"É apenas um carro", disse Kováč, debaixo do semáforo fechado.
"Talvez no resto do mundo. Não na Alemanha."
Kováč riu. "Pois a mim me agrada. É compacto, econômico, livre da pretensão fálica alemã."
João Pedro enrugou a testa, Phallische o quê?
"Complexo de potência", começou a esclarecer Kováč, mas deixou por isso mesmo, acelerou (mas não muito), duas quadras ficaram para trás.
"Macht-Komplex?", repetiu, cuidadoso, duas quadras depois, João Pedro.
Kováč manteve o silêncio por mais algumas curvas e então disse: "Um grande pensador francês, Rôlãn Bárt, afirmou certa vez que os franceses são uma civilização de vergonha e os alemães, de culpa". Pequena pausa, semáforo. "Os automóveis alemães são disso um exemplo".
Grande pausa, João Pedro: "E o que quê disso quer dizer?".
Kováč deu de ombros.
(Caio Yurgel in: Samba sem mim. Ed. Benvirá)
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
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