimentá-lo, ramificá-lo, fazê-lo explodir (a linguagem goza de se tocar a si mesma); por outro lado, envolvo o outro nas minhas palavras, eu o acaricio, o roço, prolongo esse roçar, me esforço em fazer durar o comentário ao qual submeto a relação.
(...)
2-A pulsão do comentário se desloca, toma o caminho da substituições. De início é para o outro que eu discorro sobre a relação; mas pode ser também diante do confidente: de você passo a ele. E depois, de ele passo a nós; elaboro um discurso abstrato sobre o amor, uma filosofia da coisa, que seria apenas, em suma, um blá-blá-blá generalizado. Refazendo a partir daí o caminho inverso poder-se-ia dizer que todo dito que tem por objeto o amor (seja o que for que se queira destaca) comporta fatalmente uma alocução secreta (me dirijo a alguém, que vocês não sabem, mas que está lá na extremidade das minhas máximas). No Banquete, essa alocução talvez exista: seria Ágaton que Alcibíades interpelaria e desejaria sob a escuta de um analista, Sócrates.
(...) Há sempre no discurso sobre o amor uma pessoa a quem se dirige, mesmo que essa pessoa tivesse passado ao estado de fantasma ou de criatura a vir. Ninguém tem vontade de falar de amor, se não for para alguém.)”
(BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. P. 64-65. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1977.)
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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
frágeis porém mais vivos
"Mas quando nada mais subsiste de um passado remoto, após as mortes das criaturas e a destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis porém mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício imenso da recordação. "
(Proust in: No Caminho de Swann. Tradução de Mario Quintana, ed. Globo, p. 51)
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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
esperas
"A espera levou um dia inteiro - um dia durante o qual eu fiquei tão aflito que não escrevi nem uma palavra. A campainha tocou. Lá estava ela, vestida de branco, os olhos baixos, braços cruzados ao peito. Minha querida Anya, eu disse, como fico contente de ver você!, e me afastei, tomando o cuidado de não estender a mão no caso de, como um pássaro arisco, ela fugir de novo".
(J.M. Coetzee in: Diário de um ano ruim. Companhia das Letras, p. 162-163)
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Espere a história falar por si só
"As histórias se contam sozinhas, não são contadas, ele disse. Isso ao menos eu aprendi depois de uma vida inteira trabalhando com histórias. Nunca tente se impor. Espere a história falar por si só. Espere e cruze os dedos para ela não nascer surda, muda e cega."
(J.M. Coetzee in: Diário de um ano ruim. Companhia das Letras, p. 65)
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
sem os lamentar, sem mencionar os nomes, sem querer dar a outrem desejo de identificá-los
"É que, muito tempo depois de saírem de nossos corações os pobres mortos, sua cinza fria continua a misturar-se, à servir de veículo às circunstâncias do passado. E, não os amando mais, sucede que, para evocar um quarto, uma alameda, um caminho onde em dado momento estiveram, sejam obrigados, a fim de encher o lugar que ocuparam, a fazer-lhes referência, sem os lamentar, sem mencionar os nomes, sem querer dar a outrem desejo de identificá-los. (...) Tão são as derradeiras e pouco invejáveis formas da sobrevivência".
(Proust in: O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. Ed. Globo, p. 262-263)
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terça-feira, 27 de novembro de 2012
Nem lá, seja onde for.
"Talvez eu já não esteja completamente aqui. Nem lá, seja onde for. Antes de viajar, fico pairando. Talvez a alma parta antes e não saiba direito aonde ir sem o corpo. Na morte deve ser parecido".
(Caio F.)
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domingo, 25 de novembro de 2012
penso que nos encontramos num trem, e que você desceu numa parada não-prevista e eu segui
"Está magoada, Laura? Não posso fazer nada. Estou seguindo em frente, Laura, e você não está. É só isso, realmente. É uma imagem idiota, mas às vezes eu penso que nos encontramos num trem, e que você desceu numa parada não-prevista e eu segui. Só isso. Eu continuei. Depois, passei para um vagão diferente, encontrei outros passageiros. Não sei quando vai chegar a minha parada."
(Josephine Hart in: Abandono. Ed. Record, p. 189)
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sábado, 24 de novembro de 2012
é estar aceitando, inclusive o silêncio
"O sentimento de grandeza que você está perdendo talvez agora é que você o esteja adquirindo: sua predisposição para ficar calada não é propriamente uma novidade: a novidade é estar aceitando, inclusive o silêncio. É bom isso, dá mais paciência, dá compreensão, dá mais sentido às coisas - e dá grandeza"
(Carta de Fernando Sabino. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 108)
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sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Ou torna pelo menos suportável
"Ela salvou-se não pela conversão a alguma seita brega, mas pela música. Sim, a arte salva. Ou consola. Ou torna pelo menos suportável."
