segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Que será que será
O que é - simpatia
Simpatia é um sentimento
que nasce num só momento,
sincero no coração,
são dois olhares acesos
bem juntos, unidos presos
numa mágica atração.
Simpatia são dois galhos
banhados de bons orvalhos
nas mangueiras do jardim
bem longe às vezes nascidos
mas que se juntam crescidos
e que se abraçam por fim.
São duas almas bem gêmeas
que riem no mesmo riso,
que choram nos mesmos ais.
São vozes de dois amantes
duas linhas semelhantes
ou dois poemas iguais!
Simpatia meu anjinho
é o canto do passarinho
é o doce aroma da flor
são nuvens d'um céu de agosto
é o que me inspira teu rosto
Simpatia é quase amor!
(Casimiro de Abreu)
sábado, 28 de novembro de 2009
Objetos parciais
"O fascinante dos objetos parciais, no sentido de órgãos sem corpo, é que eles encarnam o que Freud chamou de pulsão de morte. Precisamos aqui ter muito cuidado. A pulsão de morte não é uma busca budista por aniquilação. “Quero achar a paz eterna”... Não. A pulsão de morte é quase o oposto. Ela representa a dimensão daquilo que, e ficções de terror do tipo das de Stephen King, chamamos de a dimensão do não-morto, dos mortos vivos, algo que permanece vivo mesmo depois da morte. Uma coisa que é, de algum modo, imortal na sua própria mortalidade. Segue em frente, insiste, não podemos destruí-la. Quanto mais você a corta, mais ela insiste e continua viva. Essa dimensão de uma imortalidade diabólica, é o que caracteriza os objetos parciais.
O melhor exemplo para mim é o filme Os Sapatinhos vermelhos, de Michel Powell, sobre uma bailarina. Sua paixão pela dança se materializa nas sapatilhas que a controlam. Elas são literalmente os objetos mortos-vivos".
(The pervert´s guide to cinema, Zizek)
Lei antifumo cria polêmica no Rio
Lei antifumo cria polêmica
Publicado em 26 novembro 2009
Tags: lei antifumo
No dia 18 de novembro os fumantes devem ter consumido alguns cigarros além de costume, só de raiva. Na data, foi implantada a nova lei antifumo, com a Operação Rio Sem Fumo – que fará fiscalização semelhante à da Lei Seca. Antes disso, por três semanas, fiscais das vigilâncias sanitárias estadual e municipal visitaram bares da cidade, para alertar e orientar sobre a nova lei.
Donos de bares e comerciantes estão se adaptando, sob pena de terem que pagar multas que variam de R$ 3 a R$ 30 mil, acaso seus clientes não sigam as regras do jogo. A lei proíbe fumódromos em ambientes de uso coletivo, público ou privado, incluindo toldos e marquises, mas permite o fumo em espaços isolados do espaço interno – com parede ou divisória que impeça a fumaça de circular. Supõem-se que o projeto arquitetônico de muitos lugares irão mudar. No site Rio Sem Fumo www.riosemfumo.rj.gov.br há uma lista de dúvidas e respostas sobre a lei.
No dia seguinte à implantação da lei, o Sindicato de Bares, Hotéis e Restaurantes (SindRio) obteve limiar para que seus estabelecimentos filiados não necessitem obedecer a lei. Já em São Paulo, onde lei semelhante vigora desde 7 de agosto deste ano, o governo afirma que 95% da população aprovou a medida. O governo também estima que 99,6% dos estabelecimentos está cumprindo a lei.
Contudo, há o outro lado da história – e não, a autora destas linhas não é fumante e nem aprecia cigarros. Uma das questões da proibição é em nome da saúde do outro, o qual desfruta de um “prazer” para o qual o não fumante se nega. Logo, parece ser preciso negar esse prazer ao fumante. Esta perspectiva de intolerância ao prazer do outro, bem aponta sociólogo e filósofo esloveno Slajov Zizek, reitera a situação de intolerância para com o vizinho que sempre parece aproveitar “mais do que eu”. Em nome do Bem, a história mostra-nos péssimos exemplos. De Hitler a Osama todos querem realizar o Bem, negando o preço da liberdade alheia.
