(...) há sempre um dia que nos perguntamos
fui eu quem me fez assim ou me fizeram?
e a resposta importa pouco, importa nada;
seja qual for, não voltará jamais o que perdeste
em alguma esquina do caminho, não sabes onde,
não sabemos como, e mesmo o choro então é pouco para
[tua dor
E ainda que compres rosas ou vás ao cinema ou cantes
uma canção qualquer, o que persiste é a morte
com seu roteiro de vermes e distâncias.
no dia seguinte ao dia em que não morremos,
iniciados na tarefa de tecer o inútil
trocamos os lençóis, lavamos o rosto, arrumamos a casa e
[partimos para a rua
sem que ninguém perceba o epitáfio sobre a fronte.
Caio Fernando Abreu in: Poesias nunca publicadas de Caio Fernando Abreu. Poema: Invernal. Record, p. 96-97.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
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