(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 235)
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quinta-feira, 22 de novembro de 2012
as palavras certas, as únicas palavras, estão à sua espera na outra margem
"A sua luta com as palavras era geralmente dolorosa e isso por duas razões. Uma era a razão comum a escritores desse tipo: atravessar o abismo existente entre expressão e pensamento; a enlouquecedora sensação de que as palavras certas, as únicas palavras, estão à sua espera na outra margem sob a névoa distante, e o tremor da ideia ainda despida reclamando por elas deste lado do abismo."
(Vladimir Nabokov in: A verdadeira vida de Sebastian Knight. Ed. Alfaguara, p.79
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Ana C.
"Linda, loura, pescoço de Audrey Hepburn mas "certo ar de Mia Farrow", como ela mesma se autorretratou em um poema... (...) Nervosa, cínica, crispada, inteligentíssima. Atenta demais, quem sabe?"
(Sobre Ana C. Cesar. Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 242)
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domingo, 18 de novembro de 2012
das bofetadas
"Não apenas a educação das crianças, mas também a dos poetas, faz-se às custas de bofetadas."
(Proust in: O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. Ed. Globo, p. 117)
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sábado, 17 de novembro de 2012
a palavra exata
"Incrível com a palavra exata pode revelar ou arrasar uma pessoa. O que faz desaparecer a camuflagem, o disfarce, o esconderijo? Isto: a palavra certa pronunciada de modo espontâneo, impensadamente."
(Philip Roth in: A marca humana. Companhia das Letras)
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sexta-feira, 16 de novembro de 2012
à revelia dessa confortável invenção humana a quem chamamos razão
"A verdade é que não há nada tão cruel como um amor perfeito. Passamos a vida inteira a arranjar suspeitos, a confrontar testemunhas. Toda a gente sabe que ele aconteceu, mas ninguém o viu. Ninguém sabe descrever-lhe o rosto. Ataque sobretudo em horas ou pessoas de plena distracção, à revelia dessa confortável invenção humana a quem chamamos razão. E ataca com escândalo. Perturba a ordem deste mundo, que é a de as pessoas se atropelarem diariamente a alta velocidade, por mais um automóvel, uma assoalhada ou uma promoção."
(Inês Pedrosa in: Nas tuas mãos. Ed. Planeta, p. 105)
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Imagem: A single man
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
inevitavelmente
"LUÍSA - Que vai ser de nós dois?
SÉRGIO - Vamos fugir para Alexandria?
LUÍSA - E procurar um quarto de frente para o mar e, à noite, fazer amor à luz do farol que não existe mais?
(Sérgio acaricia o rosto de Luísa.)
SÉRGIO - É uma pena que tudo isso um dia vá acabar porque, inevitavelmente, vai acabar com todas as coisas... e você, tão cara e necessária neste momento, vai se transformar apenas uma referência: uma mulher que marcou certo período da minha vida... e, com o tempo, só vai ficar seu nome, porque nem os traços do seu resto eu vou conseguir lembrar..."
(Maria Adelaide Amaral in: Melhor teatro. Ed. Globo, p. 214)
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012
do romance
(Philip Roth in: Entre nós - um escritor e seus colegas falando de trabalho. Companhia das Letras, p. 104)
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terça-feira, 13 de novembro de 2012
as intermitências do coração
(José Maria Cançado in: Proust - as intermitências do coração e outra ensaios. Editora UFMG)
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sexta-feira, 9 de novembro de 2012
do escrever
"Escrever é considerado uma profissão, mas não acho que seja uma profissão. Acho que qualquer pessoa que não tem necessidade de ser escritor, que pode fazer outra coisa, deve fazer outra coisa.
Escrever não é uma profissão, mas uma vocação de infelicidade.
Não creio que um artista possa jamais ser feliz."
(Georges Simenon - extraído de: O livro do escritor - Inspiração, criação, técnica, Imã Editorial)
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
que hoje eu vou dizer: sim
Alegre
Hoje tem uma alegria em mim
Hoje eu acordei alegre
Mas nada mudou tanto assim
Mas qualquer coisa em mim
Urge, arde em febre
Hoje serei enfim
Quem você quiser de mim, me leve
que hoje eu vou dizer: sim
ao que quer que me espere,
me espere.