Outro argumento é que o sujeito fumante aumenta os custos sociais com a saúde pública. Ele possui a liberdade de consumir algo que lhe é prejudicial. Aliás, consta em qualquer maço de cigarros o aviso do quão maléfico ele é. Pensando na perspectiva dos custos com a saúde, os cardiopatas não poderiam comer carne gorda nas churrascarias, bem assim diabéticos seriam impedidos de comer doces, pois tudo isto gera um maior risco de gastos de saúde. Todas as atividades lícitas: comer doces, carne gorda e fumar. Seria o caso de prendê-los em flagrante ou os obrigar a comer escondido em suas residências?
Equipe MalaguetaTexto: Vanessa Souza Moraes
Publicado em: http://malaguetacomunicacao.com.br/2009/11/lei-antifumo-cria-polemica/
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A falta
"A falta é, em última análise – ou em todas as análises - falta de ser. O sujeito – desejante – só deseja aquilo que lhe falta. Não existe objeto que dê conta dessa falta. Segundo KEPLER, essa falta, na mulher, por exemplo, pode ser de um filho, um homem, um pênis, dinheiro, sucesso, enfeites. Qualquer objeto que traga a ilusão – nesse caso, a ilusão trata-se de acreditar que a fantasia é real – de tamponar a falta e a angústia, que essa falta vem a provocar, ainda que não a satisfaça. A falta não é de uma coisa ou de outra, é falta de ser.
“O desejo é uma falta do ser com a falta. Essa falta é falta de ser. (...) Essa falta acha-se para além de tudo aquilo que possa apresentá-lo, como reflexo num véu. O desejo, função central de toda a experiência humana, é desejo de nada que possa ser nomeado. E, ao mesmo tempo, fica sendo o nome daquilo que anima o conflito fundamental que se acha no âmago da ação humana. Se o ser fosse apenas o que é, não haveria nem sequer lugar para se falar dele. O ser se põe a existir mesmo em função desta falta. É em função da falta, na experiência do desejo, que o ser chega a um sentimento de si em relação ao ser. Nessa falta de ser, ele se dá conta de que o ser lhe falta e ele se imagina como um objeto a mais e diz: “eu sou aquele que sabe que sou”. Porém, “mesmo que ele saiba que é, não sabe nada daquilo que é”. Eis o que falta em qualquer ser”. (KEPLER,1994, p.59)
(O acontecer obscuro: cercando a histeria e a neurose obsessiva a partir do filme Esse Obscuro Objeto de Desejo, p. 12, Vanessa Souza)
Imagem: Grete Stern.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Meu
"No horror das tragédias gregas a identificação era imediata: - Sim, aquilo pode acontecer comigo!
Elas permitiam que o espectador vivesse suas mais desmedidas paixões. Na concepção trágica, tudo o que é terrível de ser relatado, ou de ver, se passa atrás de uma porta. É quase a Outra Cena".
(O acontecer obscuro: cercando a histeria e a neurose obsessiva a partir do filme Esse Obscuro Objeto de Desejo, Vanessa Souza)
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Literatura e inconsciente
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Como?
No inesperado, o mesmo
"Freud construiu a psicanálise como teoria e técnica de tratamento dos efeitos do recalque. Para ele, todo ser humano teria tido um dia, na vida, uma experiência de satisfação, muitas vezes representada pelo aleitamento, pela presença de alguém, de um corpo, de uma situação que o completava. Ao longo da vida, o sujeito perde essa sensação de bem-estar, quando surgem situações que diferem da primeira e chega uma outra pessoa que não aquela. Ao deparar com o Outro, ele percebe que não é um, que não é inteiro. Por isso já se disse que o neurótico não gosta de inteiro. Diante do inesperado, ele se aferra ao mesmo:
- Você mudou de perfume?
