Com o tempo, tudo se conserva, mas desbota, como essas fotografias de um passado distante que eram fixadas em placa de metal. A luz e o tempo esfumam os traços mais nítidos, que aos poucos desaparecem da placa. É preciso trocar a imagem de posição para que a luz de um determinado ângulo caia sobre aquela superfície turva, e assim é possível reconhecer a pessoa cujos traços outrora eram refletidos num espelho. Da mesma forma desbotam no correr dos anos todas as recordações humanas. Depois, um belo dia, cai um raio de luz de algum lugar e então redescobrimos um rosto de repente.
Sándor Márai in: As brasas. Companhia das Letras, p. 16-17.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
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