<É só um ano>>, dizia. Como se um ano fosse pouco para quem levou cinquenta a encontrar-se. Apeteceu-me gritar-lhe que cada dia da nossa vida tem de recuperar as décadas em que nos amávamos às escuras, tacteando corpos errados, desconhecendo a existência um do outro. Mas não tinha o direito de fazer isso - neste ano de ausência serei obrigado a aprender esse amor difícil que toda a viva evitei. Ocultei o meu desamor no clarão verde dos olhos de Clarisse, como antes de a conhecer o ocultava em todas as imitações de amor que me apareciam.
Inês Pedrosa in: Desamparo. Ed. Dom Quixote.
terça-feira, 11 de agosto de 2015
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