(...) Na neurose acredita-se que vai recuperar algo que se perdeu. Por isso o neurótico pensa que amanhã será melhor, sempre adiando decisões. É, por excelência, o indeciso. Uma vez que decidir implica uma perda, não suporta decidir, procurando alguém que o faça por ele".
(Você quer o que deseja?, Jorge Forbes)
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Operação mística
(Lacan. O seminário, livro 7: a ética da psicanálise)
domingo, 22 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
De roupa nova!
Obrigada, Renato!
Aproveito para fazer propaganda do blog dele, claro:
http://cinefreud.blogspot.com
RR
Entrevista com Freud
– Sempre me pareceu que a psicanálise desperta em todos aqueles que a praticam o espírito da caridade cristã. Não há nada na vida humana que a psicanálise não nos permita entender. E tudo compreendido é tudo perdoado.
Freud, segundo o repórter, enfureceu-se:
– Pelo contrário. Entender não é perdoar. A psicanálise não apenas nos ensina o que temos de suportar, também ensina o que temos de evitar. Nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância do mal não é, de maneira nenhuma, uma consequência do conhecimento.
(Entrevista feita pelo jornalista americano George Viereck, em 1930)
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
...
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Instante
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
House explica?
House - sexta temporada, episódio 7
Wilson: - E sua vida é simples? Foi até a conferência médica para se acertar com a Cuddy e ela namora uma das duas pessoas que considera seu amigo. Com certeza isso é devastador.
House: - Tive uma pequena atração.
Wilson: - E seu encontro imaginário o levou ao hospital psiquiátrico.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Para começar a semana
domingo, 15 de novembro de 2009
Entrevista com Jacques-Alain Miller
Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?
Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.
P.: Então, o que é amar verdadeiramente?
J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão "Quem sou eu?".
P.: Por que alguns sabem amar e outros não?
J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers - se posso dizer - homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.
P.: "Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso...
J-A Miller: Acertou! "Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem". O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua "castração", como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.
P.: Amar seria mais difícil para os homens?
J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a "degradação da vida amorosa" no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.
P.: E nas mulheres?
J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem...
P.: Por que "cada vez mais"?
J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa.
P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?
J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo- a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.
P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela?
J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no nariz de uma mulher!
P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras!
J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina.
P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?
J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.
P.: E a fantasia masculina?
J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.
P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!
J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito po
P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?
J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante” (3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles.
P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas...
J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.
(Psychologies Magazine, outubro 2008, n° 278 - Entrevista realizada por Hanna Waar)
É preciso
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
Mário Quintana
sábado, 14 de novembro de 2009
Acorde sem fim
"- Por é que a vida não é assim?
O tom de sua pergunta não é triste, é apenas inocente. Nunca senti Luísa tão sozinha. O garçom se aproxima e ela pede mais um dry martini "para combinar com a música". Luísa inventa um breve momento de magia para se evadir da solidão. Aperto sua mão e estabeleço a cumplicidade. Até o último acorde seremos duas pessoas totalmente felizes".
(Luísa (Quase uma história de amor), Maria Adelaide Amaral - O livro)
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Fernanda Young - o VIVO, o MORTO
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Capacidade
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Visceralmente presas
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
Era uma vez
"Assim a gente pretende fazer com as pessoas, transformá-las em personagens que devem agir de acordo com nosso desejo. Assim eu quis fazer com uma certa garota. Durante anos pensei ter o controle e bastou um instante para ela me deixar perplexo. Sua vida girou numa direção inesperada e a minha se partiu em mil pedaços".
(Era uma vez o amor mas tive que matá-lo, Efraim Medina Reyes)
sábado, 7 de novembro de 2009
EJ
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Escrevo
domingo, 1 de novembro de 2009
Mais Forbes
Jorge Forbes
Texto publicado no livro "Você quer o que deseja?"
