sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A falta
"A falta é, em última análise – ou em todas as análises - falta de ser. O sujeito – desejante – só deseja aquilo que lhe falta. Não existe objeto que dê conta dessa falta. Segundo KEPLER, essa falta, na mulher, por exemplo, pode ser de um filho, um homem, um pênis, dinheiro, sucesso, enfeites. Qualquer objeto que traga a ilusão – nesse caso, a ilusão trata-se de acreditar que a fantasia é real – de tamponar a falta e a angústia, que essa falta vem a provocar, ainda que não a satisfaça. A falta não é de uma coisa ou de outra, é falta de ser.
“O desejo é uma falta do ser com a falta. Essa falta é falta de ser. (...) Essa falta acha-se para além de tudo aquilo que possa apresentá-lo, como reflexo num véu. O desejo, função central de toda a experiência humana, é desejo de nada que possa ser nomeado. E, ao mesmo tempo, fica sendo o nome daquilo que anima o conflito fundamental que se acha no âmago da ação humana. Se o ser fosse apenas o que é, não haveria nem sequer lugar para se falar dele. O ser se põe a existir mesmo em função desta falta. É em função da falta, na experiência do desejo, que o ser chega a um sentimento de si em relação ao ser. Nessa falta de ser, ele se dá conta de que o ser lhe falta e ele se imagina como um objeto a mais e diz: “eu sou aquele que sabe que sou”. Porém, “mesmo que ele saiba que é, não sabe nada daquilo que é”. Eis o que falta em qualquer ser”. (KEPLER,1994, p.59)
(O acontecer obscuro: cercando a histeria e a neurose obsessiva a partir do filme Esse Obscuro Objeto de Desejo, p. 12, Vanessa Souza)
Imagem: Grete Stern.
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tia van,
ResponderExcluirestou sentindo falta da senhora em YuBliss.
isso é muito real!
rs!
bj!
Hum... A Psicanálise se fechou sobre si mesma? Lendo este trecho de Kepler me parece que leio Rita Kehl, que leio Roudinesco... Enfim. Leio mais do mesmo. Mas é interessante essa literatura do Ser-da-falta e da Falta-à-ser. Uma boa arte.
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