quarta-feira, 28 de novembro de 2012

sem os lamentar, sem mencionar os nomes, sem querer dar a outrem desejo de identificá-los


"É que, muito tempo depois de saírem de nossos corações os pobres mortos, sua cinza fria continua a misturar-se, à servir de veículo às circunstâncias do passado. E, não os amando mais, sucede que, para evocar um quarto, uma alameda, um caminho onde em dado momento estiveram, sejam obrigados, a fim de encher o lugar que ocuparam, a fazer-lhes referência, sem os lamentar, sem mencionar os nomes, sem querer dar a outrem desejo de identificá-los. (...) Tão são as derradeiras e pouco invejáveis formas da sobrevivência".

(Proust in: O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. Ed. Globo, p. 262-263)

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nem lá, seja onde for.


"Talvez eu já não esteja completamente aqui. Nem lá, seja onde for. Antes de viajar, fico pairando. Talvez a alma parta antes e não saiba direito aonde ir sem o corpo. Na morte deve ser parecido".

(Caio F.)

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domingo, 25 de novembro de 2012

penso que nos encontramos num trem, e que você desceu numa parada não-prevista e eu segui


"Está magoada, Laura? Não posso fazer nada. Estou seguindo em frente, Laura, e você não está. É só isso, realmente. É uma imagem idiota, mas às vezes eu penso que nos encontramos num trem, e que você desceu numa parada não-prevista e eu segui. Só isso. Eu continuei. Depois, passei para um vagão diferente, encontrei outros passageiros. Não sei quando vai chegar a minha parada."

(Josephine Hart in: Abandono. Ed. Record, p. 189)

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sábado, 24 de novembro de 2012

é estar aceitando, inclusive o silêncio


"O sentimento de grandeza que você está perdendo talvez agora é que você o esteja adquirindo: sua predisposição para ficar calada não é propriamente uma novidade: a novidade é estar aceitando, inclusive o silêncio. É bom isso, dá mais paciência, dá compreensão, dá mais sentido às coisas - e dá grandeza"

(Carta de Fernando Sabino. Fernando Sabino e Clarice Lispector in: Cartas perto do coração. Ed. Record, p. 108)

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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ou torna pelo menos suportável


"Ela salvou-se não pela conversão a alguma seita brega, mas pela música. Sim, a arte salva. Ou consola. Ou torna pelo menos suportável."

(Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 235)

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

as palavras certas, as únicas palavras, estão à sua espera na outra margem


"A sua luta com as palavras era geralmente dolorosa e isso por duas razões. Uma era a razão comum a escritores desse tipo: atravessar o abismo existente entre expressão e pensamento; a enlouquecedora sensação de que as palavras certas, as únicas palavras, estão à sua espera na outra margem sob a névoa distante, e o tremor da ideia ainda despida reclamando por elas deste lado do abismo."

(Vladimir Nabokov in: A verdadeira vida de Sebastian Knight. Ed. Alfaguara, p.79

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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ana C.


"Linda, loura, pescoço de Audrey Hepburn mas "certo ar de Mia Farrow", como ela mesma se autorretratou em um poema... (...) Nervosa, cínica, crispada, inteligentíssima. Atenta demais, quem sabe?"

(Sobre Ana C. Cesar. Caio F. in: A vida gritando nos cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 242)

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domingo, 18 de novembro de 2012

das bofetadas


"Não apenas a educação das crianças, mas também a dos poetas, faz-se às custas de bofetadas."

(Proust in: O tempo redescoberto. Tradução de Lúcia Miguel Pereira. Ed. Globo, p. 117)

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sábado, 17 de novembro de 2012

a palavra exata


"Incrível com a palavra exata pode revelar ou arrasar uma pessoa. O que faz desaparecer a camuflagem, o disfarce, o esconderijo? Isto: a palavra certa pronunciada de modo espontâneo, impensadamente."