(Adriana Calcanhoto, composição que ela fez para o Caio Fernando Abreu)
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Homem nenhum jamais bebeu champanhe após uma derrota
"Tomei o meu uísque e observei o champanhe aumentar ainda mais a alegria geral, à medida que a festa prosseguia. O uísque é uma bebida que ajuda a pôr as coisas em ordem. Homem nenhum jamais bebeu champanhe após uma derrota. Depois dessa derrota, não lhe resta mais nenhuma saída, disse a si mesmo. Também não sentia raiva ou ódio. Apenas uma aceitação, uma resignação ao sofrimento."
(Josephine Hart in: Perdas e danos. Ed. BestBolso, p. 132)
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Imagem: Jean-Baptiste Mondino
terça-feira, 6 de novembro de 2012
do inconsciente
"Esses pequenos fatos perdidos, fora de lugar, esses filhos bastardos de nossa existência humana, que podem ser utilizados como chave numa fechadura - ou uma faca numa ostra: haverá uma pérola em seu interior? Quem sabe? De alguma forma, porém, eles devem existir, esses grãos de verdade que 'escapou por pouco'. A verdade não é aquilo que proferimos de forma plenamente consciente. É sempre aquilo que 'escapa' - o erro de datilografia que acaba com tudo."
(Lawrence Durrel in: O Quarteto de Alexandria - Balthazar. Ed. Ediouro, p. 115)
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segunda-feira, 5 de novembro de 2012
tem que ser - Caio F.
"Não me falhe, não nos falhe, e principalmente não se falhe, compreende? Eu sei, eu sei que dói às vezes sem remédio, e a gente também não é de ferro. Mas tem que ser..."
(Caio F. In: A vida gritando no cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 204)
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Imagem: Tachibana Morikuni
domingo, 4 de novembro de 2012
dos sentidos
"Cada um lê os poemas como pode e neles entende o que quer, aplica o sentido dos versos à sua própria experiência acumulada até o momento em que os lê."
(Bernardo Carvalho in: Nove noites. Companhia de Bolso, p. 102)
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sábado, 3 de novembro de 2012
A vida - fora os erros de revisão.
"(...) O amor - fora do alcance da razão.
(...) A vida - fora o que não coube.
(...) O amor - fora de si.
(...) O vida - fora de ordem.
(...) O amor - do lado de fora
(...) O amor - fora o perigo duma recaída.
(...) A vida - for o que der e vier.
(...) O amor - fora o que passou despercebido.
(...) A vida - fora o que a gente esqueceu
A morte - fora de cogitação.
O amor - fora o que nunca se diz a ninguém.
(...) O amor - fora as noites passadas em claro.
(...) O amor - fora o trabalho que dá.
(...) A vida - fora os erros de revisão.
(...) A vida - fora certas crises de neurastenia.
(...) O amor - fora o que ela/ele não disse.
(...) A vida - fora o que vem nas entrelinhas.
O amor - fora o que se perdeu.
A vida - fora o tempo que se passa dormindo.
O amor - fora o tempo que se passa dormindo.
(...) A vida - fora os emolumentos.
O amor - fora algum reajuste posterior.
(...) O amor - nove foras nada.
(...) O amor - fora o que aconteceu antes.
(Paulo Mendes Campos in: O amor acaba - crônicas líricas e existenciais. Crônica: A vida, a morte, o amor, o dinheiro. Ed. Civilização Brasileira, p. 237-238)
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sexta-feira, 2 de novembro de 2012
poderíamos falar de restos, o que para mim é o principal
"- X.G. - Só há uma mulher em l´Amour, já é uma diferença.
- M. D. - É a que está doente.
- X.G. - É a que está doente.
- M.D. - É um resto, é o resto de alguém.
- X.G.- Sim, e ao mesmo tempo...
- M.D. - Pode-se dizer que todos são restos.. o que os outros chamariam de restos. Visto de fora, poderíamos falar de restos, o que para mim é o principal."
