quarta-feira, 1 de abril de 2015

da - suposta - compreensão


Sofía emudeceu, olhou para ele sem vê-lo e piscou várias vezes em seguida, como se saísse de uma espécie de transe. Depois sorriu e o acariciou suave, ternamente, com aquele ar compreensivo que Rímini conhecia tão bem, como se aceitasse, magnânima, as razões que o levaram a mudar de assunto, mas deixasse evidente, ao mesmo tempo, que não concordava com elas e, até, que as considerasse infantis, filhas não da vontade, e sim do medo, ou seja, de um desejo que Rímini continuava sentindo sem ter coragem de admitir, e portanto candidatas a uma fácil refutação; e Rímini percebeu novamente como a compreensão, com sua prodigiosa capacidade de capturar, absorver, assimilar, era o verdadeiro talismã de Sofía, o antídoto que lhe permitia recompor-se com eficácia e velocidade extraordinárias, deixando para trás os desacertos, os desastres, as loucuras, para transformá-los em grandes façanhas malditas que punham em evidência a insensibilidade ou a idiotice do mundo.

Alan Pauls in: O passado. Cosac Naify, p. 393.

Um comentário:

  1. 😶 Poste alguma coisa sua. 😶 Faz um tempo que você não posta nada seu. 😊 Eu gostaria de ler... ☺ JasonJr.

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