(Philip Roth in: A marca humana. Companhia das Letras)

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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

à revelia dessa confortável invenção humana a quem chamamos razão


"A verdade é que não há nada tão cruel como um amor perfeito. Passamos a vida inteira a arranjar suspeitos, a confrontar testemunhas. Toda a gente sabe que ele aconteceu, mas ninguém o viu. Ninguém sabe descrever-lhe o rosto. Ataque sobretudo em horas ou pessoas de plena distracção, à revelia dessa confortável invenção humana a quem chamamos razão. E ataca com escândalo. Perturba a ordem deste mundo, que é a de as pessoas se atropelarem diariamente a alta velocidade, por mais um automóvel, uma assoalhada ou uma promoção."

(Inês Pedrosa in: Nas tuas mãos. Ed. Planeta, p. 105)

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Imagem: A single man

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

inevitavelmente


"LUÍSA - Que vai ser de nós dois?
SÉRGIO - Vamos fugir para Alexandria?
LUÍSA - E procurar um quarto de frente para o mar e, à noite, fazer amor à luz do farol que não existe mais?
(Sérgio acaricia o rosto de Luísa.)
SÉRGIO - É uma pena que tudo isso um dia vá acabar porque, inevitavelmente, vai acabar com todas as coisas... e você, tão cara e necessária neste momento, vai se transformar apenas uma referência: uma mulher que marcou certo período da minha vida... e, com o tempo, só vai ficar seu nome, porque nem os traços do seu resto eu vou conseguir lembrar..."

(Maria Adelaide Amaral in: Melhor teatro. Ed. Globo, p. 214)

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

do romance


‎(Philip Roth in: Entre nós - um escritor e seus colegas falando de trabalho. Companhia das Letras, p. 104)

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

as intermitências do coração


(José Maria Cançado in: Proust - as intermitências do coração e outra ensaios. Editora UFMG)

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domingo, 11 de novembro de 2012


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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

do escrever


"Escrever é considerado uma profissão, mas não acho que seja uma profissão. Acho que qualquer pessoa que não tem necessidade de ser escritor, que pode fazer outra coisa, deve fazer outra coisa.
Escrever não é uma profissão, mas uma vocação de infelicidade.
Não creio que um artista possa jamais ser feliz."

(Georges Simenon - extraído de: O livro do escritor - Inspiração, criação, técnica, Imã Editorial)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

que hoje eu vou dizer: sim


Alegre

Hoje tem uma alegria em mim
Hoje eu acordei alegre
Mas nada mudou tanto assim
Mas qualquer coisa em mim
Urge, arde em febre
Hoje serei enfim
Quem você quiser de mim, me leve
que hoje eu vou dizer: sim
ao que quer que me espere,
me espere.

(Adriana Calcanhoto, composição que ela fez para o Caio Fernando Abreu)

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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Homem nenhum jamais bebeu champanhe após uma derrota



"Tomei o meu uísque e observei o champanhe aumentar ainda mais a alegria geral, à medida que a festa prosseguia. O uísque é uma bebida que ajuda a pôr as coisas em ordem. Homem nenhum jamais bebeu champanhe após uma derrota. Depois dessa derrota, não lhe resta mais nenhuma saída, disse a si mesmo. Também não sentia raiva ou ódio. Apenas uma aceitação, uma resignação ao sofrimento."

(Josephine Hart in: Perdas e danos. Ed. BestBolso, p. 132)

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Imagem: Jean-Baptiste Mondino

terça-feira, 6 de novembro de 2012

do inconsciente


"Esses pequenos fatos perdidos, fora de lugar, esses filhos bastardos de nossa existência humana, que podem ser utilizados como chave numa fechadura - ou uma faca numa ostra: haverá uma pérola em seu interior? Quem sabe? De alguma forma, porém, eles devem existir, esses grãos de verdade que 'escapou por pouco'. A verdade não é aquilo que proferimos de forma plenamente consciente. É sempre aquilo que 'escapa' - o erro de datilografia que acaba com tudo."