(Marguerite Duras e Xavière Gauthier in: Boas falas - conversas sem compromisso. Ed. Record, p. 51)
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012
teorias sobre si mesma, como se fossem pétalas de flores
"A mania de se justificar é comum tanto aos donos de consciências inquietas quanto àqueles que buscam uma base filosófica para suas ações: em ambos os casos, porém, leva a estranhas maneiras de pensar. A idéia não é espontânea mas voulue. No caso de Justine, essa mania levou a um fluxo perpétuo de idéias, especulações sobre ações passadas e presentes, que exerciam sobre sua mente a pressão de uma corrente fortíssima nos muros de um dique. E apesar de todo o triste desperdício de energia nesse sentido, de toda a engenhosidade apaixonada que Justine aplicava ao examinar-se, era difícil ter alguma confiança em suas conclusões, pois estavam sempre mudando, sem descanso. Espalhava a seu redor teorias sobre si mesma, como se fossem pétalas de flores."
(Lawrence Durrel in: O Quarteto de Alexandria - Justine. Ed. Ediouro, p. 127)
Imagem: John Minh Nguyen
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quarta-feira, 31 de outubro de 2012
nenhuma garantia
"Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia."
(Clarice Lispector in: As três experiências *conto*)
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Dragões não existem. Como escritores, músicos, pintores, filósofos...
"(...) não vou parar de escrever. É o que mantém o homem vivo, compreende? Mesmo que não seja "de porte", foi tão denso escrever Os dragões não conhecem o paraíso (Companhia das Letras, capa de Guto Lacaz) que, se não escrevesse, acho que morreria. (...) O livro fala de dragões, claro. Dragões, você sabe, são animais mitológicos. Dragões não existem. Como escritores, músicos, pintores,filósofos, ou todas essas pessoas que - loucas - querem sentir num mundo em que é ridículo sentir. (...) Daí vou sentar e autografar. Com aquela mesma paranoia de Lygia Fagundes Telles: ela sempre imagina que, em dia de lançamento, vai ficar plantada numa mesa durante horas, completamente só, feito Godot à espera de um leitor que nunca chega."
(Caio F. In: A vida gritando no cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 153)
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segunda-feira, 29 de outubro de 2012
pela ausência de ternura neste mundo
“A vida particular de um artista é diferente da nossa - ele a esconde, forçando-nos a consultar seus livros se quisermos conhecer a verdadeira origem de seus sentimentos. Por trás de todas as suas preocupações com sexo, sociedade, religião, etc. (todas as abstrações básicas que nutrem a inquietação dos hemisférios cerebrais) há simplesmente um homem torturado de forma insuportável pela ausência de ternura neste mundo.”
(Lawrence Durrel in: O Quarteto de Alexandria - Justine. Ed. Ediouro, p. 226)
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domingo, 28 de outubro de 2012
do dizer
"Deixe que eu te diga tudo, agora que já nada te posso dizer. Porque eu na era capaz de te ver igual aos outros, e passei o resto da minha vida a apagar da fita essas cenas que te estragavam a estética."
(Inês Pedrosa in: Fazes-me falta. Ed. Planeta, p. 191)
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sábado, 27 de outubro de 2012
Não escrevo, não me fecho para escrever o enorme romance do tempo reencontrado
"Esse teatro do tempo é exatamente o oposto da procura do tempo perdido; porque me lembro pateticamente, pontualmente, e não filosoficamente, discursivamente: me lembro para ser infeliz/feliz - não para compreender. Não escrevo, não me fecho para escrever o enorme romance do tempo reencontrado."
(Roland Barthes in: Fragmentos de um discurso amoroso. *Lembrança* Ed. Francisco Alves, p. 141)
Imagem: Carta a uma mulher desconhecida
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012
prenúncio, premissa, promessura pressupora
"No princípio do amor existe o fim do amor, como no princípio do mundo existe o fim do mundo. (...) No princípio do amor já é amor. Melancolia e perfeita é a praça com o seu quartel amarelo e o clarim sanguíneo do meio-dia. No princípio do amor a criatura já se esconde bloqueada na terra das canções. Navios pegam fogo no mar alto, defronte da cidade obtusa, precedida de um tempo que não é o nosso tempo. No princípio do amor, sem nome ainda, o amor busca os lábios da magnólia, a virgindade infatigável da rosa, onde repousa a criatura em torno da qual é, foi, será princípio do amor, prenúncio, premissa, promessura pressupora de amor. No princípio do amor a mulher abre a janela do parque enevoado, com seus globos de luz irreais, umidade, doçura, enquanto o homem - criatura ossuda, estranha - ri como um afogado no fundo de torrentes profundas, e deixa de rir subitamente, fitando nada."