Todo mundo se queixa o tempo inteiro. Do tempo: um dia do calor, outro dia do frio. Do trabalho: porque é muito, ou porque é pouco. Do carinho: “que frieza”, ou “que melação”. Da prova: “dificílima”, ou “fácil demais”. E dos políticos, e da mulher, e do marido, e dos filhos, e dos tios, avós, primos; do pai e da mãe, enfim, de ter nascido. A queixa é solidária, serve como motivo de conversa, desde o espremido elevador até o vasto salão. A queixa é o motor de união dos grupos, é sopa de cultura social; quem tem uma queixa sempre encontra um parceiro. A queixa chega a ser a própria pessoa, seu carimbo, sua identidade: “Eu sou a minha queixa”, poderia ser dito.
A queixa deveria ser a justa expressão de uma dor ou de um mal-estar, mas raramente ocorre assim. É habitual que a expressão da queixa exagere em muito a dor, até o ponto em que esta, a dor, acaba se conformando ao exagero da queixa, aumentando o sofrimento. É comum as pessoas acreditarem tanto em suas lamúrias que acabam emprestando seu corpo, ficando doentes, para comprovar o que dizem.
A causa primordial de toda queixa é a preguiça de viver. Viver dá trabalho, uma vez que a cada minuto surge um fato novo, uma surpresa, um inesperado que exige correção de rota na vida. Se não for possível passar por cima ou desconhecer o empecilho, menosprezando o acontecimento que perturba a inércia de cada um, surge a queixa, a imediata vontade de culpar alguém que pode ir aumentando até o ponto em que a pessoa chega a se convencer paranoicamente que todos estão contra ela, que o mundo não a compreende e por isso ela é infeliz, pois nada que faz dá certo, enquanto outros, com menos qualidades, obtém sucesso. Ouvimos destes aquele lamento corriqueiro, auto-elogioso: “acho que sou bom ou boa demais para esse mundo, tenho que aprender a ser menos honesto e mais agressivo...” Conclusão: se não fossem os outros, ele, o queixante, seria maravilhoso. Por isso, toda queixa é narcísica.
Temos que acrescentar que a queixa não surge só de uma dor ou de um desassossego, mas também quando se consegue um tento, uma realização. Aí a queixa serve de proteção à inveja do outro – sempre os outros ! ... – e tal qual uma criança que esconde os ovos de páscoa até o outro ano, o queixante não declara sua felicidade para que ela não acabe na voracidade dos parceiros podendo ele curti-la em seu canto, escondido, até o ano que vem, quando o coelhinho passa de novo.
Em síntese, três pontos: a queixa é um fechamento sobre si mesmo, uma recusa da realidade e um desconhecimento da dor real. Não confundamos: é importante separar a queixa narcísica da reivindicação justa, mas isso é outro capítulo. Aliás, é comum o queixoso se valer da nobreza das justas reivindicações sociais para mascarar seu exagerado amor próprio.
Um momento fundamental em todo tratamento pela psicanálise é o dia em que o analisante descobre que não dá mais para se queixar. Não que as dificuldades tenham desaparecido por encanto, mas que o “tirem isso de mim”, base de toda queixa, perde seu vigor, revela-se para a pessoa todo o seu aspecto fantasioso. É duro não ter para quem se queixar, não ter nenhum bispo, um departamento de defesa dos vivos como tem o dos consumidores. A pessoa pode perder o rumo, não saber o que vai fazer, nem mesmo saber quem é.
Nesse ponto, a condução do tratamento há de ser precisa: há que se ajustar a palavra à vida, conciliar a palavra com o corpo, fazer da palavra a própria pele até alcançar o almejado sentir-se “bem na própria pele”. Também será necessário suportar o inexorável sem se lastimar e abandonar a rigidez do queixume pela elegância da dança com o novo.
Mais importante que uma política de acordos, que é feita a partir de concessões de posições individuais, é estar em acordo com o movimento das surpresas da vida, dos encontros bons ou maus. E tudo isto sem resignação, mas com o entusiasmo da aposta. Basta de queixas.