(Lawrence Durrel in: O Quarteto de Alexandria - Balthazar. Ed. Ediouro, p. 115)

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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

tem que ser - Caio F.


"Não me falhe, não nos falhe, e principalmente não se falhe, compreende? Eu sei, eu sei que dói às vezes sem remédio, e a gente também não é de ferro. Mas tem que ser..."

(Caio F. In: A vida gritando no cantos. Ed. Nova Fronteira, p. 204)

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Imagem: Tachibana Morikuni

domingo, 4 de novembro de 2012

dos sentidos


"Cada um lê os poemas como pode e neles entende o que quer, aplica o sentido dos versos à sua própria experiência acumulada até o momento em que os lê."

(Bernardo Carvalho in: Nove noites. Companhia de Bolso, p. 102)

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sábado, 3 de novembro de 2012

A vida - fora os erros de revisão.


"(...) O amor - fora do alcance da razão.
(...) A vida - fora o que não coube.
(...) O amor - fora de si.
(...) O vida - fora de ordem.
(...) O amor - do lado de fora
(...) O amor - fora o perigo duma recaída.
(...) A vida - for o que der e vier.
(...) O amor - fora o que passou despercebido.
(...) A vida - fora o que a gente esqueceu
A morte - fora de cogitação.
O amor - fora o que nunca se diz a ninguém.
(...) O amor - fora as noites passadas em claro.
(...) O amor - fora o trabalho que dá.
(...) A vida - fora os erros de revisão.
(...) A vida - fora certas crises de neurastenia.
(...) O amor - fora o que ela/ele não disse.
(...) A vida - fora o que vem nas entrelinhas.
O amor - fora o que se perdeu.
A vida - fora o tempo que se passa dormindo.
O amor - fora o tempo que se passa dormindo.
(...) A vida - fora os emolumentos.
O amor - fora algum reajuste posterior.
(...) O amor - nove foras nada.
(...) O amor - fora o que aconteceu antes.

(Paulo Mendes Campos in: O amor acaba - crônicas líricas e existenciais. Crônica: A vida, a morte, o amor, o dinheiro. Ed. Civilização Brasileira, p. 237-238)

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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

poderíamos falar de restos, o que para mim é o principal


"- X.G. - Só há uma mulher em l´Amour, já é uma diferença.
- M. D. - É a que está doente.
- X.G. - É a que está doente.
- M.D. - É um resto, é o resto de alguém.
- X.G.- Sim, e ao mesmo tempo...
- M.D. - Pode-se dizer que todos são restos.. o que os outros chamariam de restos. Visto de fora, poderíamos falar de restos, o que para mim é o principal."

(Marguerite Duras e Xavière Gauthier in: Boas falas - conversas sem compromisso. Ed. Record, p. 51)

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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

teorias sobre si mesma, como se fossem pétalas de flores


"A mania de se justificar é comum tanto aos donos de consciências inquietas quanto àqueles que buscam uma base filosófica para suas ações: em ambos os casos, porém, leva a estranhas maneiras de pensar. A idéia não é espontânea mas voulue. No caso de Justine, essa mania levou a um fluxo perpétuo de idéias, especulações sobre ações passadas e presentes, que exerciam sobre sua mente a pressão de uma corrente fortíssima nos muros de um dique. E apesar de todo o triste desperdício de energia nesse sentido, de toda a engenhosidade apaixonada que Justine aplicava ao examinar-se, era difícil ter alguma confiança em suas conclusões, pois estavam sempre mudando, sem descanso. Espalhava a seu redor teorias sobre si mesma, como se fossem pétalas de flores."

(Lawrence Durrel in: O Quarteto de Alexandria - Justine. Ed. Ediouro, p. 127)

Imagem: John Minh Nguyen

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