(Paulo Mendes Campos in: Cisne de feltro - crônicas autobiográficas. Crônica: Versos em prosa. Ed. Civilização Brasileira, p. 251)
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terça-feira, 23 de outubro de 2012
as testemunhas do passado, quer dizer, os amigos
"Naquele momento, compreendi o único sentido que a amizade pode ter hoje. A amizade é indispensável ao homem para o bom funcionamento de sua memória. Lembrar-se do passados, carregá-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para conservar, como se diz, a integridade do seu eu. Para que o eu não se encolha, para que guarde seu volume, é preciso é preciso regar as lembranças como flores num vaso e essa regra exige um contato regular com as testemunhas do passado, quer dizer, com os amigos. Eles são nosso espelho; nossa memória; não exigimos nada deles, a não ser que de vez em quando lustrem esse espelho para que possamos nos olhar nele."
(Milan Kundera in: A identidade. Ed. Companhia de Bolso, p. 36)
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segunda-feira, 22 de outubro de 2012
do mutismo
"Dois seres que se amam, sozinhos, isolados do mundo, é muito bonito. Mas de que iriam alimentar sua convivência? Por mais desprezível que seja o mundo, precisam dele para poder conversar."
"Poderiam se calar."
(...) "Ah, não, nenhum amor sobrevive ao mutismo."
(Milan Kundera in: A identidade. Ed. Companhia de Bolso, p. 59)
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domingo, 21 de outubro de 2012
A dor não é razoável
“No íntimo, sabe muito bem que este seria o único comportamento razoável, mas a dor não quer escutar a razão, ela tem a sua própria razão, que não é razoável.”
(Milan Kundera in: A identidade. Ed. Companhia de Bolso, p. 89)
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Imagem: Casablanca
sábado, 20 de outubro de 2012
do aborrecimento
"Há pessoas tão aborrecidas que nos fazem perder um dia inteiro em cinco minutos."
(Jules Renard)
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
a exatidão do desespero
"Você disse não quando foi preciso. Sempre essa coexistência inaudita, esse balanço trágico entre uma igual energia para viver e para morrer. Sempre esse sentimento desesperado, leve, que a mantém viva, apesar de tudo. Sei que você vive com a exatidão do desespero, às vezes você esquece, você diz que o céu está azul, você diz que me ama acima de tudo no mundo, então você sorri e acredita em todas as palavras, tudo se torna verdadeiro, e nós rimos dessa loucura. Nós estamos, você e eu, diante de uma mesma linha que não atravessamos. Ficamos do lado de cá, na despreocupação dos dias de verão. Sempre, no primeiro olhar levado de um para o outro, a crueldade de tanto amor".
(Yann Andréa in: M.D. Ed. Marco Zero, p. 29)
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Imagem: Juli Jah
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
nem a banheira do Pacífico teria água bastante pra lavar o vocabulário
"(...) era pois na infância (na minha), eu não tinha dúvida, que se localizava o mundo das ideias, acabadas, perfeitas, incontestáveis, e que eu agora - na minha confusão - mal vislumbrava através da lembrança (ainda que viesse inscrito no reverso de todas elas que "a culpa melhora o homem, a culpa é um dos motores do mundo"), ao mesmo tempo em que acreditava, piamente, que as palavras - impregnadas de valores - cada uma trazia, sim, no seu bojo, um pecado original (assim como atrás de cada gesto sempre se escondia uma paixão), me ocorrendo que nem a banheira do Pacífico teria água bastante pra lavar (e serenar) o vocabulário..."
(Raduan Nassar in: Um copo de cólera. Ed. Companhia das Letras, p. 80-81)
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Imagem: André Kertész
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
sobre um chão curvo e molhado
"Uma fraca centelha de interesse intrigado fez os olhos recuarem. Depois a personalidade retirou-se da face. Olhar dentro de seus olhos era como caminhar por um longo túnel de pedra com uma luz cinzenta brilhando na outra extremidade, chapinhando cegamente através de uma terra úmida e gotejando sobre um chão curvo e molhado."
(Zelda Fitzgerald in: Esta valsa é minha. Cia das Letras, p.156)
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terça-feira, 16 de outubro de 2012
Perdoe eu não voltar como quem traz um sorriso nos lábios
"E agora tentar seguir em frente... (...) mortes precoces, secas desilusões e escassas esperanças. Não sei dizer nada cegamente luminoso para encerrar. Perdoe eu não voltar como quem traz um sorriso nos lábios e flores e frutas nas mãos."
(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Crônica: "Nos amávamos tanto". Ed. Nova Fronteira, p. 140. O Estado de S. Paulo, 13/1/1988)
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