Imre, onde você estiver, preso-livre ou livre-preso, na rua, na prisão, no quarto de outra mulher, numa casa abandonada no meio de alguma estrada, na Áustria, para onde você não fugiria, porque não suporta nem pronunciar a palavra fuga (que não precisa ser ruim, porque fugir é o lugar do homem e até ficar tantas vezes é fugir), porque para você as palavras sempre querem dizer só uma coisa e você não percebe que elas querem dizer muitas - me ouça, do jeito que você conseguir: com as mãos, com os olhos, com os dedos. A palavra que eu te disse quando não conseguia decidir se vinha ou não para cá foi szia, aquela mesma que eu sempre falava e você fingia que ficava conspícuo mas eu percebia que você estava rindo disfarçando, do mesmo jeito que você ria quando eu te beijava nos dedos, no nariz, nos lóbulos, nos fios dos cabelos, no osso ilíaco e você ficava envergonhado mas também feliz. Essa palavra significa tanto "oi" como "tchau". Eu disse szia porque, de uma forma que nem eu sabia muito bem qual era, queria que você me ajudasse a decidir. Mas você não entendeu daquela vez e nem entende agora; você decidiu por mim que aquilo era "tchau" e praticamente me expulsou; resolveu no meu lugar... (...) Me ouça, onde quer que você esteja, (...) que, se um dia escrevessem alguma coisa, seria: "Dessa vez eu não me atrasei", porque você se atrasava para tudo e eu nunca; foi por isso que eu disse szia. Não podia me atrasar ao decidir se ficava ou ia embora, depois que eles chegaram e eu vi que você iria ficar até ser preso-livre...
Noemi Jaffe in: Írisz: As Orquídeas (Cia. das Letras).
www.vemcaluisa.blogspot.com.br
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
So if you have something to say, say it to me now